O Distrito de Évora e os
seus Poetas
Pelo DR. VICTOR SANTOS
Se, de um modo geral, o Alentejo pode orgulhar-se de uma
plêiade honrosa
de poetas – quantitativa e qualitativamente considerada –, facto de salientar é que o distrito de
Évora foi e é dos que apresentam «palmarés»
dignificante no somatório nacional.
Olhando um pouco o passado, sem pretensão de fazer história pregressa,
mergulhamos em séculos recuados e encontraremos já na «idade de ouro»,
os Resendes, dos quais Garcia nos é mais familiar, através do triplo
aspecto de cronista – crónica de D. João II –, poeta – Miscelânea e
Trovas a Inês de Castro –, e coleccionador – autor da colectânea que tem
o seu nome, o Cancioneiro Geral, que se publicaria por volta de 1516.
No século XVII nota-se um «abaixamento», geral, para não dizer uma quase
ausência de cultores da «gaya sciencia», no distrito, na província e no
pais, e só no século XVIII o árcade montemorense, Curvo Semedo, havia de
dar o nome de afirmação ao reflorir da poesia, que entraria em franco
«renascimento»nos Séculos seguintes(1).
E então, mais perto de nós, sim, que temos afirmações perfeitas, pujantes
umas, graciosas outras, firmes, apaixonantes, absorventes outras ainda,
físicas, frias ou fotográficas tantas.
E é um desfilar contínuo, de mortos e vivos, cada um com o
seu jeito, sua toada e seu clima.
Longa mas não fastidiosa é a lista dos que no nosso distrito
se têm dedicado e dedicam à
«arte de trovar». Indicarei, entre os primeiros, o reguenguense Conde de
Monsaraz, com seus pontos de contacto com o renovador Cesário Verde, o
do naturalismo na poesia.
Macedo Papança que deixou um filho poeta também, foi um fotógrafo da
paisagem do sul, dessa paisagem de que Florbela Espanca seria mensagem,
pela maneira como se identificou com ela; e até curiosa seria uma
leitura de contraste entre «Musa Alentejana» do primeiro, e «Charneca em
Flor» por exemplo, da poetisa calipolense.
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De expressão rigorosa é o estremocense Silva Tavares, que tem abordado
variadíssimos géneros de que salientarei «Serões Alentejanos»; o seu
patrício Joaquim Costa possui valiosas produções, e Fernanda Santos,
Teresa de Carvalho (aquela de Évora e esta de Portel), bem como Esmeralda
Santos e Maria de Santa Isabel ou Maria Guiomar Amaro, são nitidamente
influenciadas pela escola de Florbela de Alma Espanca. O mesmo não
sucede com Antónia Guerra, de toada e sensibilidade diferentes.
Aspectos diversos, na forma, e no estilo, na concepção, na inspiração e
na substância, revestem as produções de José Cordovil, Humberto
Fernandes, Domingos Rosado, Hernâni Cidade, Armando de Gusmão, Américo
Paiva, Guerra Geraldo, Francisco Pereira de Sousa ou
José Luís Guerra; como diferentes são Guerreiro da Cunha, José
Cutileiro, Braamcamp Barahona Fragoso ou José de Almeida.
Mais de salientar nas correntes modernistas os nomes de Azinhal Abelho e
Ramiro da Fonseca, o primeiro borborense – como Silveira Fernandes e
Pereira Trindade –, o segundo, eborense da gema.
No que se refere ao distrito de Évora vários nomes podem e devem ainda
citar-se no campo da poesia, uns como esperanças, outros como
certezas, presentes ou futuras, nessa modalidade da nossa literatura;
são eles, por exemplo, Sidónio Muralha, Maria Lúcia, Maria Clara Cunha,
João Vieira. F. Madeira, Aníbal José, Rosa Bruno, Adelina Vieira,
Francisco Nunes, Santos Cartaxo, Amélia Leiria, Joaquim O. Charrua, e
outros, e tantos outros, pois podemos quase dizer que em cada um de
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nós há um poeta, ou pelo menos, um «temperamento poético».
A matéria prima é boa; a paisagem inspiradora e convidativa à
meditação como poucas. Nostálgicos, saudosistas – por vezes em demasia
–, sentimentais herdeiros de vários «estros», com grandes lonjuras nos
olhos e extraordinárias energias no coração; ângulos formidáveis,
«provas» e efeitos de luz embriagadores e estonteantes; terra que
ressuma seiva em potência; galas da natureza que são música autêntica e
mulheres que transmitem vida num olhar; não é verdade que com estas
constantes chega a ser lógica a existência de tantos e tão bons poetas?
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(1) – Isto no
respeita aos cultos, porque da poesia popular pouco ou nada se registou. |