A junção de BELEZA e ECUMENISMO evoca a luxuriante diversidade num
jardim. A beleza tem afinidades com a surpresa: é a vitória sobre o
banal, o monótono.
Acontece que uma espécie de medo ou acanhamento nos chega a impedir
de sair de casa, de ver coisas diferentes do nosso «pequeno mundo»…
até porque nos podemos «perder» nos vários sentidos da palavra.
A relação com os outros é natural que gere alguma inquietação.
Duvidamos, um bocadinho que seja, da qualidade das «flores novas».
Sabemos (sem «saber dizê-lo») que a própria vida sexual é um
estranho jardim… E até muitas vezes temos medo de Deus – porque nada
pode ser mais «estranho».
Como é que Jesus nos conseguiu «sentar à mesa com Deus»? Foi
simplesmente ao encontro dos outros. Sem se pôr acima de ninguém -
nem abaixo de ninguém. Como um singelo jardineiro.
Durante a sua vida (Mt.10,5-16; Lc.10,1-12), fez um teste aos
discípulos: enviou-os como se se tratasse de um projecto de
«jardinagem».Não podiam perder tempo pelo caminho e muito menos
durante o trabalho (o que é bom é para ser bem feito!). E se não
fossem bem recebidos, até deviam sacudir o pó ou a lama que se
agarrasse aos sapatos. Como quem diz: é perigoso deixar que os
ideais sejam corrompidos por coisas aparentemente pequenas a que
podemos ficar agarrados. Por outro lado, ele sabia bem o que é
«transparência» a sério… Quem não gosta de melhorar os canteiros,
não merece que lhe tratem do jardim. Pelo contrário, se gostam de
multiplicar a beleza, todo o trabalho terá um ambiente de alegria e
paz.
E deu exemplo do que disse: se a semente não cai na terra e não
morre, não pode dar flores e frutos. Os discípulos, aprendizes
desorientados, só passadas muitas semanas após a morte de Jesus, é
que se deram conta do trabalho a fazer. Precisavam de relembrar os
ensinamentos do Mestre e de vencer o medo de se expor.
Assim fizeram, durante«7x7 semanas» – número «perfeito», símbolo do
tempo necessário para poderem, por sua vez, dar flor e fruto.
Portanto, foi no dia seguinte a estas semanas simbólicas – o dia de
«PENTECOSTES» ou «quinquagésimo» – que apareceram «na praça
pública», com um ar tão confiante e transbordante de alegre
energia, que toda a gente os queria como «jardineiros». Não
precisavam de lhes perceber as palavras: ficaram encantados e
convencidos pela arte do trabalho deles. Sabiam juntar humildade e
autoridade. Só faziam aquilo de que estavam convencidos ser o
melhor.
Nascera o «MOVIMENTO ECUMÉNICO»: uma nova era de jardins e de boas
sementes, formando uma «casa comum» com a beleza irradiante de
alternados canteiros simples ou exóticos.
A ciência e especialização crescente dos «jardineiros» deu ao
ECUMENISMO novos sentidos, mais «especializados» e menos «globais»:
organização institucional, convergência doutrinal, espiritualidade
superior às barreiras burocráticas… Felizmente, é cada vez mais
reconhecido que o essencial do ecumenismo é a união da Humanidade e
não especificamente das Igrejas. Só vai ao encontro dos outros quem
não fica sentado a «classificar» os canteiros. É preciso
aventurar-se pelos Jardins vivos, e crescer com eles espalhando
optimismo, alegria a sério, o prazer de convívio…
É pelo diálogo que descobrimos as qualidades da boa terra local.
Eliminando a cizânia da «superioridade», fonte de discórdia,
humilhações e ódios. Conscientes de que ninguém pode
exprimir correctamente a verdade, e muito menos pretender possuí-la
inteiramente. Todos os seres humanos têm esta limitação, mesmo se
impelidos a falar pelo Espírito de Deus.
Para «terminar em Beleza»: comecemos por conhecer a Beleza do «nosso
jardim». Quanto mais aprofundarmos o Cristianismo, mais alta será a
prancha de lançamento ao encontro de todos os que procuram o mesmo
Deus. É um exercício a ser feito no seio de qualquer outro sistema
religioso. Então, o encontro entre religiões será «transparente» e
só por si um acto profundamente religioso.
O Vaticano II deixou de usar o termo «missão» (por se ter
desvirtuado) e prefere «evangelização»: deixando claro que a «boa
nova» para um ser humano é a realização do «bem-estar» físico e
espiritual, da união (trabalhosa!) entre liberdade e justiça.
Aveiro, 24-05-2019 |