Soares da Graça, Machado de Castro em Aguim. Suas relações de família com gente dali: Castilhos e Cerveiras, Vol. VI, pp. 161-176

 

MACHADO DE CASTRO EM AGUIM

SUAS RELAÇÕES DE FAMÍLIA COM GENTE DALI: CASTILHOS E CERVEIRAS

O nome de MACHADO DE CASTRO está indelevelmente ligado ao lugar de Aguim; e o facto, − tão singularmente honroso − da passagem por ali do célebre escultor, foi já consagrado na tradição local como um dos melhores pergaminhos de que pode orgulhar-se aquela pitoresca aldeia da Bairrada. E ficou a manter essa tradição, por forma eloquente e duradoira, a «Casa dos Cerveiras», obra cujo traçado se deve ao insigne estatuário e que é uma elegante construção apalaçada, de linhas sóbrias, tipo pombalino, que pertenceu ao Bispo D. José Xavier Cerveira e Sousa, cujas armas episcopais enobrecem a fachada principal do edifício (1).

Mas há ainda mais: lá existe também a modesta casa, baixa, de um só piso, que segundo versão antiga ali corrente, era de MACHADO DE CASTRO (2).

 Vol. VI − N.º 23 − 1940  / 162 / Com o maior interesse, juntei as notas que seguem sobre os antecedentes desta tradição, que naquele povo ainda viva se guarda, para assim se ver como nos aparece referido na Bairrada o célebre autor da estátua equestre do nosso rei D. José I (3).

A casa dos Cerveiras de Aguim

/ 163 / Vim a averiguar que àquela terra o prendiam não só relações de velha e sólida amizade, mas até alguns laços de família. Comecemos pelos últimos.

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No dia 6 de Outubro do ano de 1754, na capela da Senhora do Ó do lugar de Aguim, realizava-se o casamento de Manuel Machado Teixeira, natural da cidade de Braga, filho de Gonçalo Teixeira e de Mariana Micaela de Miranda, com Josefa Luísa Cerveira, filha de Francisco Cerveira e de Maria Cerveira, sua mulher, de Aguim também. Do registo deste casamento consta que Manuel Machado era já viúvo de Teresa Cerveira, da Mealhada, com quem havia por parte dele, e de Josefa Cerveira, uma certa relação de «parentesco de afinidade em 2.º e 3.º grau por uma parte e 3.º e 4.º por outra» pelo que teve de haver a necessária dispensa (4).

Este Manuel Machado, que também era escultor, e que da sua arte ministrou as primeiras lições a seu filho JOAQUIM MACHADO DE CASTRO, foi um artista de merecimento, e dele disse RACZINSKI «que modelou com perfeição» (5). Com este casamento, veio Manuel Machado a completar o número dos três que realizou, sendo o primeiro em Coimbra, com D. Teresa Angélica de Castro, a mãe do nosso célebre escultor. Caso curioso este que assim se verifica, pois MACHADO DE CASTRO, como seu pai também, desposou três mulheres (6).

Não passamos adiante, sem corrigir desde já uma inexactidão em que incorrem alguns biógrafos de MACHADO DE CASTRO, afirmando que o motivo que aos 15 anos o fez abandonar a casa paterna a caminho de Lisboa, foram os rigores e maus tratos de sua madrasta Josefa Cerveira.

Não é assim; e, fazendo a rectificação, reabilita-se esta madrasta, livrando-a do labéu de tão severa e antipática atitude... A não ser que admitamos a hipótese de o enteado ser de maior idade − 23 anos − e apanhar ainda a sua sova da madrasta, o que no presente caso não é crível, nem se, harmoniza com as / 164 / datas indicadas pelos biógrafos, e as notas constantes dos apontamentos que colhi.

MACHADO DE CASTRO nasceu em Coimbra a 19 de Junho de 1731 (7); e rezam as suas biografias que ele seguiu para a Capital quando tinha 15 anos, portanto em 1746. Seu pai casou com Josefa Cerveira em 1754, como já vimos, e, assim, não podia ser esta a madrasta que lhe infligia os maus tratos que os biógrafos referem, mas antes a segunda mulher de Manuel Machado, Teresa Cerveira, que, de resto, ainda estava ligada àquela por um certo grau de parentesco...

Desfeito este equívoco e sabido que MACHADO DE CASTRO foi para a Capital no ano de 1746, pergunta agora a nossa curiosidade: quando começou ele a ir por Aguim? Não consegui obter dados por onde isso se mostrasse com precisão, mas creio não errar, supondo que o nosso grande escultor nunca ali teria ido antes do casamento de seu pai, isto é, anteriormente ao ano de 1754; depois sim: Manuel Machado entra na família dos Cerveiras, ali preponderante, e das mais respeitáveis da terra, à qual estavam também ligados os Castilhos; e com uns e outros, veio MACHADO DE CASTRO a relacionar-se; gente da mesma época, e de outras não muito afastadas, que nós vemos acompanhar-se pela vida fora com recíproca e funda estima.

Os Castilhos e os Cerveiras fixaram-se em Aguim em datas já recuadas, ligando o seu nome àquela terra que alguns deles bem enobreceram com o seu prestígio. Desenvolvendo mais o que atrás deixámos apontado, anotemos algumas datas respeitantes às referidas famílias.

A 5 de Agosto de 1753, casava Francisco Cerveira, filho de Francisco Cerveira da Fonte e de Maria Cerveira, com Luísa Antónia da Conceição, filha de Domingos Francisco Ruivo e de Maria Fernandes, todos de Aguim; e a 14 de Junho de 1759, e na capela da Senhora do Ó, onde já assistimos ao casamento do escultor Manuel Machado, o Padre Luís Barreto de Castilho unia também, por marido e mulher, ao licenciado José Barreto de Castilho, natural da vizinha vila de São Lourenço do Bairro, e a Maria Luísa Gomes, filha de Domingos Francisco Ruivo e de sua segunda mulher Maria Gomes, estes de Aguim. Aqueles os ascendentes dos Cerveiras da Quinta do Tanque, de quem diremos adiante mais alguma coisa; estes últimos, os ascendentes dos Castilhos, aos quais, e com mais desenvolvimento nos referiremos no decorrer destas notas. Entretanto, reatemos o que vínhamos dizendo acerca do pai de Machado de Castro.

Manuel Machado Teixeira de Miranda, que assim era o seu nome completo, foi «homem dotado de engenho e habilidade / 165 / enciclopédica» no dizer de seu filho (8). Natural duma cidade como Braga, centro artístico notável, lá se iniciaria na arte da escultura, mas certamente no desejo de dar mais largos voos às suas tendências artísticas, vemo-lo derivar para o sul do país e vamos encontrá-lo em Coimbra, terra detentora de grandes primores de arte, e onde se distinguiu, formando escola, uma plêiade brilhante de artistas, nacionais e estrangeiros. Ali se fixa por algum tempo o nosso artista e lá casa com D. Teresa Angélica de Castro; é deste casamento que nasce o filho ilustre, que tão grande nome alcançou nos domínios da Arte, honrando seus pais, a terra que lhe foi berço, e a pátria.

Voltemos agora a Aguim, onde, como já vimos, foi casar o nosso artista de Braga, no ano de 1754. Nasce ali o seu primeiro filho do terceiro casamento, em 1755; ao seu baptizado, que teve lugar a 18 de Agosto daquele dito ano, vai assistir o Prior do Convento de Tomar, da cidade de Coimbra, − Frei André de Melo −, que é quem preside à cerimónia.

Este filho de Manuel Machado recebe o nome de Francisco, e os seus padrinhos são Aires de Sá, o conhecido fidalgo da Casa de Anadia e a Senhora do Ó, a padroeira de Aguim, a quem o povo dali venera com singular devoção desde remota data; e que uns, elegiam para madrinha, e outros, lá iam à sua ermida, para, à vista da Senhora, se unirem pelo casamento...

O segundo filho de Manuel Machado − que de mais não tenho conhecimento − nasceu a 1 de Setembro de 1756, também em Aguim. Foi seu padrinho, no baptizado que teve lugar no dia 10 daquele mês e em que lhe foi posto o nome de António, Frei Manuel, tio materno, e madrinha Nossa Senhora do Ó, já tão nossa conhecida. A respeito deste, cujo nome completo era António Xavier Machado Cerveira − alguma coisa ficou escrito: foi um notável organista, que se tornou muito conhecido na sua época. Fez órgãos para quase todas as igrejas da capital, reedificadas após o terramoto de 1755, tendo aprendido esta arte com seu pai, que, além de bom escultor, como já vimos, era também um bom organista, conhecendo-se dele o órgão existente no coro do Mosteiro dos Jerónimos, que tinha a seguinte inscrição: Manuel Machado Teixeira de Miranda ,o fez e acabou no ano de 1781 (9).

Mas de Machado Cerveira ficou obra de maior vulto neste ramo de arte; o primeiro órgão que ele construiu foi o da igreja dos Mártires, de Lisboa, é este trabalho granjeou-lhe tal renome, que passaram a incumbi-lo de fazer muitos destes / 166 / instrumentos musicais, e, entre outros, para as igrejas de S. Roque dos Conventos da Estrela, Odivelas e Mafra, tendo feito também alguns para o Brasil. Pela construção dos de Mafra e do Palácio Real de Queluz, foi nomeado organeiro da Casa Real e galardoado com o Hábito da Ordem de Cristo; desde então intitulava-se: − Organorum Regalium Rector. Em Lisboa, e por muito tempo, fez parte da Irmandade, de Santa Cecília, corporação a que pertenciam artistas de mérito, e ali figurou como primeiro assistente, cargo que exerceu, quase até à sua morte. Foi casado com D. Maria Isabel da Fonseca Cerveira e faleceu em Caxias a 14 de Setembro de 1828 (10). Ignoro se deixou descendência.

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Falámos atrás, mas de passagem, das relações de amizade que existiram entre os Castilhos e MACHADO DE CASTRO. E porque, tanto. o nome deste, como verdadeira glória nacional que foi, como o do poeta CASTILHO, figura primacial da nossa Literatura, ainda se recordam hoje por ali com a maior admiração; um, envolto na gloriosa tradição artística que eternamente o há-de lembrar, e o outro à vista de tantas coisas que a sua obra celebrizou; porque foi grande e cheia de brilho a projecção destas figuras na nossa história da Literatura e da Arte, acompanhemo-los por mais algum tempo na época em que viveram − tão diferente, e já bem distante de nós, pelo tempo e pelos hábitos.

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No dia 21 de Abril de 1766, e também no lugar de Aguim, nasce o primeiro filho do Dr. José Barreto de Castilho, José Feliciano (11). Vemo-lo passar ali os descuidosos tempos da sua mocidade; vai para Coimbra onde frequenta a Faculdade de Medicina, terminando esse curso com a sua formatura no ano de 1794. Em 1795, doutorou-se na mesma Faculdade e entra como Opositor ao magistério da Universidade; em 1797, é chamado, por aviso do Príncipe Regente, a exercer o cargo de Primeiro Médico Inspector dos Hospitais Militares do Alentejo e Beira, às ordens do Físico-Mor do Reino, cargo em que se houve com distinção; casa na capital no ano de 1798, e em Janeiro de 1860 nasce António Feliciano de Castilho. O seu baptizado realiza-se no / 167 / dia 19 de Fevereiro daquele ano, e lá comparece MACHADO DE CASTRO, a tocar pelo padrinho do neófito, que era o Doutor Francisco Tavares, Fidalgo e Médico da Real Câmara, Lente da Universidade e Físico-Mor do Reino. As relações do Dr. José de Castilho com MACHADO DE CASTRO mais se vão estreitando; e, quando os filhos, ainda muito novos, mas já estudantes, começam a dar mostras de aplicação ao estudo, manifestando invulgares qualidades nos seus diferentes ramos, o Dr. Castilho vai com eles − António e Augusto − à oficina do grande Mestre, que iam surpreender no seu laboratório de trabalho, «cercado de livros e de gravuras, ora desenhando ora escrevendo, ora deixando aquele pequeno santuário para ir visitar a aula e a oficina de escultura que tinha estabelecida no andar térreo da própria habitação.

«Ali levaram muitas vezes o futuro poeta como se fora uma glória nascente, que ia receber a bênção de uma glória moribunda.»

Mas anos decorrem; em 1817 vai o Dr. José Feliciano de Castilho a Coimbra levar os filhos, que vão frequentar a Universidade. Começam eles então a ir passar as suas férias em Aguim, a terra natal de seu pai, que bem conheciam já de tradição; por lá demoram no verão daquele ano e em outras ocasiões dos anos seguintes, divertindo-se com os serões à lareira, os magustos, e outros passatempos da aldeia, de que o Poeta mais tarde havia de sentir bem fundas saudades. Volvidos muitos anos, dizia ele, recordando os tempos que passara pela Quinta da Murteira, que era da família:

«Estou aspirando o cheiro balsâmico dos pinhais e das vinhas em flor da Quinta da Murteira, quando ao fim da tarde, atrás do rebanho de duzentas cabeças, tropeando dentro duma nuvem de poeira vinha a pastora cantando; e quando tudo aquilo, depois de mungido o leite, e com a lua por cima da eira, se recolhia, o gado para o aprisco e a rapariga para a cozinha, teatro da nossa ópera, onde as primas-donas de saia de burel nos encantavam com as suas vozes frescas e afinadas. Oh! tempos! tempos!» (12).

CASTILHO gravara na memória todas as coisas que por ali lhe impressionaram a sua requintada sensibilidade, não lhe / 168 / escapando o pormenor mais ligeiro. O rio Cértima lembrou-o ele também nos formosos versos:

Nas várzeas tuas nítida corrente,
Quão graciosos dias me correram!
................................................
folgaste de me ouvir quando exaltava
ao som do teu murmúrio as pampinosas
co'o dom de Bromio carregadas vides,
que do alto Douro aos saborosos cachos
nada têm que invejar ....................
(13)

Entretanto, o Doutor José Feliciano de Castilho, como Lente de Medicina, tem de vir fixar-se em Coimbra. E o seu grande amigo MACHADO DE CASTRO? Esse vai envelhecendo; aos 83 anos, uma doença grave põe-no às portas da morte, mas o Doutor Castilho está ainda na capital e dispensa ao estatuário os mais carinhosos cuidados. MACHADO DE CASTRO, que além de manejar o cinzel com mestria, sabia também manejar a pena, deixando obra literária apreciável, dedilhou ainda a lira compondo um soneto que dedicou ao Doutor Castilho, no qual exprimia a maior gratidão para com o médico e amigo que em tão grave conjuntura lhe valera, «dignando-se de assistir benigna e generosam.e a Joaq.m Machado de Castro» «em grave enfermid.e q. teve na sua idade provecta de 83 anos: o qual, em seu restabelecimento e em Acção de Graças, dedica ao d.º Ill.mo Sñr». São estas as palavras da dedicatória, e em nota diz ainda: «He tal a amizade que devo a este generosissimo Amigo (desde q. nos conhecemos) q. se tem esmerado o mais possível em propagar louvores dos meus taes quaes talentos» (14).

Levaria muito longe a transcrição das passagens da obra de CASTlLHO de onde ressalta a grande admiração e estima que entre estes e MACHADO DE CASTRO existiam, pelo que não citaremos mais, pois temos de abreviar a conclusão deste artigo. CASTlLHO vem para Coimbra, onde os deveres de Professor catedrático o chamavam: MACHADO DE CASTRO vê extinguir-se a pouco e pouco a vida no seu grande arcaboiço, até que a morte o riscou do número dos vivos, no dia 17 de Novembro de 1822, com 91 anos de idade (15). E o Doutor José Feliciano de Castilho, não lhe sobreviveu muitos anos, como mais adiante vamos ver.

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O Poeta ANTÓNIO FELICIANO DE CASTILHO e seu irmão Augusto Frederico, completam os seus estudos em Coimbra, tendo este seguido a carreira eclesiástica. Circunstâncias que não vem a / 169 / propósito referir neste lugar nascidas das lutas políticas que se desencadearam no país entre o partido liberal e o absolutista, atiraram com o Doutor Augusto de Castilho para a serrana freguesia de Castanheira do Vouga, nas faldas do Caramulo. Com ele foi o irmão inseparável e dedicado ANTÓNIO FELICIANO, o que teve lugar a 23 de Outubro de 1826, data em que aquele começou a paroquiar aquela freguesia.

Grupo da Sagrada Família, de barro policromado, atribuído a MACHADO DE CASTRO. Museu de Arte de Aveiro.

/ 170 / Ainda não tinha decorrido um ano após a sua estada ali, e um profundo golpe veio ferir o seu coração de filhos: a 6 , de Março de 1827, morre na Residência Paroquial o Doutor José Feliciano de Castilho, que de Coimbra os fora visitar. Do que então se passou, e da forma como decorreram alguns anos para os dois homiziados do Caramulo, dão-nos conta as «Memórias de Castilho», para onde remeto o leitor que o deseje saber com mais detalhe. No entanto, atenuada a dor que os dois irmãos sofreram, ainda lá passaram algum tempo de que saudosamente vieram a recordar-se mais tarde, principalmente o Poeta, que depois de ter saído da serra para a Capital, se comprazia de lá voltar, como aconteceu algumas vezes, peregrinando por ali e pela Bairrada, em evocadora romagem. Vemos que ele visita estas terras no ano de 1854, e de Mogofores escreve a sua esposa, dando-lhe conta do que ia acontecendo. Dizia-lhe em carta:

«Cheguei aqui às Ave Marias; achei de saúde as primas e os primos de que tu não conheces senão o Bispo. Receberam-me como se retomássemos relações só de ontem interrompidas; mas havia vinte anos que nos não viamos!  Daqui até ao dia 14 tenciono ter aqui o meu quartel general e dele fazer as minhas excursões às terras da Bairrada a ver os outros parentes e o nosso compadre Seabra (16) e o Conde da Graciosa (17) e a Quinta da Murteira da Maria Romana e o Buçaco (18).

Em carta de 9 de Outubro daquele ano, e ainda de Mogofores, dizia:

«Amanhã, se o tempo consentir vamos passar o dia a Aguim, a prima Benedita, o Bispo, o Padre José Maria Carreira, meu actual secretário, e eu» (19).

Por aqui se vê, igualmente, que foram sempre amistosas as relações dos Castilhos com os Cerveiras, com eles aparentados, como também já se disse. Dos Cerveiras, foi figura de relevo o Bispo D. José Xavier Cerveira e Sousa, que ao tempo em que faleceu na Castanheira do Vouga o Doutor José Feliciano, estava como pároco na freguesia de Aguada de Cima, no concelho de Águeda, e compareceu logo na residência paroquial, a compartilhar do / 171 / desgosto que ali feriu os dois filhos dedicados do Doutor Castilho. D. José Xavier Cerveira manteve sempre com a família Castilho as melhores relações de estima. Quando mais tarde foi nomeado Bispo de Beja e ia a Lisboa para ocupar o seu lugar na Câmara dos Pares, não deixava de visitar os Castilhos, então com residência na Capital.

D. José Xavier Cerveira e Sousa

JÚLIO DE CASTILHO refere-se muitas vezes a este Prelado, nas suas «Memórias» e pinta-nos o seu retrato com tão vivas e / 172 / expressivas cores, que ficam aqui bem os períodos que a ele se referem:

«Era um homem dos seus 52 anos alcaxinado, olhos garços, nariz aquilino, ar fradesco e afável, muito cabralista, repisador nas conversações e levando muito tempo para contar qualquer história, entremeada de pitadas que tirava com delícia da sua caixa de oiro muito sacudida previamente» (20).

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Falando de Aguim e dos Cerveiras, e dentro da orientação a que subordino todos os meus trabalhos, procurando coordenar e reunir tudo o que possa valer como puro e são Regionalismo, ocorre-me o nome de um artista de incontestável mérito, embora pouco conhecido, porque, tendo um feitio invulgarmente modesto, raros sabiam dos seus dotes artísticos, que por iniciativa própria, nunca se tornariam conhecidos, e que só o foram devido a amigos seus que muito lhos apreciavam: refiro-me ao Dr. Joaquim de Mariz, que, não sendo embora natural de Aguim, Cerveira era também por seus ascendentes maternos que dali foram (21) tendo por estes, por seu pai e avós paternos, fundas raízes bairradinas.

O Dr. Joaquim de Mariz, tinha pela Bairrada, cujas belezas naturais enlevadamente encarecia, o mais vivo culto. E além da sua estada habitual, pelo verão, no Luso e Buçaco, muitas outras vezes por ali ia, quando estudante, principalmente, de visita a parentes seus, que muitos tinha naquela região. Ao acaso, e corroborando o que deixamos dito, aqui fica esta passagem / 173 / duma carta por ele escrita a seu pai, de casa de uns primos da Vacariça, onde se achava, datada de 17 de Setembro de 1875:

«Queremos influir a família da casa para irmos todos de ranchada no Domingo até ao Buçaco, em carro de bois. Para qualquer lado que passeêmos sempre nos aparece majestosa e soberba aquela serra tradicional surgindo dentre a extensa bacia da Bairrada e terras circunvizinhas.»

O Mosteiro do Buçaco (clicar para imagem em alta resolução).

O Dr. Mariz foi um desenhista de valor, e ao seu apurado lápis se devem trabalhos primorosos, reveladores duma paciência verdadeiramente beneditina. Por meio deles se tornaram conhecidos alguns dos nossos mais notáveis monumentos, assim como paisagens e jóias de arte que em gravuras foram ilustrando algumas das primeiras publicações do género que se fizeram entre nós. Tratando da Bairrada, inserimos aqui um dos desenhos que ele fez sobre o Buçaco, um aspecto do Mosteiro, tão diferente já hoje do que era na época em que o desenho foi feito; veio inserto no livro do Dr. AUGUSTO MENDES SIMÕES DE CASTRO, edição de 1875, Guia Histórico do Viajante no Bussaco, além de um outro − a alameda dos cedros, trabalho cheio de relevo e detalhe. Ambos estes desenhos foram mais tarde reproduzidos no "Portugal Pitoresco", jornal que principiou a publicar-se em Coimbra no ano de 1879, sob a direcção do mesmo erudito escritor.

/ 174 / Outros trabalhos anteriores podem no entanto anotar-se como seus, tendo dado preferência na enumeração destes, em vista do assunto deste artigo. Foi principalmente sobre os monumentos e paisagens de Coimbra, a terra do seu berço, que incidiu mais demoradamente, a sua atenção; de muito cedo se lhe revelaram pronunciadas tendências para a arte do desenho e datam de 1861 as suas primeiras produções; tinha então 14 anos: poderemos chamar a estes trabalhos, em que o traço não tem ainda a segurança que se nota nos desenhos posteriores, as suas provas de experiência ou tentativa. Dominam de preferência o seu espírito os nossos monumentos históricos, sobre que deixou rasto de maior vulto, sendo de pôr em relevo os desenhos que fez sobre as igrejas românicas de Coimbra. Ainda hoje corre ali que o Dr. Mariz, ao desenhar o magnífico pórtico da Sé Velha, contou, uma por uma, todas as suas pedras!

São de 1861-1865 numerosos desenhos de assuntos diversos que se guardam na família, a maior parte deles formando um volume encadernado, pois fazem parte duma espécie de revista ou jornal enciclopédico, por ele manuscrito, a que pôs o título «Distracção Pictoresca de Instrução e Recreio», e em que trata os mais variados assuntos, ilustrada com vinhetas e motivos do mais delicado pormenor.

A primeira colaboração artística do Dr. Mariz em publicações, julgo ter sido a que se vê no Guia Histórico do Viajante em Coimbra, também da autoria do Dr. AUGUSTO MENDES SIMÕES DE CASTRO, publicado em 1867, onde se vêem gravuras decalcadas em desenhos seus da igreja de Santa Cruz, Claustro do Silêncio, Jardim Botânico, Colégio de S. Bento, Cerco dos Jesuítas e Museu.

Em 1870 é publicado o livro Reliquias da Architectura Romano-Byzantina em Portugal, de que foi autor o Lente de Medicina e conhecido crítico de arte Doutor AUGUSTO FILIPE SIMÕES e lá vêm também quatro valiosas litografias da Imprensa da Universidade, sobre desenhos do Dr. MARIZ, com as portadas, capitéis e algumas lápides, das igrejas românicas de S. Tiago, S. Cristóvão, Sé Velha e S. Salvador, trabalho do mais minucioso acabamento. Nesta obra, hoje considerada raridade bibliográfica, não se limitou a fornecer os desenhos: ele mesmo os gravou, como se vê das estampas, com um rigor e segurança de traço inexcedíveis. Devem ser também desta época umas litografias da mesma imprensa, representando o túmulo de pedra da Rainha Santa Isabel, uma das ruas principais do Jardim Botânico, e a pia baptismal da Sé de Coimbra, o primeiro em gravura sua, ignorando se foram publicados.

Mais tarde publica-se o Portugal Pitoresco, revista colaborada por muitos dos melhores publicistas de então e aí aparecem novos trabalhos do Dr. JOAQUIM DE MARIZ: uma linda / 175 / vista geral da cidade de Coimbra, o interior da Biblioteca da Universidade, um cálice do século XVI, da Sé de Coimbra, e uma vista central da Universidade, como pode ver-se no volume I da mencionada revista, ano de 1879. Na revista «Occidente» também foram reproduzidos desenhos seus, assim como em alguns antigos anuários da Universidade.

Muitos outros trabalhos deste género ficaram do Dr. MARIZ, embora só a isso se tivesse dedicado enquanto estudante, e nas horas que os seus estudos lhe deixavam livres; mas não cabe no âmbito destas notas o enumerá-los, e deixamos apenas um ligeiro esboço da sua actividade artística que tanto contribuiu para tornar conhecidas duma maneira mais vincada algumas das melhores belezas da sua terra (22).

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Nesta sequência de ideias e de factos, e para finalizar, queremos ainda deixar aqui o nome do Dr. MANUEL FERREIRA PORTELA, advogado distinto e poeta de merecimento, que deixou um livro intitulado Cantos na Solidão, publicado em 1865, com uma introdução de ANTERO DE QUENTAL, que vem reproduzida nas Prosas de Antero, Vol. I. O livro contém poesias várias, vazadas nos moldes literários da época, e dedicadas algumas delas a parentes e amigos do Poeta.

O Dr. MANUEL FERREIRA PORTELA, nasceu a 26 de Junho de 1842, em Aguim, sendo filho de Joaquim Ferreira da Portela e de Justina Maria de Jesus, do mesmo lugar (23).

SOARES DA GRAÇA


(Seguem documentos)

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DOCUMENTOS

«Aguim e Braga M.el Machado Teyx.ra e Josepha Luiza Serv.ra Aos seis dias do mes de Outubro de mil esete centos esincoenta equatro selebraraõ oSacramento do Matrimonio em minha prezença edas testemunhas no fim deste assinadas ede m.tas mais na Capella de Nossa Sn.ra do Ó do Lugar de Aguim com Licença do M. R. S.r D.r Provizor deste Bisp.º Manoel Machado Teyxeira veuvo qe ficou de Thereza Serveyra do Lugar da MiaIhada freguezia da Vacarica natural da cidade de Braga com Josefa Serveyra filha de Francisco Serveyra e de Maria Serveyra do Lugar de Aguim os quais contrahentes foraõ dispensados per Bulla Ap.ca em segundo eterceiro grao per huma parte em terceyro equarto tudo de afinidade por outra p.te tudo na forma do Sagrado Conc. Trid.º Const. e Past. deste Bisp.do sem mais algum impedim.to doq os asima dispencados per Snca q se me aprezentou domesmo Sobred.to PreIlado. Forão testemunhas Prezentes o R. P.e Cura desta freguezia An.º Gomes de S. Jose e Manoel solteyro meu criado e per verdade fiz este termo q todos asinamos dia mez e an.º ut supra O Prior Manuel d Carv.º Curado P.e Cura Ant.º Gomes de S. Jose O C.º M.el + solt.ro »

À margem deste assento está uma nota de que foi passada certidão deste registo em 26 de Fevereiro de 1821, a requerimento de MACHADO DE CASTRO.

«Aguim Antonio aos des dias do Mez de Setembro de mil e sete centos e cincoenta e seis annos bautizey â Antonio q nasceu em o primeyro deste prezente mez filho de Manoel Machado Teyxeira e de Josepha Serveyra, elle natural da cidade de Braga; e ella de Aguim. Neto paterno de Gonçalo Teyxeyra de S. Romam da Carvalhoza concelho de S. Crus junto â Villa de Amarante e de Mariana Machada de Miranda da cidade de Braga, e materno de Francisco Serveyra e de Maria Serveyra de Aguim. forão Padrinhos Frey Manoel tio do Bautisado jrmão de suâ May e N. Sn.ra do Ó de Aguim. Forão testemunhas prezentes o P.e Luiz Fran.co de Aguim e Fran.co Serveyra e por verd.e fiz este asento q asiney dia, mez, e an.º ut supra. Fran.co Cerv.ra O Prior Manoel Carv.º Curado O P. Luis Fr.co»

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(1) − Na casa dos Cerveiras de Aguim conservou-se durante muitos anos o pequeno modelo feito em madeira por M. DE CASTRO para orientar aquela construção. Foi mais tarde inutilizado por uma das senhoras da casa, a quem o deram em criança como brinquedo.

D. José Xavier Cerveira e Sousa era natural de Mogofores, onde nasceu a 27 de Novembro de 1797, tendo ali falecido a 15 de Março de 1862. Jaz na capela mor da igreja daquela freguesia, sob pedra tumular armoriada. Era filho do Dr. José Xavier Cerveira, de Aguim e de D. Rosa Joaquina de Sousa Correia, de Mogofores. Neto paterno de Francisco Xavier Cerveira e de Luísa Antónia; neto materno de João de Sousa Correia e de Isabel Maria das Neves. Foi Lente de Teologia na Universidade de Coimbra, Bispo do Funchal, Beja e Viseu. Sobre esta família e parentes mais recentes, pode ver-se um interessante estudo no n.º 13 do Arquivo do Distrito de Aveiro, de ALFREDO KENNEDY FALCÃO.

(2) − À rua onde fica situada esta casa, foi pelos anos de 1885, e por proposta do vereador da Câmara de Anadia, José Ferreira Portela, dado o nome de MACHADO DE CASTRO, homenagem simples, é certo, em razão do mérito do homenageado, mas de um grande alcance por continuar a tradição de ali ter permanecido algum tempo tão notável artista. Por este motivo, entendi inscrever aqui o nome do referido vereador.

(3)  − Menciono este trabalho do grande escultor, por ser aquele que maior renome lhe deu; mas quantas coisas mais, cheias de beleza, se lhe ficaram devendo! O seu engenho artístico ficou brilhantemente assinalado em várias obras primas da nossa escultura, nos conventos de Mafra, Estrela, igreja da Encarnação de Lisboa, etc., etc.; além do que nos deixou como barrista, arte em que foi inimitável, atingindo as suas figuras, modeladas em barro, que povoam os presépios da sua autoria, animando-os com tanto relevo, um grau de inexcedível perfeição. Como exemplo dessa modalidade artística, temos aqui bem perto de nós esse formoso grupo escultórico Sagrada Família − que se guarda no Museu de Aveiro, pleno de movimento e graciosidade, e que por si só faria a reputação dum grande Mestre.

(4) − Registo Paroquial de Tamengos, no de 1754.

(5)Os Barristas Portugueses, de LUÍS CHAVES, ed. de 1925, e o mesmo in Dicionário Portugal, Vol. IV, fI. 655.

(6) − A primeira chamava-se D. Izidora Teresa de Jesus e Silva, a segunda D. Rosa Maria Vieira, e a terceira D. Ana Bárbara de Sousa, só desta tendo descendência. Vide o excelente trabalho sobre o grande escultor, de HENRIQUE DE CAMPOS FERREIRA LIMA, in Joaquim Machado de Castro, escultor conimbricense, ed. de 1925, pág. 30. Encontro D. Ana Bárbara de Sousa a servir de madrinha no baptizado do Dr. António Xavier Cerveira e Sousa, irmão do Bispo D. José, em 16 de Julho de 1795. Padrinho foi António Xavier Machado Cerveira, de quem brevemente falaremos. R. Paroquial de Mogofores, 1795.

(7) Joaquim Machado de Castro, ob. cit., pág. 6.

(8)Joaquim Machado de Castro, escultor conimbricense, ob. cit., pág. 7; e Dicionário Portugal, Vol. IV, fl. 659.

(9) Dicionário Portugal, Vol. IV, fl. 662.

(10)Dicionário Portugal, Vol. IV, fI. 662.

(11) − O Dr. José F. de Castilho era neto materno de Domingos Francisco Ruivo e de Maria Gomes, de Aguim. 2.º neto de outro Domingos Francisco Ruivo e de Maria Fernandes, que casaram a 22 de Agosto de 1717. O apelido Fernandes aparece nos primeiros registos dos livros paroquiais, sendo comum de várias famílias dali.

(12)Memórias de Castilho, de onde extraí as notas que antecedem; t. I. Estas estadas no campo, e a vida que ali se levava, deram ao Poeta CASTILHO muito assunto para as suas composições literárias, merecendo salientar-se o seu livro «Mil e um Mistérios», que segundo corre, foi escrito, na sua maior parte, no mirante da Quinta da Murteira. Desta obra merece referência especial o capitulo intitulado «O ermo», onde se faz uma descrição admirável da mata do Buçaco, e alusões às ermidas, ao convento, à vida religiosa dós eremitas, etc.

(13) − Memórias citadas, mesmo lugar.

(14) Joaquim Machado de Castro, escultor conimbricense, ob. cit., págs. 81 e 29.

(15) Joaquim Machado de Castro, escultor conimbricense, ob. cit., págs. 81 e 29.

(16) − António Luís de Seabra, depois Visconde de Seabra.

(17) − Depois Marquês do mesmo título.

(18) − Memórias, tomo VII, pág. 164, V.º.

(19) − Idem, pág. 165.

(20) − Memórias cit, t. v. 186, 187.

(21) − O Dr. Joaquim de Mariz nasceu em Coimbra a 28 de Janeiro de 1847. Terminou com distinção o seu curso de medicina no ano de 1878. Dedicou-se aos estudos de Botânica, de que foi naturalista, deixando trabalhos de assinalado mérito neste campo científico tanto em Portugal como no estrangeiro. Foi sócio do Instituto de Coimbra e da Academia Real das Ciências. Era filho de Joaquim de Mariz e de D. Maria José da Costa Pinto, ambos de Anadia, tendo aquele nascido a 6 de Setembro de 1807 e esta a 9 de Março de 1815, sendo filha de António da Costa Pinto e de Cláudia Maria Cerveira, ele de Anadia, ela de Aguim, onde nasceu no ano de 1776. Cláudia Maria Cerveira era, por sua vez, filha de José Cerveira e de Luísa Fernandes Calado, ele natural de Sarnadelo, onde nasceu a 22 de Dezembro de 1742, e ela de Aguim. José Cerveira era filho de António Francisco Cerveira e de Maria Ferreira, sua mulher, de Sarnadelo; e neto paterno de outro António Francisco Cerveira, de Aguim e de Ana Fernandes, de Sarnadelo, cujo casamento se realizou a 3 de Fevereiro de 1687. Neto materno de António Lopes da Portela e de Esperança Ferreira, de Aguim, também. Luísa Fernandes Calado nasceu em Aguim em 1744. Era filha de Manuel Fernandes Calado e Rosa Lopes. Neta paterna de António Fernandes Calado e de Ana Fernandes; materna de António Lopes e de Madalena Fernandes, de Aguim.

(22) − Merece ainda referência um desenho seu, representando a Praça Velha da Figueira da Foz, publicado em gravura no Almanach da Praia da Figueira para 1879-1880. No Dicionário «Portugal», V. IV, fi. 862, vem algumas notas biográficas a seu respeito, com indicação de obras em que colaborou artisticamente. No mesmo V., fl. 859, a biografia de seu irmão D. José Alves de Mariz, Bispo de Bragança, que nasceu em Coimbra a 5 de Fevereiro de 1844.

(23) − Era neto paterno de José Ferreira da PorteIa e de sua mulher Ana Maria, e materno de Manuel Lopes Ferreira e de Josefa Maria de Sant'Ana, todos de Aguim, ascendentes também da Ex.ma Senhora D. Albertina Portela, actual possuidora da Casa dos Cerveiras, a quem, como ao meu prezado amigo e distinto advogado em Anadia, Dr. José Rodrigues, devo algumas das informações colhidas in loco, e que reproduzo neste trabalho, pelo que lhes deixo aqui consignados os meus agradecimentos.

 

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