ALENTEJO LINDO E MARAVILHOSO
O Alentejo não é de modo nenhum o descampado poeirento e árido povoado
de bizarras e estranhas gentes, que muitos querem fazer acreditar, mas
uma província que, como as outras, trabalha sofre é vive, na labuta
constante do seu ambiente próprio e que junta o seu esforço, o seu entusiasmo e o seu vigor à de todas as outras, no
engrandecimento, do património comum.
Há pouco tempo ainda esteve no Alentejo um amigo meu do Norte e que
não conhecia do Alentejo mais que o nome e algumas descrições de
viajantes que
vêem, mas não sabem compreender, nem contemplar, e o seu espírito
observador e compreensivo, em, breve transbordou em manifestações de
entusiasmo que lhe irrompia sincero desde a observação dos costumes, do
modo de ser, do temperamento, até ao arranjo das terras, à devoção
pelas culturas, para culminar em admiração pagã em presença dum desses
formigueiros humanos que é uma feira alentejana. E então dizia-me extasiado: «Mas isto não é só um
mundo diferente do que me
diziam, é um mundo diferente do que eu
conheço, um mundo
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onde se sente o palpitar duma vida estuante, que vem toda dum trabalho
intenso e que produz esta abundância e esta alegria de viver».
Com efeito, quem não conhece esses espectáculos de cor, de movimento e
de vida que são as grandes feiras alentejanas: O S. Mateus, O S. João de
Évora, as feiras de Ponte de Sôr, de S. Miguel de Niza e que são de
facto manifestações eloquentes da vitalidade dum povo?
Desde os trajes populares, mais ou menos garridos
mas tão originais, tão
sugestivos, até aos mais variados produtos da indústria caseira, com ressaibos
da mais pura arte e onde se afirma um acentuado engenho artístico, desde a
visão grandiosa de centos ou milhares de cabeças de gado, onde o criador
alentejano põe cuidadosos esforços na selecção das raças, até à alegria estridente
dos bailes rumorosos, onde rodopiam as saias ao som de cantigas
impregnadas de lirismo que rescende o perfume silvestre do
alecrim e do rosmaninho, como fica na nossa retina a delir-se pelos anos fora essa
policromia formidável, essa jovialidade sadia da multidão que se agita,
que se comprime, que compra e vende, entre duas notas alegres que
irrompem às vezes dum comentário com espírito.
JOSÉ CUSTÓDIO NUNES |