As Horas de Penélope, Âncora, Âncora Editora, 2005, pp. 74 - 75.

NATUREZA MORTA

 

O amarelo bondoso
das maçãs
alastrava no prato de faiança

por cima o embaraço fálico
de duas bananas estrangeiras

ao lado umas uvas tardias
escorregavam lassas
entre os dedos

uma nódoa negra
tinha tocado podre
uma descuidada e solitária
pêra rocha

e coroando o prato
o riso eufórico
de cinco belíssimas laranjas!

Um ramo de hortelã
ainda verde
num púcaro transparente
perfumava o ar

Enquanto para lá do vidro da janela
o sol outonal desprevenido
persistia em brilhar

 

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