As Horas de Penélope, Âncora, Âncora Editora, 2005, pp. 33-34.

 CARTA DE AMOR

 

Quero guardar os teus beijos
agora que são ardentes... e urgentes
para o tempo do deserto e da fome

E o cheiro da tua pele
na roupa molhada do amor

Quero beber as tuas mãos
na hora da dúvida e da ausência
e prender o laço dos teus braços à volta de mim

Quero sentir a vibração do universo
e a loucura das estrelas cadentes
quando nos amamos

Quero que me toques agora meu verão ardente
quando chego com uma rosa nos lábios
e do lugar mais secreto de mim corre um rio

Agora que o nosso amor tem a força dos rebentos
no tempo em que termina o Inverno
e o meu coração se desata ao encontro do teu
casa dos meus afectos
e eu te celebro meu companheiro meu amante

escreve-me uma carta de amor!

Vou escondê-la no buraco mais fundo
e guardar de memória o mapa do tesouro

Quero reencontrar nela todos os beijos
que me deste
e os sons os cheiros e as ondas do teu mar

No exílio de ti
a esperança do Futuro
está na carta de amor
que não escreveste

Escreve-a amor

Peço-te!

 

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