FIGURAS IMORTAIS

MANUEL PAPANÇA

O maior, até hoje, de todos os reguenguenses

Por MANUEL HELIODORO RAMALHO

Manuel Augusto Mendes Papança, o maior filho e o maior benemérito de Reguengos, nasceu nesta vila em 28 de Dezembro de 1818 e faleceu em 13 de Outubro de 1886.

Frequentou a Universidade de Coimbra e se bem que não se tivesse diplomado, talvez em consequência da anormalidade em que o país viveu durante as lutas liberais, a sua cultura era apreciável.

Foi um acérrimo propugnador da instrução, patrocinando-a por todos os meios ao seu alcance. Assim, protegeu alguns mancebos pobres que se formaram, sustentando-os por completo, como sustentou o estudo de outros em alguns liceus do país.

Durante vinte anos, de 1851 a 1871, foi presidente da Câmara Municipal, e nesta qualidade, a sua acção foi poderosa, marcando superiormente no desenvolvimento da sua estremosíssima Reguengos. A sua actividade, o seu tacto administrativo, a sua protecção financeira na direcção suprema dos negócios municipais, foram a grande alavanca, o maior amparo e a maior força para a vida e intenso progresso do novo concelho.

Foi colossal a obra deste grande reguenguense.

Começou por pagar do seu bolso oito contos que a Câmara devia de tenças à Fazenda Nacional, subsídios e vencimentos.

Depois foram os grandes melhoramentos.

Revolveu o pavimento irregular das ruas, calcetando-o com cuidado e garantindo assim a segurança do trânsito; fez construir os Paços do Concelho que tem alojado até hoje todos os serviços burocráticos, inclusivamente os da administração da justiça; fez construir o edifício das escolas primárias, com aulas para os dois sexos; fez surgir, como que por milagre, um novo cemitério, delineado e construído com gosto e estética; fez abrir poços para abastecimento público; abriu estradas e caminhos; fundou o Hospital e a Santa Casa da Misericórdia; promoveu, com outros em comissão, a compra, divisão e aforamento, em glebas, de terrenos da Casa de Bragança, o que deu origem ao plantio de um milhão de cepas, desenvolvendo-se prodigiosamente a produção vinícola e tornando, volvidos cinco anos, supremos senhores de bons pedaços de terra, muitos e muitos que até então nunca pensaram que poderiam vir a ser proprietários rurais; estabeleceu, particularmente, na sua Quinta Nova, um pequeno asilo para inválidos de ambos os sexos, que / 307 / ainda hoje os seus ilustres herdeiros mantêm; deu largas à sua generosidade no calamitoso ano de 1876, tornando-se a sua casa o celeiro dos pobres, tornando-se a sua bolsa o maior auxílio das vítimas da mais desoladora invernia de que há memória entre nós; finalmente no seu testamento legou 14 contos para a construção de um novo templo em Reguengos.

Quase todos estes melhoramentos foram realizados a expensas suas.

«Se pudéssemos falar aqui, desenvolvidamente, de todos os melhoramentos materiais por que passou Reguengos de 1850 em diante, ver-se-ia então quanto esforço, quanta generosidade, quanta dedicação lhes imprimiu a mão superiormente amiga, a vontade persistente e inabalável do grande homem. Mas os estreitos limites de um artigo de jornal, obriga-nos a ser restritos, a sumular em notas fugidias os principais benefícios devidos a Manuel Papança – jóias principais da sua coroa de benemérito.

Manuel Papança ficará na tradição local, viverá nela, não só porque a sua personalidade marcou na administração pública, na generosa protecção ao desenvolvimento material da sua terra, mas também porque o seu altruísmo, a sua filantropia, a sua alma cheia de bondade, o definiram notavelmente como um carácter de eleição que aí se aponta como exemplo.

A assistência aos pobres, a protecção e encorajamento ao trabalho, o auxílio da sua bolsa, os ponderados conselhos filhos da sua experiencia e de um senso prático notável, todos estes predicados bem definidos no seu carácter, deram alento a muitos que se julgavam caídos, aplanando-lhes o caminho da vida, iluminando-lhes a vida dolorosa onde lutavam por encontrar rumo.

 

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