PUBLICOU
a doutora ABlAR EUSABETH REUTER, bem conhecida pelos seus trabalhos
históricos e pela sua obra Chancelarias Medievais Portuguesas, no
fascículo 2 de volume IV da revista "Arquivo Histórico de Portugal", um
documento respeitante a terras do distrito de Aveiro que, por isso,
atraiu a minha atenção.
Conforme a erudita senhora
diz, encontra-se esta carta na Torre do Tombo, colecção especial, parte
II, caixa 49 do cartório de Arouca (antiga marcação, gaveta 4, maço 5).
Reputa-a o mais antigo exemplar conhecido de carta cerrada das
chancelarias portuguesas e interpretou-a como sendo da era de 1252.
Impliquei com a data, correspondente ao ano de 1214.
Pois se Afonso III nasceu em
1210, não mandava passar cartas aos quatro anos. Se só casou com a
condessa Mafalda de Bolonha em 1238, não sabia ter de vir a ser conde e
muito menos rei, título que só usou depois da morte do irmão Sancho II
em 1248, embora governasse o reino havia três anos.
Como o artigo era
acompanhado duma foto gravura, quis verificar. Lá vi o M, os dois CC e o
L, interpondo-se depois desta letra o escuro duma saliência do selo.
Dirigi-me à direcção da
revista para fazer chegar o meu reparo ao conhecimento da autora do
artigo, afim de ser verificada a data, visto a referida invalidar o
documento.
A doutora REUTER estava
ausente e só ao fim de três meses se viu o original.
Verificou-se que, ao
fotografar-se a carta, ficou encoberta com o selo parte da data,
lendo-se, portanto, na reprodução: Era MCCL secunda, era que
também se publicou na transcrição do documento, cuja leitura a mesma
senhora fez pela fotografia.
Se o selo não tivesse tapado
parte da data, ler-se-ia, come está na carta original, Era MCCLX
˘
secunda. A supressão do X aspado levou-me a achar improvável o
documento pela diminuição de quarenta anos na data, que assim se vê ser
da era de 1292 correspondente ao ano de 1254.
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Ainda se rectificou outro erro de leitura no local da subscrição. É
Colimbria e não Calimbria.
Transcrevo a interpretação
da doutora REUTER com essas duas emendas, afim de constar desta revista
o interessante documento.
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Alfonsus Dei gratia rex Portugalia et comes Bolonie vobis priorj de
Eclesiola et Martino lohannis meo meyrino e judicj de Alafoe salutem.
Sciatis quod ego mandauj facere inquisitionem in Kaanbria per judicem de
Feria et per alios bonos homines et meo
(sic)
Alfonsus lohannis arrancurauit set mihi de dictis inquisitoribus guia
inquisiuerant casale de lunqueyra quod dicebat quod erat suum unde mando
uobis quod nos eatis ad locam et ueatis (?) judicem de Kaanbria et
allios bonos homines de ipsa terra perante nos et faciatis eos jurare ad
Sancta Dei Enuangelia e sciatis ueritatem de eis quod directum ego habeo
uel debeo habere in dicto casalj de lunqueyra uel quod directum habuit
ibi pater uel auus uel frater meus et secundum quod inueniritis faciatis
inde duo scripta et unum enuiate mihi clausum et sigillatum sub uestris
sigillis et aliud nos retineatis. Et si nos prior non potueritis ire ad
istam inquisam enuiate illud uestrum prepositum uel uestrum priore
claustralem vnde aliud non faciates sin autem haberem de uobis queyxume
et tornatem me pro inde ad uos. Dante in Colimbria rege mandante per
domnum Egidium Martinj maiordomum curie et per cancellarium IIIIº
kalendas September Dominicus Uincentij scripsit Era Mª CCª LX ˘ ª
secunda.
Acrescenta a doutora REUTER o seguinte pormenor que caracteriza a carta
cerrada:
«Pode-se perfeitamente repor
o pergaminho nas suas primitivas dobras e colocar o selo por sua tira de
pergaminho, de forma a mostrar a carta fechada.»
Mostra esse documento que no
reinado de Afonso lIl a freguesia da Junqueira, ainda hoje existente no
concelho de Cambra, fazendo parte das Terras de Santa Maria, estava sob
a jurisdição do juiz da Feira.
As inquirições referentes a
Cambra não se compreendem, no entanto, nas da era de 1289 mandadas fazer
por Afonso lII sobre os seus direitos na Terra de Santa Maria, cuja
cópia tenho presente e que são chamadas «foral velho da Feira».
Feira, 21 de Julho de 1940.
VAZ FERRElRA
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