O concelho de Gavião
Terra de gloriosos pergaminhos
O Concelho de Gavião vasto, coevo e rico território de cinco antigas freguesias, gloria-se de ter uma história
em tudo digna da hora progressiva que
presentemente atravessa.
A sede do Concelho – Gavião – é
povoação remotíssima que muitos, com fundamentadas razões, julgam
ascender dos tempos romanos em que se chamava «Fraginum» ou «Fraxinum».
Poucos são os dados seguros por
onde possa reconstituir-se o seu passado, mas mesmo assim tem de
chegar-se à conclusão que desempenhou
papel de relevo desde os princípios da
nacionalidade.
Teve castelo, de que, segundo um notável escritor da época,
já na 1.ª
metade do século XVIII não restava senão
uma torre arruinada com vestígios que
lhe testemunham não só a antiguidade,
mas a grandeza que deveu, como é tradição, a el-rei D. João I.
Do seu pelourinho, ainda algumas pessoas mais velhas se lembram dele.
O foral novo que D. Manuel lhe
deu em 23 de Novembro de 1519,
tudo indica fosse reforma dos usos e
direitos que usufruía em virtude doutro foral velho, cuja notícia se
perdeu. Foi uma das vilas do grão-priorado do Crato.
Mas não só a sede, do concelho tem história digna de menção.
A vila de Belver ultrapassou-a mesmo. O seu castelo ainda hoje de pé e
em acelerado ritmo de reconstrução, edificado no tempo de D. Sancho I
por D. Afonso Pais, décimo Prior do Hospital e mais tarde reedificado e ampliado por D. Nuno
Álvares Pereira,
cerca de 1390, era um dos mais importantes dos primeiros tempos da
nossa monarquia, tanto assim que nele mandou D. Sancho I guardar grande
parte dos legados em dinheiro que deixou
por sua morte.
É tradição fomentada que nele residiram além de outros, o Santo
Condestável e a Princesa Santa Joana. Tinha alcaidaria-mór.
Dentro dos seus muros existe uma ermida a S. Braz em que guardavam
as chamadas Santas Relíquias oferecidas pelo Infante D. Luís, filho de el-rei D. Manuel e que Baptista de
Castro cita como das mais milagrosas e veneradas do reino.
A Belver estavam sujeitas muitas terras e povoados.
A insigne e poderosa Ordem do Hospital, mais
tarde conhecida por Ordem de Malta, ali teve a sua sede, depois de Leça
do Bailio e antes de Flor da Rosa.
Na igreja matriz da vila, de traça muito antiga, estão dois belos
retábulos, um assinado por Pedro Alexandrino e o outro sem assinatura
reconhecida mas de uma tal perfeição que fez exclamar a um artista que o
contemplava que só ele era justificação bastante de uma viagem de Lisboa
a Belver.
A vila teve também foral de D. Manuel dado em Lisboa a 18 de Maio de
1518 e pelourinho de que ainda se conhecem algumas pedras.
Por seu lado outra freguesia do concelho – Margem
– também não é de
menos antiguidade. Basta reparar no seu próprio nome que segundo
constata Pinho Leal é a palavra árabe «marge». Teve também foral de D.
Manuel em 1 de Junho de 1518, em que é chamada «Almargem».
Mousinho da Silveira distinguia-a com tal predilecção que, apesar de
não ser seu natural nem lá ter residido, foi ali sepultado em virtude de
sua expressa determinação testamentária.
Nomes ainda hoje ali existentes como o «monte da audiência», a «colina
da forca, e tantos outros atestam o poder autónomo de suas justiças.
Os nomes de Castelo Cernado e Atalaia de Gavião das duas restantes
freguesias do concelho fazem julgar a alguns que deveriam ter tido os
seus castelos de que se perdeu por completo a memória.
Pode concluir-se do exposto que o Concelho de Gavião,
qual sentinela
vigilante nos seus prováveis quatro castelos medievais, bem mereceu da
Pátria Portuguesa e compartilha dignamente da glória das
suas festividades centenárias.
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