O ilustre escritor D. JOÃO
DE CASTRO, em artigo de fundo
de "O Primeiro de Janeiro" de 8 de Dezembro de 1940,
refere-se aos donatários de Grijó e põe um problema
genealógico, prometendo voltar ao assunto.
O fundador do mosteiro de Grijó foi D. Nuno Soares, chamado o Velho, que, no tempo de Afonso III de Leão, «conseguiu apoderar-se de um vasto senhorio talhado nas terras litorais
de entre Douro e Vouga».
Eram as Terras de Santa Maria da Feira, que lhe vinham
do bisavô.
Disto proveio que, nos meus trabalhos de propaganda
relativos ao Castelo da Feira, topasse com o velho Nuno Soares
e os seus descendentes. A eles me refiro no artigo publicado
no n.º 22 deste Arquivo.
O Nuno Soares, o Velho, era bisneto do conde D. Ero
que nos aparece, em tempos remotos, como senhor das Terras de Santa
Maria.
Seguindo o que o dr. AGUIAR CARDOSO escreveu nas
Memórias do Concelho da Feira, apresentei a genealogia dos Soares
de Grijó:
1 − O conde D. Ero
2 − Gondozindo Eris
3 − Soeiro Gondozendes
4 − Nuno Soares, o Velho
5 − Soeiro Nunes
6 − Fromarígio Soares
7 − Soeiro Fromarigues
8 − Nuno Soares, irmãos e irmãs.
D. JOÃO DE CASTRO − «atentando nas datas» de 922 em
que os irmãos do Nuno Soares, o Velho, doaram ao mosteiro
de Grijó, e de 1112 em que um novo Nuno Soares, com a mãe
e os irmãos, fez outra doação ao mesmo mosteiro − diz que
«entre os dois Nunos jazem com certeza três ou quatro gerações
esquecidas».
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Vou indicar os elementos que encontrei para, se forem
aproveitáveis, o auxiliar nas suas investigações.
«O Nuno Soares do século XII, diz o ilustre escritor,
só pode
ser 3.º ou 4.º neto − e não simples neto, com se tem afirmado
do seu homónimo do século X».
Como se vê, coloquei-o como 3.º neto, deixando-o na posição que lhe deu o dr. AGUIAR CARDOSO. Este paciente investigador, porém, começara no artigo XIV das
Memórias, seguindo
a genealogia da Casa do Costeado (Guimarães), por dar o
Nuno Soares, o Velho, como pai de Soeiro Nunes e este de
Flamígio Soares ou Soeiro Fromarigues.
Era uma trapalhada dum homem com dois nomes e, o que
é pior, com diversos patronímicos, derivado um do outro nome.
À margem dos recortes dos semanários locais onde as
Memórias foram sucessivamente publicadas, emendou o dr. AGUIAR
CARDOSO, separando o Fromarígio Soares dum seu filho Soeiro
Fromarigues; e assim reformou a genealogia no seu artigo XV.
Mas ainda à margem do 15 tornou a emendar, primeiro dizendo
o Soeiro Nunes pai dum Nuno Soares II e este pai do Soeiro
Fromarigues. Não o contentava a disparidade do patronímico
e substituiu o Nuno Soares lI, em nova nota, por Fromarígio
Soares, em virtude do documento 691 dos P. M. H., no qual
Mendo Trutesindes faz, em 1087, venda de bens a Suario
prolix fromariguiz et uxori uestre eluire nuniz.
Portanto entre o Nuno Soares de 922 e o Fromarígio vão
165 anos, e de Fromarígio ao neto Nuno Soares decorrem 35.
Não é possível que o Fromarígio fosse neto de o Velho e existisse mais de século e meio depois dele. Temos de aceitar a
hipótese de mais gerações entre ambos.
Onde iria o dr. AGUIAR CARDOSO beber a sugestão dum Nuno
Soares II que aliás eliminou logo em seguida? Não creio que
o inventasse quem, em outro escrito, declarou que estas genealogias não
as copiava dos livros de linhagens, tanta vez indocumentados; mas as desfiava
ele próprio nos documentos autênticos
compulsados.
D. JOÃO de CASTRO também «pende a crer que entre
esses
dois Nunos existiu um terceiro membro da família com igual nome».
De certo encontrou vestígios do Nuno Soares
II. A exIstir, era
filho do Soeiro Nunes, repetindo o nome do avô, e teria tido um filho
Soeiro Soares pai do Fromarígio Soares. Como o nome
semelhante ao patronímico é raro, se acaso alguma vez se encontra, não
repugna admitirmos mais outra geração nesta
sequência.
4 − Nuno Soares, o Vélho (922)
5 − Soeiro Nunes
6 − Nuno Soares II
7 − Fulano Nunes
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8 − Soeiro Fulanes
9 − Fromarígio Soares (1087)
10 − Soeiro Fromarigues
11 − Nuno Soares (1112).
Assim haveria, em 190 anos, nada menos de sete gerações,
o que nos dá a média razoável de 27 anos por geração e, entre
o Velho e o Fromarígio cinco gerações com a média de 33 anos.
A suposição do Soeiro Soares reduz as gerações a seis e
eleva a média de anos a 31; e entre Nuno e Fromarígio ficariam
quatro gerações com a média de 41 anos.
Mas tudo isto é bordado no campo das hipóteses e com
certeza os investigadores se não contentam com elas. Resta-lhes
ir rebuscar, nos documentos e nas árvores de costados, seguras
bases de confirmação.
A D. JOÃO DE CASTRO talvez esta indicação intermediária que
documenta o Fromarígio e a sua mulher Elvira Nunes sirva para alguma
coisa.
Feira, 12 de Dezembro de 1940.
VAZ FERREIRA |