Tendo-me
referido em número anterior do Arquivo ao
«Dolmen da Cerqueira» e «Forno dos Moiros» não
quero deixar de apresentar também hoje aos caros
leitores da nóvel revista a fotografia de duas pontes deste concelho.
São elas a do Poço de Santiago e a de Pessegueiro sobre
o Vouga.
São duas obras que embelezam, engrandecem e notabilizam
o concelho de Sever e mormente a freguesia de Pessegueiro.
Não são muito antigas, pois que a primeira terá vinte e tantos anos e a segunda cento e vinte e cinco a cento e quarenta.
A ponte do Poço de Santiago que serve a linha férrea do
Vale do Vouga é o que pode chamar-se uma obra imponente e
majestosa quer pela sua altura de muitos metros quer pelo seu
comprimento, número de arcos, etc. Toda ela em alvenaria e
cimento armado impressiona agradavelmente o visitante.
No seu género é, sem favor, uma das mais importantes do país.
Esta ponte, que dá passagem ao comboio
nas alturas do
apeadeiro de Santiago é digna de figurar e de ser mencionada
em qualquer revista.
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A ponte de Pessegueiro sobre o Vouga contando mais de
um século de existência é também digna de nota.
Divide a freguesia de Pessegueiro da de Paradela emprestando àquele local muita poesia e graciosidade.
Dela se desfruta um surpreendente panorama.
Realmente, quem sobre a ponte espraia a vista para um e
outro lado, para o rio que desliza mansamente como um grosso
fio de prata formando entre este local e a represa da central
eléctrica da Sociedade Industrial do Vouga como que bonançoso
lago, e para as margens cheias de arvoredo, de flores e relvado... quem tudo isto analisa e contempla há-de por força sentir-se bem e quedar um instante a admirar os primores com que
o Autor da Natureza dotou estas terras do meu concelho.
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SEVER DO
VOUGA − Ponte de Pessegueiro, sobre o Vouga. |
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Mas, afora isto, julgo esta obra digna de menção porque representa o esforço dum benemérito deste concelho.
Refiro-me ao benemérito abade Manuel Dias Santiago, que não só mandou
construir à sua custa esta ponte bem como a do rio Mau, como também
mandou reconstruir a Igreja de Pessegueiro, a torre, instituiu o legado
das moças pobres e o da fábrica e dotou a Igreja com um sino grande e
paramentos ricos. É o que diz a lápide junto à sua sepultura que se
acha sob o
púlpito desta freguesia, que por bastantes anos ele pastoreou.
Alguém, referindo-se a esta ponte diz:
«A ponte de Pessegueiro sobre o Vouga representa o mérito
de Manuel Dias Santiago, abade que foi daquela freguesia e que, pela sua
filantropia e abnegação, vinculou indelevelmente o seu nome no espírito
de todos os que dele tiveram
conhecimento. Era naquele tempo o local, onde hoje floresce a povoação
da Ponte, sítio silvestre, alcantilado e perigoso para os habitantes de
Paradela no seu trajecto para Pessegueiro. A passagem duma margem para a
outra faziam-na em pequenas barcas que nem sempre podiam navegar, em
virtude da desigualdade das estações.
O solícito pastor não podia levar-lhes como devia os auxílios
espirituais muitas vezes reclamados, nem os habitantes de Paradela
podiam dar à terra os cadáveres dos seus quando era preciso, mas, muitas
vezes, só quando o Vouga cleixava.
Por isso o generoso abade concebeu o plano de erguer uma ponte sobre as
fragas íngremes duma passagem mais estreita do rio».
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Eis a história desta ponte. Majestosa pela sua altura, tem
arrostado as idades e as investidas das águas.
Em 1872 foi para ela conduzida a estrada distrital, sendo
nessa ocasião alargada com passeios laterais.
E desde então começou
este local a ser um dos mais agradáveis do concelho.
Estas duas pontes, a par de muitas outras belezas naturais
e artificiais, tornam estes sítios aprazíveis, poéticos e lindos.
Pessegueiro do Vouga, Setembro, 1935.
ABADE JOSÉ LUCIANO LOBO
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