A Páscoa é sempre pagã

Pagão tem a nobreza antiga de uma pujante raiz de palavras:

PAK – o sólido pau que marca os limites dos campos fecundos

Ao redor dos pagos longe da corrupção das cidades.

Tem a força dos pactos e a estabilidade da paz

E a beleza da página bem lavrada em esquadria

Como os sulcos que fertilizam a terra.

 

Mesmo com nuvens negras, é sempre um dia bonito.

E a cruz engalanada faz sentir o cheiro a vida.

 

A Páscoa é sempre pagã

Porque nasce com a força da primavera

Entre as flores que nos cativam com promessas de frutos.

Porque cheira ao sol que brilha na chuva

E transforma a terra em páginas cultivadas

Donde nascem os grandes livros, os pensamentos

E as cidades que se firmam em pactos de paz.

É a Páscoa dos Discípulos de Emaús:

Afastavam-se de Jerusalém lembrando esperanças perdidas.

(Dói muito ver partir quem caminha connosco de braço dado…)

Mas guardavam de Jesus uma imagem luminosa

Porque o seu agir e falar apontavam para o futuro

Para o bem maior das gerações que vão crescendo  

(Lembrando que a mulher em dores de parto

Exulta de alegria por ter gerado vida nova).

Confusos de tão tristes

Não conseguiam abrir as páginas da vida e das Escrituras.

Quando as souberam ler?

– Ao darem atenção a um desconhecido viajante…

 

Aproximou-se delicadamente

Para não ferir esse mundo de tristeza

E por saber ler a profunda alegria

Escondida entre páginas sagradas.

Mostrou-lhes que o Jesus crucificado

Não se encontra entre os mortos – vive sim

Na alegria de Deus e sempre amigo

E pronto a partilhar o pão da Paz

Com aqueles que vão sulcando a terra

Suando mas cantando – como filhos

Do Senhor que de longe os vai guiando.

Aveiro, 27-03-2021

 

  Página anterior Página inicial Página seguinte