Não obstante a injustiça humana, Florbela Espanca, apesar de desaparecida tão nova e quando ainda muito mais havia a esperar das suas prodigiosas faculdades, deixou na nossa literatura assinalado lugar entre os primeiros cultores da Poesia.

E creio poder afirmar que é a primeira das nossas poetisas amorosas e que pertence ao reduzidíssimo número das grandes poetisas portuguesas.

Este é, de facto, o seu mais alto e glorioso monumento!

COSTA LEÃO

Do livro "Poetas do Sul»

 


 

 

 

 

O BUSTO DE FLORBELA

ESPANCA

no jardim público de Évora


Finalmente, já está colocado num plinto, no jardim público de Évora, o busto de Florbela Espanca, que o escultor Diogo de Macedo oferecera ao Grupo Pró-Évora, para este homenagear a memória da grande poetisa. Para a consagração prestada a Florbela, um dos mais belos, mais notáveis espíritos femininos dos últimos tempos, muito contribuiu o notável livro «Poetas do Sul», do brilhante escritor sr. Costa Leão.

 


SONETOS DE FLORBELA ESPANCA


VERSOS

Versos! Versos! Sei lá o que são versos!
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz, cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma!

Versos! Sei lá! Um verso é teu olhar,
Um verso é teu sorriso, e os de Dante
Eram o seu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!

Meus versos! Sei eu lá também o que são!
Sei lá! Sei lá! Meu doido coração
Partido em mil pedaços são talvez...

Versos e Versos! Sei lá o que são versos!
Meus soluços de amor que andam dispersos
Por este grande amor em que não crês!


DOCE CERTEZA

Por essa vida fora hás-de encontrar
Lindas mulheres talvez; em ânsia louca,
Em infinito anseio hás-de beijar
Estrelas de oiro fulgindo em muita boca!

Hás-de guardar em cofre perfumado
Cabelos de oiro, e risos de mulher,
Muito beijo de amor apaixonado;
E não te lembrarás de mim sequer!

Hás-de tecer uns sonhos delicados,
Hão-de por muitos olhos magoados
Os teus olhos de luz andar imersos...

Mas nunca encontrarás p'la vida fora
Amor assim como este amor que chora
Neste beijo de amor que são meus versos!


MEU AMOR

De ti somente um nome sei, Amor,
É pouco, é muito pouco e é bastante
Para que esta paixão doida e constante
Dia após dia cresça com vigor!

Como de um sonho vago e sem fervor
Nasce assim uma paixão tão inquietante;
Meu doido coração triste e amante
Como tu buscas o ideal na dor!

Isto era só quimera, fantasia,
Mágoa de sonho que se esvai num dia,
Perfume leve dum rosal do céu...

Paixão ardente, louca isto é agora,
Vulcão que vai crescendo hora por hora...
Ó meu amor, que imenso amor o meu!
 

 

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