Almanaque Desportivo do Distrito de Aveiro 1950, pág. 30.


Jornalistas Desportivos do Distrito

ALBERTO VALENTE

Antigo guarda-redes do S. C. de Espinho e dos grupos representativos da Associação de Futebol de Aveiro e do Porto, presentemente um dos mais destacados jornalistas da notável equipa do jornal "A Bola".

ALEA JACTA EST...

Mais... e mais depressa!

             Artigo de ALBERTO VALENTE

Eu sei que o nosso Distrito é dos que conta com maior número de centros populacionais desportivos, com maior número de clubes devidamente legalizados e, consequentemente, com maior número de futebolistas em plena actividade. De lés a lés não falta entusiasmo; nem escasseiam boas-vontades; e daí aficion às mãos cheias. Os campeonatos da A. F. A., nestes vinte e tal anos decorridos, reuniram sempre inscrições elevadíssimas nas suas várias categorias. E, através dos tempos, alguns clubes lograram obter classificações ou atingir postos na comunidade do futebol Português que bem atestaram os enormes recursos naturais da relativa classe distrital.

Eu sei. . . Eu sei de tudo isso.

No entanto, a verdade nua e crua é que não tem sido possível aguentar essas posições episodicamente conquistadas e que, de facto, deviam pertencer ao distrito de Aveiro entre todos os restantes núcleos futebolísticos do país sem dúvida melhor cotados, hoje em dia, mas nem por isso melhor fadados no respeitante à quantidade e à qualidade dos seus praticantes indígenas.

E porquê?

Julgo estar em condições de responder pondo o dedo na ferida, visto ter seguido a par e passo a vida dos clubes do nosso meio, em especial daqueles que atingiram autêntica projecção nacional.

O Futebol Aveirense na generalidade tem insistido (com excepções, claro, que só confirmam a regra geral...) em se bastar a si próprio, alinhando até à cabeça do de todos os distritos com o mais baixo índice de importação de jogadores alheios recrutados para alicerçarem vaidosas pretensões em lugares de destaque. Desde as épocas mais remotas que jogadores nossos costumam ser mais vistos em terras estranhas do que elementos estranhos em equipas nossas!

A prata da casa tem firmado razoável cotação na bolsa futebolística portuguesa, embora e infelizmente, com altos e baixos ou seja em clarões intermitentes de fama e de fortuna. Com ela já galgamos ao zénite das nossas aspirações, mas para ceder depois em face de competidores que se impõem à custa de sacrifícios de outra espécie. Concretizando: até agora a prata da casa aveirense tem sido batida aos pontos pelas notas do Banco de Portugal espalhadas a esmo pelos Clubes Grandes do resto do país. Mas o caso tem remédio.

Porque se, no conjunto das circunstâncias, não é mais que sofrível a execução dos jogadores nacionais; se, por via disso, vem sendo aconselhada com insistência a divulgação do A B C do futebol; e se, hoje como ontem e tanto aqui como acolá, o querer é poder ao distrito de Aveiro (mais do que a qualquer outra região) cumpre responder à chamada, lançando-se imediatamente numa campanha de aperfeiçoamento técnico individual de forma a que, quando burilada com esmero, a tal prata da casa nada tenha a temer da concorrência do ouro alheio.

E assim, trabalhando para a desejada melhoria nacional, poderemos também ficar certos de que com a valorização técnica das muitas centenas de rapazes que, por gosto e até por vício, frequenta os terrenos de jogo do Distrito, sairão infalivelmente as necessárias dezenas de futebolistas capazes de honrarem e defenderem os seus Clubes e, por reflexo, de imporem com regularidade as reais possibilidades do futebol Aveirense.

Trabalhar mais e mais depressa do que os outros. Mais... do que até ao presente.

Mais depressa... porque candeia que vai à frente alumia duas vezes!


 

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