João Domingues Arede, Vestígios da dominação romana e goda em Nogueira do Cravo, Vol. 2, pp. 109-110.

VESTÍGIOS DA DOMINAÇÃO ROMANA E GODA

EM NOGUEIRA DO CRAVO, DE

OLIVEIRA DE AZEMÉIS

PONDO à vista do leitor entendido um antiquíssimo costume, ainda hoje observado na freguesia de Nogueira do Cravo, sobre o cômputo do tempo da rega em partilhas da água de uma fonte lá existente, crerá por certo que o mesmo costume é um autêntico vestígio da dominação romana e goda nesta região.

Por o julgar importante e muito interessante aqui o registo:

Galo Pró-Sesta
Terça
Sol posto
Sesta
Meia noite

Galo É o tempo computado desde a meia noite até o nascer do sol.

Terça Desde o nascer do sol até os 6 pés, isto é, quando a sombra do homem mede esta extensão.

Sesta Desde os 6 pés de sombra até os 4 pés depois do meio dia.

Pró-sesta   Desde os 4 pés de sombra até o pôr do sol.

Sol posto  −  Desde o pôr do sol até que se não veja a cruz do dinheiro.

Meia noite   Desde que se não vê a cruz do dinheiro até à meia noite.

Este costume de contar o tempo, evidentemente de origem romana, foi seguido também pelos Godos, como se deduz do cômputo do tempo «sol posto», a que estes deram um sinal cristão   a simples vista da cruz do dinheiro durante o crepúsculo / 110 / vespertino, a que não é de estranhar por os Godos serem cristãos, e não pagãos como os Romanos.

Nos tempos bárbaros e medievais a cruz era também o termo da jurisprudência.

O mesma costume representa um vestígio da dominação romana continuado pelos Godos, porque os Romanos, bem como os Judeus, não contavam o tempo como os povos que lhes sucederam no decorrer dos séculos. Para os Romanos, o seu relógio. natural era unicamente o sol, e dividiam tanto o dia como a noite em doze horas. Estas horas eram divididas em quatro partes, a cada uma das quais eram assinadas três horas que, durante o dia, tinham os nomes de hora prima, terça, sexta e nona; e as horas da noite tomavam o nome de vigílias. Mais:

A invenção dos primeiros relógios data da século IX. E assim: Pacífico, Arcediago de Verona, compôs os primeiros relógios de roda e mola nao século 9.º, dividindo neles o dia em 24 partes iguais, e oPapa Silvestre II inventou os relógios de pêndulo, no ano de 999. Outros se lhe seguiram nas mesmas invenções, tais foram os padres Schouberger, João Baptista Trota, Jaques Alexandre, João de Hautefeuille, Inácio Gaston e, mais tarde, Taylor e Marchan. Portanto:

Nesses tempos recuados e de atraso. industrial foi de boa razão designar pelo nome de Galo o tempo., que vai desde a meia noite ao nascer do sol, porquanto o sol, mesmo como relógio natural, não podia mostrar as alturas da noite, e daí a necessidade de o homem ter de regular o cálculo do tempo durante a noite, pelo canto dos galos.

A Terça Abrange o tempo que vai desde o nascer do sol até às 9 horas. E na Têrça está incluída a hora prima que começava ao nascer do sol.

A Sesta compreende o tempo que vai desde as 9 horas ao meio dia.

Pró-Sesta corresponde à hora undécima dos Romanos, ou seja, 5 horas da tarde. Nesta está incluída a hora nona.

Sol posto é o crepúsculo vespertino, ou seja, a claridade que se vê depois do sol posto até à noite fechada.

Meia noite é o tempo que vai desde a noite fechada até ao primeiro canto da galo, emblema da vigilância.

--o-O-o--

Como a história é interessante!

E que longos séculos andados para se alcançar o alto grau de civilização que hoje vemos em todo o mundo!

Cucujães − Março de 1936

ABADE JOÃO DOMINGUES AREDE

 

Página anterior

Índice

Página seguinte