DISSE
na Explicação Prévia da minha obra genealógica A Descendência Portuguesa
de El-Rei D. João Il,
que ela não era, nem podia ser, uma obra completa,
embora estivesse convicto de ser a mais completa que via a luz da
publicidade.
De antemão sabia que com o decorrer do tempo outros
descendentes portugueses daquele Rei, de mim ignorados,
haviam de vir ao meu conhecimento e alguns mesmo surgiriam no decorrer de investigações que em nada se prendessem com o assunto daquele meu trabalho.
Foi de facto por um feliz acaso que, há meses, pelas
Habilitações «de Vita et Moribus» (Ordens) da Câmara
Eclesiástica de Lisboa que se guardam na Biblioteca Nacional, tive conhecimento de haver tido o 8.º
Duque de Aveiro
e 7.º Marquês de Gouveia, D. José Mascarenhas, um filho
natural de nome Manuel José Mascarenhas.
É minha intenção. se Deus me der vida e saúde, publicar
num futuro mais ou menos próximo um Suplemento àquela
minha obra em que será mencionado tudo quanto até então
tiver chegado ao meu conhecimento (e para ele já muito
material possuo) e onde terá o seu lugar o bastardo do justiçado de Belém.
Dado porém que não venha a ser possível realizar aquele
meu intento e porque suponho ser ignorado o ter tido, o
Duque de Aveiro, aquele bastardo, pensei, já que o caso mo
revelou, dá-lo desde já a conhecer através de qualquer
publicação.
E porque se tratava do Duque de
Aveiro, em nenhuma
outra poderia ficar melhor arquivada esta notícia do que no Arquivo do Distrito de Aveiro, tanto mais que já o mesmo
arquivara a minha opinião, aliás desprovida de autoridade,
sobre a pessoa em quem recaia hoje o direito ao uso do
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título de Duque de Aveiro e à representação da Casa Ducal
de Aveiro(1).
Aqui deixo, pois, transcritos os dois documentos, que
constam do processo 15 arquivado no Maço 15-M das mencionadas Habilitações da Câmara Eclesiástica de Lisboa.
São eles o requerimento do referido Manuel José Mascarenhas,
pedindo para ser admitido a «prima tonsura», e a
certidão do assento de baptismo, pelo mesmo requerida, que se encontra
junta.
O primeiro é do teor seguinte:
Emm.º Senhor
Diz Manuel José Mascarenhas filho natural de D. José Mascarenhas que foi
Marquez de Gouvea e Duque de Aveiro e de May incognita q. elle
sempre teve grande vocação e desejo de servir a Deos no Estado Ecleziastico e porqe Sua
Magde por sua real piedade houve por bem de lhe tirar a
prohibição q. por suas reaes Ordens tinha por causa do dito seu Par por
seo real Aviso remetido a V. Emmcia pertende que V.
Emmcia o haja de
admitir á prima tonsura havendo por bem por sua natural benevolencia de
o dispensar das deligencias e papeis do estillo: portanto
P. a V. Emmcia seja servido por serviço de
D.s determinar assim se fôr
de seo agrado.
O referido requerimento tem lançados os dois seguintes
despachos:
− lnfre o Parº com juramento em carta fechada sobre o
procedimto do Supp.te sua vocação e
freq.ª de Sacramtos.
Junqu.ª 25 de 8br de 1784.
(rubrica do prelado)
− Matricule p.ª Prima Tonsura com effeito
Junqueira 3 de Novbrº de 1784
(rubrica do prelado)
O segundo documento é do teor seguinte:
Exmo e
Rev.º Snrº
Diz Manuel José de Mascarenhas filho natural de D. José Mascarenhas
que foi Marquez de Gouvea e Duque que foi de Aveiro que p.ª sertos
requerimtos que tem se lhe faz preciso o tior da certidão do seu Batismo
portanto
Pede a V. Excia seja servido mandar
que o Rdo Parricoda Fgª de Sam Miguel de Alfama lhe pace por certidão o
que constar do dito asento
E. R. M.
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No verso tem lavrada a certidão requerida nos seguintes
termos:
O Pe Joaquim Manoel de Carvalho Prior da Parochial Igreja de
S. Miguel
de Alfama desta cidade certifico que revendo os livros dos baptisados desta Igreja no que teve o seu principio no anno de mil setecentos
e
vinte seis e findou no anno de mil setecentos e quarenta e sete a fIs
285 Vº se acha hum assento cujo tior he o seguinte = Aos trinta dias do mez
de Outubro de mil setecentos e quarenta e seis baptisei e puz os S.tos
Oleos a
Manuel filho natural de D. José Mascarenhas Marquez de Goveae de Mai
incognita. foi padrinho João Luiz do termo de Coimbra e a Snrª
do Rosario
e para constar fiz este assento que assignei era ut supra. O Prior
Francisco
Martins = E não se continha mais no dito assento ao qual me reporto.
Lxª 11 de Novembro de 1784.
O Prior Joaquim Manuel de
Carvalho.
Reconheço a letra e sinal assima do Rdo Prior nele conteudo.
Lxª 11 de Novembro de 1784
(sinal do tabelião)
Em Testº De ser vde
Igncio de Szª Pavia Sarda
Nada mais consegui saber deste Manuel José Mascarenhas, ignorando portanto se chegou ou
não a tomar ordens.
No entanto, aqui fica dada a notícia da sua existência e
talvez outrem, mais feliz do que eu, possa vir a desvendar o que para mim constitui mistério.
FERNANDO DE CASTRO DA SILVA
CANEDO
Tenente-Coronel |