Vaz Ferreira, Os donatários de Grijó, Vol. VII, pp. 200-202.

OS DONATÁRIOS DE GRIJÓ

O ilustre escritor D. JOÃO DE CASTRO, em artigo de fundo de "O Primeiro de Janeiro" de 8 de Dezembro de 1940, refere-se aos donatários de Grijó e põe um problema genealógico, prometendo voltar ao assunto.

O fundador do mosteiro de Grijó foi D. Nuno Soares, chamado o Velho, que, no tempo de Afonso III de Leão, «conseguiu apoderar-se de um vasto senhorio talhado nas terras litorais de entre Douro e Vouga».

Eram as Terras de Santa Maria da Feira, que lhe vinham do bisavô.

Disto proveio que, nos meus trabalhos de propaganda relativos ao Castelo da Feira, topasse com o velho Nuno Soares e os seus descendentes. A eles me refiro no artigo publicado no n.º 22 deste Arquivo.

O Nuno Soares, o Velho, era bisneto do conde D. Ero que nos aparece, em tempos remotos, como senhor das Terras de Santa Maria.

Seguindo o que o dr. AGUIAR CARDOSO escreveu nas Memórias do Concelho da Feira, apresentei a genealogia dos Soares de Grijó:

1 − O conde D. Ero
2 − Gondozindo Eris
3 − Soeiro Gondozendes
4 − Nuno Soares, o Velho
5 − Soeiro Nunes
6 − Fromarígio Soares
7 − Soeiro Fromarigues
8 − Nuno Soares, irmãos e irmãs.

D. JOÃO DE CASTRO − «atentando nas datas» de 922 em que os irmãos do Nuno Soares, o Velho, doaram ao mosteiro de Grijó, e de 1112 em que um novo Nuno Soares, com a mãe e os irmãos, fez outra doação ao mesmo mosteiro − diz que «entre os dois Nunos jazem com certeza três ou quatro gerações esquecidas». / 201 /

Vou indicar os elementos que encontrei para, se forem aproveitáveis, o auxiliar nas suas investigações.

«O Nuno Soares do século XII, diz o ilustre escritor, só pode ser 3.º ou 4.º neto − e não simples neto, com se tem afirmado  do seu homónimo do século X».

Como se vê, coloquei-o como 3.º neto, deixando-o na posição que lhe deu o dr. AGUIAR CARDOSO. Este paciente investigador, porém, começara no artigo XIV das Memórias, seguindo a genealogia da Casa do Costeado (Guimarães), por dar o Nuno Soares, o Velho, como pai de Soeiro Nunes e este de Flamígio Soares ou Soeiro Fromarigues.

Era uma trapalhada dum homem com dois nomes e, o que é pior, com diversos patronímicos, derivado um do outro nome.

À margem dos recortes dos semanários locais onde as Memórias foram sucessivamente publicadas, emendou o dr. AGUIAR CARDOSO, separando o Fromarígio Soares dum seu filho Soeiro Fromarigues; e assim reformou a genealogia no seu artigo XV. Mas ainda à margem do 15 tornou a emendar, primeiro dizendo o Soeiro Nunes pai dum Nuno Soares II e este pai do Soeiro Fromarigues. Não o contentava a disparidade do patronímico e substituiu o Nuno Soares lI, em nova nota, por Fromarígio Soares, em virtude do documento 691 dos P. M. H., no qual Mendo Trutesindes faz, em 1087, venda de bens a Suario prolix fromariguiz et uxori uestre eluire nuniz.

Portanto entre o Nuno Soares de 922 e o Fromarígio vão 165 anos, e de Fromarígio ao neto Nuno Soares decorrem 35. Não é possível que o Fromarígio fosse neto de o Velho e existisse mais de século e meio depois dele. Temos de aceitar a hipótese de mais gerações entre ambos.

Onde iria o dr. AGUIAR CARDOSO beber a sugestão dum Nuno Soares II que aliás eliminou logo em seguida? Não creio que o inventasse quem, em outro escrito, declarou que estas genealogias não as copiava dos livros de linhagens, tanta vez indocumentados; mas as desfiava ele próprio nos documentos autênticos compulsados.

D. JOÃO de CASTRO também «pende a crer que entre esses dois Nunos existiu um terceiro membro da família com igual nome».

De certo encontrou vestígios do Nuno Soares II. A exIstir, era filho do Soeiro Nunes, repetindo o nome do avô, e teria tido um filho Soeiro Soares pai do Fromarígio Soares. Como o nome semelhante ao patronímico é raro, se acaso alguma vez se encontra, não repugna admitirmos mais outra geração nesta sequência.

4 − Nuno Soares, o Vélho (922)
5 − Soeiro Nunes
6 − Nuno Soares II
7 − Fulano Nunes    
/ 202 /

8 − Soeiro Fulanes
9 − Fromarígio Soares (1087)
10 − Soeiro Fromarigues
11 − Nuno Soares (1112).

Assim haveria, em 190 anos, nada menos de sete gerações, o que nos dá a média razoável de 27 anos por geração e, entre o Velho e o Fromarígio cinco gerações com a média de 33 anos.

A suposição do Soeiro Soares reduz as gerações a seis e eleva a média de anos a 31; e entre Nuno e Fromarígio ficariam quatro gerações com a média de 41 anos.

Mas tudo isto é bordado no campo das hipóteses e com certeza os investigadores se não contentam com elas. Resta-lhes ir rebuscar, nos documentos e nas árvores de costados, seguras bases de confirmação.

A D. JOÃO DE CASTRO talvez esta indicação intermediária que documenta o Fromarígio e a sua mulher Elvira Nunes sirva para alguma coisa.

Feira, 12 de Dezembro de 1940.

VAZ FERREIRA

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