Domingo XV do tempo comum (ano C)
1ª leitura: Deuteronómio, 30,
10-14
2ª leitura: carta aos Colossenses,
1, 15-20
Evangelho: S.
Lucas, 10, 25-37.
Não vale a pena iludir as
respostas, quando estas dependem de nós. Reza a tradição que um
sábio mestre do oriente repetia sem cessar: «atenção, atenção!»
Perguntando-lhe o discípulo o que
afinal queria dizer com isso, teria o mestre esclarecido com um
sorriso: «atenção quer dizer atenção».
Atenção ao que passa perto de ti,
atende ao teu coração! – Diz a 1ª leitura; atenção ao que Jesus é
para o mundo! – grita S. Paulo; atenção aos teus pensamentos e aos
teus passos, que sejam movidos pela procura da justiça sem
fingimento – remata por fim Jesus (a modos daquele mestre que dizia
sempre a mesma coisa mas significando sempre um novo modo de agir);
não fiques a discutir academicamente «quem é o meu próximo», porque,
se ouvires o teu coração e se olhares bem à tua volta, sem te
quereres enganar a ti próprio, logo verás que é a ti que compete
transformar em bem-fazer a tua atenção.
A 1ª leitura é retirada de um
vasto e importantíssimo texto sobre a aliança entre Deus e os
Homens, tão importante que foi posto na boca de Moisés. Na
realidade, consiste num aglomerado de exortações mas também de
aprofundamento de conceitos centrais para o emergente judaísmo
(“palavra, lei, aliança, mandamento, herança, sabedoria”...), cada
vez mais consciente do alto nível da sua espiritualidade. O livro
foi-se formando desde os anos 700 até 400 a.C. E o «povo escolhido»
não hesita em pôr na boca dos outros povos palavras de admiração:
«Que povo sábio e inteligente é esta grande nação! E que tem um Deus
tão perto do povo, atento às suas orações e que traçou leis e
preceitos tão justos! (Deuteronómio, 4, 1-14).
O Deuteronómio exorta-nos a estar
atentos às várias maneiras com que Deus se aproxima de nós (para
além das festas litúrgicas), para assim descobrir os traços de Deus
e a sabedoria sobre o que é o Homem.
Provavelmente, o doutor da lei
(evangelho) tinha o Deuteronómio tão bem decorado, que não teve
tempo para lhe prestar atenção. E assim deixou de ver a simplicidade
de Deus e como Ele nos fez «à sua imagem». Deus está sempre à
espreita, “mortinho” por que seja convidado a entrar em cena. Também
Jesus se mostrou muitas vezes “mortinho” por que o deixemos «fazer
parte do nosso grupo». E o viajante maltratado, esse, encontrava-se
literalmente “mortinho” por ser socorrido por alguém também
consciente de ser imagem de Deus.
E o samaritano? Esse tinha a
sabedoria que nos ensina a cuidar do bem-estar dos outros, mesmo dos
que necessitam de intervenção urgente, sem fugir do «caminho» dos
objectivos orientados para uma vida melhor para ele e para todos,
sabendo aproveitar as potencialidades de ajuda de quantos nos
rodeiam. Tinha a sabedoria resultante de dar atenção a Deus.
Ora atenção a Deus quer dizer:
atenção à imagem de Deus. |