Do primitivo jornal de Coimbra (pois nada menos de cinco se publicaram já
com este título), verdadeira revista literária e científica com a sede
em Coimbra mas impressa em Lisboa de 1812 a 1820, e repositório
de utilíssimas notícias não apenas para a cidade de que tomou o título,
extraímos para os leitores do Arquivo as páginas que se seguem, com o
registo do movimento marítimo da barra de Aveiro durante o ano de 1815.
Não é esta a primeira vez que ao prestimoso
"Jornal de Coimbra" o Arquivo
solicita elementos de interesse histórico para o distrito, que em mais
parte alguma encontra. Ainda não há muito de lá se extraiu a Memória
descritiva dos trabalhos empregados na abertura da barra, de LUÍS GOMES
DE CARVALHO (vol. XIII da nossa revista); e várias outras referências,
lá registadas igualmente, de vida local, temos apontadas para oportuna
publicação.
Sob qualquer dos aspectos que encaremos a estatística hoje transcrita,
ela é interessante e fornece valiosos elementos: − nomes e categorias de embarcações, quem as comandava, a carga que traziam e a que levavam, proveniência e destino,
sondagens feitas à barra registando a sua profundidade na época (o que
para a história das vicissitudes por que ela tem passado apresenta
enorme importância), tudo, enfim,
se apontou com verdadeiro senso prático e perfeito conhecimento do real
valor de semelhante registo.
Com elementos desta natureza, se possível se tornasse obtê-los para toda
a multissecular existência da barra ao serviço do tráfego marítimo,
outra, certamente, seria a sua história bem como a da região a que está
naturalmente adstrita; mas estatísticas deste género com dificuldade
aparecem, e forçoso se torna ir arquivando apenas, pacientemente, uma
ou outra que se nos depare.
/
193 /
[Vol.
XV - N.º 59 - 1949]
Na própria actualidade estas
dificuldades se verificam;
logo de inicio pretendeu o Arquivo registar, para futuro, o movimento
anual da barra e solicitou a respectiva documentação; por muito
estranho que pareça, e apesar de todos os prometimentos feitos, nunca
lhe foi possível obtê-la.
A vida de hoje cada vez compreende menos a atitude do historiador, e de
todo vai banindo dedicações por qualquer ideal desinteressado, sem
contrapartida em resultado material imediato. É por isso que em
variados sectores da vida nacional se conhecem melhor períodos mais
afastados, mas de documentação abundante, fonte insubstituível de toda
a história e base de qualquer organização que se pretenda.
*
Percorrendo, pois, o raríssimo
"Jornal de Coimbra", núm. XXXVIII, parte
II, até ao num. XLI, parte I, dele recolhemos quanto segue, subordinado ao título
de
«DlARIOS DAS EMBARCAÇOÊS, QUE ENTRARAM E SAIRAM ,
NA BARRA DE AVEIRO DESDE JANEIRO ATÉ O FIM DE JULHO
[E DEPOIS ATÉ O FIM DE DEZEMBRO] DE 1815, PELO
DESEMBARGADOR FERNANDO AFONSO GIRALDES»
ART. I
«O Desembargador
Superintendente da Barra de Aveiro, Fernando Affonso Giraldes, que de todos os meios, que se achão ao seu
alcance, nenhum omitte que possa concorrer
para a melhorar e acreditar, remetteo-nos o seguinte
Diario das Embarcações que entrárão, e sairão pela Barra de Aveiro,
desde Janeiro até último de Maio do corrente anno de 1815 : suas cargqs,
e destinos, e sondas tomadas em cada mez.
JANEIRO
A 4. |
Sahio o Cahico Sr. Jesus e S. Antonio, para o Algarve,
em lastro, Mestre Antonio Gonçalves.
|
D.º |
Entrou o Hiate Divina Providencia, vindo de Vigo,
em lastro, Mest. Lauriano Serrão. |
A 8. |
Sabio o Hiate Maria Diligente, para Lisboa, com
madeira e ferragem, M. Manoel Rodrigues Seda.
|
D.º |
Sahio o Hiate Primavera e Maria Diligente, para o
AIgarve, com carga de madeira, M. Lourenço José.
|
A 17. |
Sahio o Hiate Senhora da Victoria, para o Porto, com
sal, M. Lourenço Domingues. |
D.º |
Sahio o Hiate Divina
Providencia, para Caminha, com sal, M. Lauriano Serrão. |
A 19 |
Entrou o Hiate Santa Cruz, vindo
do Porto, em Iastro,
M. ManoeI Fernandes. |
|
Entrárão 2, sahirão 5, Total 7. |
No dia 19 sondou o Pilôto Mór com os Pilotos do N.º
a
Barra, e achou 16 palmos na baixamar, e 28 na preamar.
FEVEREIRO
Neste mez não entrou, ou sahio embarcação alguma:
he porém notaveI a extraordinaria sonda, que o Piloto Mór com os mais
Pilotos do N.º achárão no banco do mar em o dia 16, sendo
de 18 palmos em baixamar, e na preamar de 40;
a qual próva o bom resultado das Obras d'esta Barra, indisputavelmente uma das melhores do Reino, e cuja frequencia
e crédito de dia em dia cresce, apelar da emulação de outros
Portos contra este.
MARÇO
No 1.º |
Entrou o Hiate Paquete, vindo do Porto, com carga
de milho para a Praça, M. José Carneiro.
|
D.º |
Entrou o Hiate Flor de Setubal, vindo de Setubal,
com sardinha, M. Joaquim José Cardeal.
|
D.º |
Entrou o Hiate S. Gonçalo, vindo de Vianna, com
carga de milho, M. Christovão Castel.
|
A 6. |
Entrou a Rasca Senhora da Conceição, vinda de Peniche, com sardinha, M. Henrique Ferreira.
|
D.º |
Entrou o Hiate Senhora da Nazareth, vindo de Vianna,
com milho, M. João José Vianna.
|
A 16. |
Sahio o Hiate Santa Cruz,
para o Porto, com sal,
M. Manoel Fernandes. |
D.º |
Sahio o Hiate Paquete, para
o Porto, com sal, M. José
Carneiro. |
D.º |
Sahio o Hiate S. Gonçalo, para Vianna, com sal,
M. Christovào Castel. |
D.º |
Entrou o Hiate Foz do Douro, vindo do Porto, com milho, M. João Gomes de Andrade.
|
A 17. |
Entrou o Hiate Harmonia, vindo de Cardiffe, com
carga de feno, para a Praça, M. José Antonio Vianna.
|
D.º |
Entrou o Hiate Bom Jesus de Fão, vindo de Vianna,
com milho, M. Roque Gonçalves.
|
A 20. |
Entrou o Hiate Maria diligente e
Primavera, vindo
de Lisboa, com vários generos para a Praça, M. Manoel Rodrigues Secio.
|
D.º |
Sahio a Galiota Senhora Izabel, para Riga, com sal,
Cap. Dark Debocr. |
|
Entrárão 9, sabirão 4. Total 13. |
No dia 20 sondando a Barra o Piloto Mór com os mais
Pilotos do N.º achárão 18 palmos em baixamar, e 30 na preamar.
ABRIL
A 11. |
Entrou a Rasca Senhora do Carmo, de Lisboa, com
milho, M, Joaquim Gomes. |
A 18. |
Sahio a Rasca Senhora do Carmo, para Lisboa, em
lastro, M. Joaquim Gomes. |
A 19. |
Sahio o Hiate Bom Jesus de Fão, para Vianna, com
sal. M. Roque Gonçalves. |
D.º |
Sahio o Hiate Senhora da Nazareth, para Vianna, com
sal. M. João José Vianna. |
D.º |
Sahio o Hiate Foz do Douro, para a Russia, com
vinho, M. João de Andrade. |
D.º |
Sahio o Hiate Flor de Setubal para a Figueira, em
lastro de sardinha, M. Joaqujm José Cardeal.
|
D.º |
Sahio o Bergantim Senhora Dorothea, para a Russia,
com sal, Cap. Carlos Goth. Feicher,
|
A 21. |
Sahio a Rasca Senhora dá
Conceição, para a Ericeira, em lastro, M. Henrique Ferreira.
|
A 22. |
Entrou o Hiate Espirito Santo, vindo de Espózende,
com pedra e cal. . M. Manoel Milhares.
|
A 28. |
Sahio o Hiate Espirito Santo, com
a mesma carga
supra, por entrar de arribada, M. o sobredito.
|
D.º |
Sahio o Hiate Harmonia, para o
Porto, com sal,
M, João Antonio Vianna. |
A. 30 |
Entrou a Rasca Senhora do
Carmo, vindo de Lisboa,
com milho. M. João Gomes. |
D.º |
Entrou o Hiate Santissimo Sacramento, vindo de
Lisboa. coro bacalháo para a Praça, M. Francisco Garcia. |
|
Entr. 4, sah. 9., Total 13. |
No dia 28 sondando o Piloto Mór,
e os do N.º a Barra, achárão em baixamar 18 p. e na preamar 30.
/
196 /
MAIO
A 8. |
Entrou a Rasca Senhora da
Conceição vinda de
Laraxe, com cavalla, M. Hipolito Ferreira.
|
A 9. |
Entrou o Hiate S. Bento, vindo do Porto, com
ferro
e arroz para a Praça, M. Francisco da costa.
|
A 10. |
Sahio o Hiate Maria Diligente, para Lisboa, com ferragem e madeira, M. Manoel Rodrigues Secio.
|
A 14. |
Entrou o Hiate Valor de Portugal, vindo do Porto,
em lastro, M. Francisco de Carvalho.
|
D.º |
Entrou o Hiate Senhora da
Agonia, vindo do Porto,
em lastro, M. Antonio Baptista. |
D.º |
Entrou o Hiate
Nova Restauração, vindo do Porto,
com milho, M. João Gomes Caldeira.
|
A 15. |
Entrou o Hiate Santa Cruz,
vindo do Porto, em lastro,
M. Manoel Rodrigues. |
A 16. |
Entrou a Rasca Senhora das Necessidades, vindo de Lisboa, com milho e arroz,
e rapé para a Fábrica,
M. Antonio de Barros.
|
D.º |
Entrou o Hiate Bom Jesus, vindo do Porto, em lastro, M. José Pereira dos Reis. |
A 17. |
Entrou o Hiate Boa Fortuna, vindo do Porto,
em
lastro, M. Rodrigo Gonçalves. |
A 18. |
Sahio o Hiate Santissimo Sacramento, para S. Martinho,
em lastro, M. Francisco Garcia.
|
A 19. |
Sahio o Hiate S. Bento, para o Porto, com sal,
M. Francisco da Costa. |
D.º |
Sahio
o Hiate Senhora da Agonia, para o Porto, com
sal, M. Antonio Baptista. |
A 25. |
Sahio a Rasca Senhora das Necessidades, para o Porto,
com sal, M. Antonio de Barros.
|
A 24. |
Sahio a Rasca Senhora do Carmo, para Lisboa, com
madeira, M. Joaquim Gomes. |
D.º |
Entrou a Galiota Sueca Frederik-Lycha. vindo de
Stockolmo, com carga de ferro para a Praça, Cap.
Fal. Hause.
|
A 25. |
Sahio o Hiate
Santa Cruz, para o Porto, com sal,
M. Manoel Rodrigues. |
D.º |
Sahio o Hiate Valor de Portugal, para o Porto,
com sal, M. Francisco Carvalho. |
D.º |
Sahio o Hiate Bom Jesus, para
o Porto, com sal. M. José Pereira dos Reis. |
A 26. |
Sahio
o Hiate Nova Restauração, para o Porto, com
sal e madeira, M. João Gomes Caldeira.
|
D.º |
Entrou o Bergantim lnglez Emilia of Burbue, de Bristol, com ferro para a Praça, Cap. Gilmon.
|
A 27. |
Entrou o Hiate Boa Hora, do Porto, em lastro,
M. Manoel Ignacio. |
A 28. |
Entrou o Hiate Paquete, de Vianna, em lastro, M. José
Joaquim. |
A 30. |
Entrou a Rasca Senhora das Necessidades, de Lisboa, com milho, M. Jeronimo da Silva.
|
A 31. |
Entrou o Hiate
S. Bento, do Porto, em lastro, Francisco da Costa. |
D.º |
Entrou a Rasca Senhora das Necessidades, do Porto,
em lastro, M. Antonio de Barros.
|
|
Entr. 16, sah. 10. Total 26. |
Sondou a Barra o Piloto Mór com os Pilotos do N.º, e achárão no dia 26 em baixamar 18 p. e na preamar 30.
Entrárão desde Janeiro até Maio inclusive
. . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . |
31 |
E sahirão . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
. . . |
28 |
|
|
Total . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
. . |
59 |
A maior sonda nestes cinco mezes foi no preamar
. . . . . . . . . . . . . . . . . 40 p.
E embaixamar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18p.
A menor em preamar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 p.
E embaixamar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . 16p.
JUNHO
4. |
Entrou o Hiate Valor de Portugal, vindo do Porto, em
lastro, Mestre Francisco de Carvalho.
|
5. |
E a Rasca Victoria Jesus Nazareth, de Lisboa, com
milho, M. Jorge da Costa. |
9. |
Saío a Rasca Senhora das Necessidades, para a Figueira, em lastro, M.
Jeronimo da Silva.
S. o Hiate Boa-hora, para o Porto com sal, M. Manoel Ignacio.
S. o Hiate Valor de Portugal, para o Porto, com sal, M. Francisco de
Carvalho.
E. a Rasca Senhora do Carmo, de Lisboa, com milho, M. Joaquim Gomes.
|
10. |
S. o Hiate Paquete de Vianna, para o Porto, com sal, M. José
Joaquim.
S. o Hiate S. Bento, para o Porto, com sal, M. Francisco da Costa.
E o Bergantim Sueco teres, de Stockolmo, com ferro, Cap. D. G. Wagner.
|
15. |
E. o Hiate Maria Diligente, de Lisboa, com milho e
arrôz, M. Manoel Rodrigues de Seia.
|
22. |
E. o Hiate S. Bento, do Porto, em lastro, M. Francisco
da Costa. |
23. |
E. O Hiate Boa-hora, do Porto, em lastro, M.
Manoel
Ignacio. |
24. |
S. o Bergantim Inglez Emilia of Bust, para o Porto, em lastro de
ferro. Cap. J. Gilmon.
S. a Galiota Sueca Freder of Lyck, para Malage, em
lastro, Cap. F. F. Hauje.
|
25. |
S. o
Hiate Boa fortuna, para o Porto, com sal, M. Rodrigo Gonçalves. |
28. |
S. a Rasca Victoria Jesus Nazareth, para Lisboa, com ferragem e
madeira, M. Jorge da Costa.
E. a Rasca Conceição e Almas, de Lisboa, com milho
e centeio, M. João Luiz.
|
29. |
E. a Escuna Ingleza Shooner Amit; de Londres, com linho, Cap. L. Privett.
E. o Bergantim Sueco Ol. Lisort, de Stockolmo, com ferro, Cap. M. Linde.
|
30. |
E. a
Rasca Senhora da Boa Viagem, com centeio,
M. Anastacio Nunes. |
|
Entr. 12. saír. 10. Total 22. |
Sonda da Barra neste mez B.
m. 17 palmo P. m. 29 p.
JULHO
1. |
S. o
Hiate Maria Diligente, para Caminha, com sal,
M. Manoel Rodrigues Seis.
S. o Hiate Boa-hora, para o Porto, com sal, M. Manoel Ignacio.
E. a Rasca Conceição e Almas, de Larache, com cavall. M. José Francisco
Moloeiro.
|
2. |
S. a
Rasca Senhora do Carmo, para Lisboa, com madeira, M. Joaquim Gomes. |
3. |
E. a Rasca Senhora das Necessidades, de Villa
do Conde,
em lastro, M. Jeronimo da Silva.
|
5. |
S. o Hiate S. Bento, para o Porto, com sal, M. Francisco da Costa.
E. o Hiate Valor de Portugal, do Porto, em lastro, M. Francisco de
Carvalho.
|
6. |
S. a Rasca Senhora da Boa Viagem, para a Figueira,
em lastro, M. Anastacio Nunes.
|
7. |
S. a Rasca Senhora das Necessidades, para Villa
do
Conde, com sal, M. Jeronimo da Silva.
|
8. |
E. a
Escuna Flor de Aveiro, do Porto, em lastro, Cap.
Manoel Marques de Seia. |
9. |
S. a Rasca Senhora das Necessidades, para Lisboa, com
madeira, M. Agostinho da Silva.
|
10. |
E. a Galiota Sueca Neptunus, de Stockolmo,
com ferro,
Cap. John Mollestren. |
13. |
E. o Hiate Maria Diligente, de Caminha, em lastro,
M. Manoel Rodrigues de Seja. |
15. |
S. o Hiate Valor de Portugal, para o Porto, com sal, M. Francisco
Carvalho.
S. a Rasca Conceição e Almas, para a Ericeira, com sal, M. José
Francisco Moloeiro.
|
17. |
E. a Rasca Conceição e Almas, de Lisboa, com milho,
M. Hilario da Costa. |
20. |
E. o Hiate S. Bento, do Porto, com milho, M. Francisco da Costa.
E. a Rasca Senhora das Necessidades, de Lisboa, com milho, M. José da
Costa Gaspar.
|
21. |
E. o Caixa marim Hespanhol, N. S. do Carmo, de Vigo,
em lastro, Cap. Bernardo Rey.
|
22. |
S. o Bergantim Sueco Ceres, para Setubal, em lastro,
Cap. D. G. Wagner.
S. a Rasca Conceição e Almas, para o Porto, com sal,
M. João Luiz.
|
23. |
S. a Escuna Ingleza Shooner Amit, para
o Porto, com sal, Cap. L. Privett.
E. a Galiota Sueca Hohlfalt, de Stockolmo, com ferro,
Cap. T. P. Nahlgren.
|
24. |
E. o Hiate Boa-hora, do Porto, com milho, M. Manoel Ignacio.
E. a Rasca Senhora do Rozario e Almas, arribada do Porto, com carvão, M.
Joaquim de Sena.
|
25. |
E. o Bergantim Hesp. N. S. das Dores, de Vigo, em lastro, Cap. Pedro Relobr.
E. o Bergantim Hesp. S. Romão, de Vigo, em lastro, Cap. José Suanel.
E. o Hiate Feliz Aurora, da Povoa de Valezino, em lastro, M. Ignacio da
Nova.
|
26. |
S. o Bergantim Sueco
Ol. Licort, para Setubal, em lastro. Cap. M.
Linde.
S. a Rasca Senhora do Rozario e Almas, para a Ericeira, com carvão, M.
Joaquim de Sena.
|
27. |
S. a Rasca Senhora das Necessidades, para Peniche,
em lastro, M. José da Costa Gaspar.
|
29. |
E. o Hiate Senhor da Pauta, do Porto, em lastro,
M. Francisco Luiz de Oliveira. |
30. |
E. o Hiate Valor de Portugal, do Porto, em lastro, M. Francico
Carvalho.
E. o Hiate Diligente, do Porto, em lastro, M. Antonio
Francisco Nunes. |
|
Entr. 19, saÍr. 15. Total 34. |
Sonda da Barra n'este mez: B. m. 17 p. P. m. 29 p.
/
200 /
AGOSTO
A. 1 |
Entrou a Chalupa Prudente José do Egypto, da Povoa do Valezim,
em lastro, Mestre Manuel Francisco Maravilhas.
|
A. 3 |
Saio o Caixa Marim N. S. das Dores, para as Asturias, com sal, Mest. Bernardo Rei. |
D.º |
S. o Hiate Maria Diligente, para Lisboa, com madeira,
e varios generos, M. Manoel Rodrigues de Seia.
|
A 5 |
E. o
Hiate Espirito Santo, da Povoa de Valezim, em lastro, M. Manoel
Milhares. |
A. 6 |
E. o Hiate Boa Nova Flôr do Mar, de Galliza, em
lastro, M. José Moreira Alexandre. |
A 10 |
E. o Hiate Bom Jesus e Boa Ventura, do Porto, em
lastro de varios generos, M. Manoel Pereira dos Reis.
|
A. 11 |
E. o Hiate Senhora do Rozario, do Porto, em lastro,
M. José Bernardo. |
D.º |
E. a Rasca Conceição e Almas, de Caminha, em lastro, M. Domingos da Costa Ferreira.
|
A 12 |
E. o Hiate Ramalhete, do Porto, em lastro, M. Manuel
José Fernandes. |
A 17 |
E. o Hiate Ascensão, do Porto, em lastro, M. José
Nunes. |
D.º |
S. o Hiate Valor de Portugal, para a Figueira, com
vinhos, M. Francisco Carvalho. |
D.º |
S. a Rasca Conceição e Almas, para Peniche, com
sal, M. Hilario da Costa. |
A 18 |
S. a Chalupa Prudente José do Egypto, para Villa do
Conde, com sal, M. Manoel Francisco Maravilhas.
|
D.º |
S. o Hiate Espirito Santo, para Villa do Conde, com
sal, M. Manoel Milhares. |
D.º |
S. o Bergantim Hespanhol S. Romão, para Bilbão,
com sal, M. D. Pedro Reloba. |
D.º |
S. o Bergantim Hespanhol Senhora das Dores, para
Bilbão, com sal, M. D. José Soares de Loia.
|
A 20 |
E. o Hiate Valor de Portugal, da Figueira, sem lastro,
M. Francisco Carvalho. |
A 24 |
E. o Hiate Tres Reis, do Porto, em lastro de varios
generos, M. José da Costa Martins.
|
A 25 |
E. o Bergantim Trocador do Porto, em lastro de varios
generos, Cap. José Luiz do Rego.
|
D.º |
S. a Rasca Conceição e Almas, para o Porto, com sal,
M. Domingos da Costa Ferreira. |
D.º |
S. o Hiate Boa Nova Flôr do Mar, para o Porto, com
sal, M. José Moreira Alexandre. |
D.º |
S. o Hiate Bom Jesus e Boa Ventura, para o Porto,
com sal, M. Manoel Pereira dos Reis.
|
A 27 |
E. o Hiate Espirito Santo, de Villa do Conde, em
lastro, M.. Manoel Mílhares. |
D.º |
E. a Chalupa Prudente José do Egypto, de Villa do
Conde, em lastro, M. Manoel Francisco Maravilhas.
|
|
Entrárão 13, sairão
11: Total 24. |
No dia 25 sondou o Piloto Mór com os mais Pilotos a Barra, e acharão em
B. m. 15 palmo e P. m. 24 palm.
SETEMBRO
A 1 |
S. a Escuna Flôr de
Aveiro, para o Porto, com sal, Cap. Manoel Marques de Seia. |
D.º |
S. o Hiate Feliz Aurora, para o Porto, com sal,
M. Ignacio da Nova. |
D.º |
S. a Galiota Sueca Neptunus, para Malage, em lastro,
Cap. John Mollestren. |
A 4 |
E. o Hiate Bom Jesus e Boa Ventura, de Villa do Conde, em lastro, M. Manoel Pereira dos Reis.
|
D.º |
E. a Rasca Conceição e Almas, de Villa do Conde,
em lastro, M. Domingos da Costa Ferreira.
|
A 6 |
E. o Caixa
Marim Hespanhol Santa Clara e Almas,
da Galliza, em lastro, M. Manoel Bravo.
|
A 7 |
S. o Hiate Senhora do Rozario, para o Porto, com
sal, M. José Bernardo. |
D.º |
S. a Chalupa Prudente José do Egypto, para Villa do Conde, com sal, M. Manoel Francisco Maravilhas.
|
D.º |
S. o Hiate Boa Hora, para o Porto, com sal, M. Manoel
Ignacio. |
A 8 |
E. a Rasca Conceição e Almas, da Ericeira, em lastro,
M. Hilario da Costa. |
D.º |
E. o Hiate Maria Diligente, de Lisboa, com carga de
varios generos, para a Praça, M. Manoel Rodrigues
de Seia.
|
D.º |
S. o Hiate Ramalhete, para o Porto, com sal,
M. Manoel José Fernandes. |
D.º |
S. o Hiate Espirito Santo, para Villa do Conde, com
sal, M. Manoel Milhares. |
D.º |
S. o Hiate Senhor da Pauta,
para o Porto, com sal,
M. Francisco Luiz de Oliveira. |
D.º |
S. o Hiate Ascensão, para o Porto, com sal, M. José
Nunes. |
D.º |
S. o Hiate Diligente, para o Porto, com sal, M. Antonio Francisco Nunes. |
D.º |
S. o Hiate S. Bento, para Vianna, com sal, M. Francisco da Costa. |
A 9 |
E. o Bergantim Americano Governor Hophbus,
do Porto, em lastro, Cap. Charl. Stewart. |
A 14 |
E. o
Hiate Bom Jesus de Fão, de Vianna, em lastro.
M. João José de Oliveira. |
D.º |
E. o Hiate Boa Nova Flôr do Mar, do Porto, em lastro, M. José Moreira Alexandre. |
D.º |
E. o Hiate Valor de Portugal, para o Porto, com sal,
M. Francisco Carvalho. |
D.º |
S. o Hiate Tres Reis, para o Porto, com sal, M. José
da Costa Martins.
|
A 24 |
E. o Hiate Senhpr do Bom Fim,
de Vigo, em lastro.
M. José Antonio Gonçalves. |
|
Entrárão 9 saírão 14: Total 23. |
OUTUBRO
A 1 |
S. a Rasca Conceição e Almas, para o Porto,
com
sal, M. Domingos da Costa Ferreira.
|
A 2 |
S. o Hiate Maria Diligente, para o Algarve, em lastro, M. Manoel Rodrigues de Seia. |
A 3 |
S. o Bergantim Trocador, para o Rio de Janeiro,
com vinhos e outros generos, Cap. José Luiz do Rego.
|
A 4 |
E. o Hiate Mercurio de Vianna, em lastro, M. Francisco da Silva. |
A 5 |
S. a Galiota Sueca Dcifw-Selfart, para Stockolmo,
com sal, Cap. J. D. P. Selgren. |
A 6 |
S. o Hiate Tres Reis, para o Porto, com
sal, M. José
da Costa, Marf. |
A 7 |
S. o Hiate Valor de Portugal, para o Porto, com sal,
M. Francisco de Carvalho. |
A 8 |
S. o Hiate Senhora do Amparo, para o Porto, com
sal, M. Bernardo José Martins. |
A 9 |
S. o Hiate Senhor do Bom Fim, para Vianna, com
sal, M. José Antonio Gonçalves. |
A 10 |
S. o Hiate Bom Jesus de Fão, para o Porto, com sal,
M. João José de Oliveira. |
A 11 |
E. o Hiate S. Bento, de Vianna, em lastro, M. Francisco da Costa. |
A 12 |
E. o Hiate Victoria, do Porto, com generos para a
Praça, M. Lourenço Domingues. |
A 12 |
E. o Hiate Amizade, de Lisboa, com generos e fazenda
para a Praça. M. Basylio José de Sousa.
|
A 14 |
S. o Hiate Mercurio, para o Porto, com sal, M. Francisco
da Silva. |
A 15 |
S. o Hiate S. Bento, para o Porto, com sal, M.
Francisco da Costa. |
A 16 |
S. o Hiate Victoria, para o Porto, com sal, M. Lourenço Domingues. |
|
Entrárão 4,
sairão 12: Total 16 |
Nos dias 25 e 26 sondando o Piloto Mór e mais Pilotos a Barra, achárão
em B. m, 18 p. na P. m. 25 a 26 p.
NOVEMBRO
A 1 |
E. o
Hiate Tres Reis, do Porto, com fazenda para a
Praça, M. José da Costa Martins.
|
A 4 |
S. a Rasca Conceição, para o Porto, com sal, M. Hilario da Costa. |
A 10 |
S. o Hiate
Bom Jesus, para o Porto, com sal,
M. Manuel Pereira dos Reis. |
A 11 |
S. o Bergantim Americano Governor Hophlus, com
sal, para Rhod. Hand, Cap. CharIes Stewart.
|
A 16 |
E. o Hiate
Valor de Portugal, do Porto, em lastro,
M. Francisco de Carvalho. |
A 17 |
E. o Bergantim Sueco Freeden, de Gothemburgo,
com carga de ferro, Cap. Thals Olisson.
|
A 19 |
E. o Hiate Senhora do Amparo, do Porto, em lastro,
M. Bernardo José Martins. |
A 20 |
E. a ChaIupa Americana Wllms. da Terra Nova, com
carga de Bacalháo, Cap. Wlms Blak Halle.
|
|
Entrárão 5, saírão 3: Total 8. |
Sondando o Piloto Mór e mais Pilotos a Barra no dia
11, e achárão na B.
m. 20 p. na P. m. 27. e no dia 30 em B. m. 18 p., na P. m. 25.
DEZEMBRO
A 7 |
S. o Bergantim Sueco Freeden, para Malage, em lastro,
Cap. Thals Olisson. |
D.º |
S. o Hiate Amizade, para Lisboa, com carga da Praça,
M. Basylio José de Sousa. |
D.º |
S. a Chalupa Wiliams,
para o Porto, com sal, Cap.
Wiliams Blak Halle. |
A 14 |
E. a Galiota Hollandeza Vigilancia, vinda do Porto,
em lastro, Cap. G.. T. Roskamp. |
A 19 |
E. o Brigue Prussiano Neptune,
por arribada, vindo
do Porto, Cap. John Araut Blenk. |
|
Entrárão 2, sairão 3: Total:
5 |
Sondando o piloto Mór e mais Pilotos a Barra no dia 17 achárão na B.
m. sobre o Banco 14 p. na P. m. 22 p.
A totalidade de entradas e saídas no decurso de todo o ano de 1815 foram
191 Embarcações, e d'estas com sal de Aveiro sairão 66; as restantes
com vinho, madeira e outros generos do Paiz.
Desde Janeiro até Maio
inclusive entrárão . . |
31 |
sairão |
28 |
De Junho até Julho incl.
. . . . . . . . . . . . . . . |
31 |
. . . . . . . |
25 |
De Agosto até Desembro incl.
. . . . . . . . . . . . |
33 |
. . . . . . . |
43 |
Total . . . . . . . . . . . . |
95 |
. . . .
. . . |
96 |
|
|
|
|
Maior Sonda no dito anno,
em Baixa mar |
. . . . . . . . . . . .
. . |
28 palmos |
Em Preamar . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
. . . . . . . . . . . .
. . |
40 ditos. |
Menor Sonda no mesmo em
Baixa mar . . . . . |
. . . . . . . . . . . .
. . |
14 ditos. |
Em Preamar . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
. . . . . . . . . . . .
. . |
22 ditos. |
*
O desembargador Fernando Afonso Giraldes não limitou as suas informações
locais ao relato do movimento marítimo da barra em 1815.
Como superintendente que era «na parte económica e civil» das obras da
barra, acompanhava com verdadeiro interesse todas as diligências levadas
a efeito para o melhoramento das condições de navegação, que se
estenderam não só à Ria como ao próprio Vouga, de todas essas
importantes operações revelando particular conhecimento.
E assim, quando remeteu ao Jornal de Coimbra a nota do movimento da
barra de Agosto a Dezembro de 1815, para complemento da anteriormente
publicada, fê-la acompanhar da carta que se segue e do relato da
rectificação então operada na parte do álveo do Vouga que ficou sendo
conhecida velo nome de Rio Novo do Príncipe.
Tudo isso hoje nos interessa muito recordar.
É do conhecimento de
todos estes dispersos elementos que a história local um dia será
possível, sem fantasias deformantes
nem afirmações insubsistentes.
«ART. XII
Senhores Redactores do Jornal de Coimbra.
Como se tenhão dignado até o presente de publicar no seu interessante
Jornal várias notas e opusculos relativos
a Aveiro, e sua nova Barra
(a): he dever, que me-incumbe,
/
205 /
rogar-lhes a continuação de iguaes publicações, e por isso lhes-envio
agora, primeiramente uma abreviada exposição
sobre a abertura do Rio Novo do Principe, effectuada em
Dezembro passado; em segundo e último lugar o mappa
restante das Embarcações, que entrárão e sairão por ésta Barra, desde
Agosto até o fim do anno, conforme me foi dado pelo Segundo Tenente
Pilote Mór da Barra José Dias Ferreira, a fim de que ao Público sejão
mais geralmente notorios os desvellos do Governo d'estes Reinos
em beneficio desta Comarca, e que os Encarregados da Comissão das Obras
da Barra, e suas dependencias, com efficacia
desempenhão os seus patrioticos desejos. He com todo o
apprêço e reconhecimento que me assino
seu Venerador muito obrigado
Aveiro 16 de Fevereiro de
1816.
Fernando Affonso Giraldes
(a)
Entre os Escritos relativos a Aveiro ha a Memória
descriptiva, ou Noticia circunstanciada do Plano e processo
dos effectivos Trabalhos Hydraulicos empregados na Abertura da Barra de
Aveiro; por Luiz Gomes de Carvalho, Director e Inspector das Obras da
mesma Barra. Esta interessante
Memoria he composta de uma Dedicatoria ao Principe Regente N.
S., uma Introducção, e cinco Partes. Em o Num. XXVIII dêste Jornal
publicámos a Dedicatoria e Introducção. Em o Num. XXXII, publicámos a I. Parte. E não tem ainda sido,
nem he por ora possível, publicar as outras
quatro Partes que restão. O. A. tem sido n'estes ultimos
tempos nimiamente sobrecarregado de trabalhos importantissimos e mui
distantes uns dos outros; elle está encarregado da conservação, reparação, e melhoramento (se ainda
he possivel) da Barra de Aveiro dos trabalhos do Plano
sôbre o melhoramento e navegação dos Rios Vouga, Águeda
e Cértima; de attender aos Rios Douro e Lima; está em vesperas de marchar para S. Martinho a executar o Plano
que
deo para aquelle Porto, pensando ainda em outros objectos
sôbre o mesmo assumpto que deixou para Memoria Supplementar do Plano dado que abrangia
os principaes trabalhos
por onde se-devia começar, etc. etc.. Eis-aqui os ponderosissimos e mui justos motivos porque falta ainda a última
lima áquella Memória, que o Público sei que deseja concluída e acabada de publicar.
/ 206 /
AVEIRO
RIO NOVO DO PRINCIPE
Em o Num. XVI. do Jornal de Coimbra a pag. 386 art. 6.º,
fallando-se da prosperidade que para Aveiro resulta da Nova Barra actual, se-disse: «Que acresceria muito mais, melhorando-se a navegação do Rio Vouga, e
estendendo-se até visinhanças
de São Pedro do Sul, assim como as do Certima e Levira, até ao Couto de Mogofores, nas visinhanças de
Anadia; projectos que o Govêrno não ignorava, e a bem dos quais já tinha ordenado algumas providencias».
Tanto pois promove o Govêrno destes Reinos a felicidade pública, e especialmente contempla as Obras da Comarca de Aveiro,
que ouvindo, na parte Económica e Civil, ao
Desembargador Fernando Affonso Giraldes, Superintendente
da Barra e na Executiva e Directiva ao Tenente Coronel de
Engenheiros, Director das Obras, Luiz Gomes de Carvalho,
approvados os Planos, e determinando a sua execução, tendo-se dado
principio à primeira parte do Plano de melhoramento da Navegação do
Vouga, em o dia 26 de Outubro de 1813, ultimou-se felizmente no dia 22 de Dezembro de 1815, no curto periodo de 26 mezes, resultando
consideraveis vantagens, reconhecidas já pelo maior número dos habitantes d'este
Paiz.
O novo alveo que o Vouga occupou no sobredito dia 22 de Dezembro, a que
S. A. R. permittio a honrosa denominação (de que os Povos visinhos se-lembraráõ) de Rio Novo
do Principe marcado no Mappa da Ria de Aveiro (inserto em o Num. XXXII. do J. de C. entre pag. 82 e 83) por duas
series de pontos seguindo as letras H, S, G. F, Q, W, T.
reduzio a duas leguas as tres que antes se-conta vão pelo
alveo antigo, formando a sinuosa curva F, E, A, W. desde
Sarrazolla até à Barra, tal que em partes do novo alveo dista do antigo e abandonado uma crescida legua.
A sua navegação he desembaraçada e pronta, e foi logo
seguida de uma rapida escoante nos Campos de Sarrazolla, Cacia, Salreu, Canellas, Formelam, Angeja, etc. nos quaes
he de esperar, que d'aqui por diante não sejão, na Primavera
as Sementeiras, e as colheitas no Outono perturbadas, detidas, e em
parte deterioradas, como acontecia; e bastantes terrenos, nos campos do
Vouga Rto-acima, incultos por alagados, agora poderão agricultar-se, e produzir copiosas e abundantes colheitas, melhorando
muito a salubridade de algumas Povoações confinantes.
/ 207 /
O Rio Novo do Principe tem no seu alveo junto de Sarrazola
280 palmos de
largura, e d'ahi vai gradualmente alargando até á bôcca da Cale do
Espinheiro, á qual se-une, e aonde tem 550 palmos, e segue depois a dita Cale, por onde se-mette
na Cale grande, perto do sitio da Senhora das Areias, reunido com a Cale
da Villa, mettendo-se no mar pela Barra Nova de Aveiro, como se-vê no
Mappa sobredito.
Os marachões do dito Rio tem de
grossura, termo medio, 40 palmos, e differentes alturas, que forão necessarias para
accomodar a consideravel
excavação de mais de oito mil braças cúbicas, que se-extrahirão para
formar o novo alveo. Esta Obra importante foi concluida com grande
economia de despeza, pelas bem reguladas empreitadas, e methodo de
trabalhos que
se-estabeleceo, não sendo constrangidos os Operarios; e exactamente
pagos à custa do Cofre da Barra,
por justas e legaes avaliações, todos os terrenos dos Particulares,
tanto fructiferos como infructiferos, que o novo alveo occupou: motivos
que grangeárão aos dois Empregados Superintendente e Director honrosos
louvores de S. A, R. transmittidos pela Secretaria de Estado dos
Negocios Estrangeiros e da Guerra.
He de esperar, que os subsequentes trabalhos, relativos ao Plano do
melhoramento e Navegação dos ditos Rios, prosperem, e consigão iguaes
resultados, merecendo os elogios do Govêrno, e o applauso dos Povos da Comarca
de Aveiro, a quem particularmente interessão, tornando-se mais
florente e copiosa a sua Agricultura, mais animado e rico o seu Commércio.»
Não encerraremos, já agora, a transcrição das notícias da Barra
referidas ao ano de 1815, sem arquivar também o que podemos considerar
um eco da opinião pública da época, recolhido igualmente pelo prestimoso
Jornal de Coimbra (N.º XLIV − II parte, pág. 148, de 23 de Setembro de
1816) e que muito depõe a favor do interesse sempre dispensado por tão
notável publicação à Ria de Aveiro e aos seus problemas vitais:
«ART. XIV. − NOTICIAS DA BARRA
D'AVEIRO
Em Carta de 18 de Dezembro de 1815 um Amigo meu
me diz de Aveiro o seguinte:
«Agora no meio de uma horrorosa tempestade chega um Bergantim grande a
ésta Cósta, e em baixamar: entrou felizmente, e tudo se-salvou. − Que
tal lhe-parece uma Barra, que tem água em baixamar para grandes
Bergantins;e que
/
208 / nenhuma cheia do Vouga embaraça
de haver enchente e
corrente para dentro do Porto, e, que póde salvar de tantos naufragios
os que o-buscão, quando o mesmo Douro regeita
pelas suas pesadas águas, de Inverno, os Navios ás vezes 15,
20, e 30 dias sucessivos?»
Os delicadíssimos problemas da Ria de hoje têm como origem e ponto
de partida os problemas e as vicissitudes que nas passadas eras
ocorreram; vêm de muito longe, não surgiram abruptamente em nossos dias.
A luta do Homem com as forças da Natureza tem aqui remota
origem;
soluções apresentadas e postas em prática hoje, acham-se esboçadas há
séculos; só nas proporções e nos meios mecânicos de realização podem
diferir.
Tudo aconselha, pois, a uma cuidada revisão histórica desses mesmos
problemas e à meditação ponderada do trabalho das gerações que nos
precederam.
Inteiramente o merece o lugar inconfundível que na Economia e
na vida do
baixo Distrito a Ria de Aveiro ocupa.
ANTÓNIO GOMES DA ROCHA
MADAHIL |