O NOTÁVEL TRIÂNGULO DE TURISMO

PORTALEGRE - CASTELO DE VIDE - MARVÃO

Por CASIMIRO MOURATO            (fotos de Fausto Gonçalves)

De tantos chamados triângulos de turismo que se reclamam no pais, não há-de Portugal ter muitos com a beleza deste que se situa no Alto-Alentejo. Nem por ficar na província com fama de árida e charnequenta, o triângulo Portalegre – Castelo de Vide – Marvão deixa de possuir uma beleza panorâmica rara, que encanta exactamente por a sua característica panorâmica e paisagística.

Portalegre é a conhecida cidade antiga que vai em 1949 comemorar o quarto centenário da sua elevação a cidade e da criação do bispado.

Constituída por um razoável aglomerado de casas, muito brancas e limpas, como é timbre no Alentejo, são estreitas e tortuosas as suas ruas, porque é antiga e era muralhada, tendo portanto, de obedecer a sua disposição à táctica guerreira da época.

Estão ainda muito regularmente conservadas as muralhas que constituíam a cintura com que D. Diniz defendeu Portalegre. Com algumas das suas portas e algumas das suas torres, esses fortes vestígios da Portalegre antiga, falam ainda, bem altivamente, dum passado grande e honroso, que ilustra a história Pátria, sobretudo na época conturbada das lutas com Espanha, página dessa história em que Portalegre colaborou com feitos que não podem esquecer nunca aos cronistas da liberdade e da independência nacionais.

Sem grandes pormenores artísticos e monumentais, Portalegre tem, no entanto, monumento se motivos históricos de certo relevo e de justa curiosidade para o turista estudioso. A Catedral, o Claustro Fernandino do Convento de Santa Clara, o Túmulo de D. Jorge de Melo no Mosteiro da Conceição, o Túmulo do Fragoso no Convento de S. Francisco e outras coisas dignas duma visita, como por exemplo, ainda, os ricos paramentos que se guardam na Sé Catedral, num artístico guarda-alfaias, tão notável na sua talha rara, também.

A Portalegre actual é notável por suas indústrias. A das cortiças, dos lanifícios, das sedas, dos tapetes e tapeçarias, tão afamadas no mundo industrial. E outras de nomeada também. As chaminés das fábricas, elevando-se acima do casario da cidade, são bem o símbolo do valor e da supremacia da sua indústria, que dá meios de vida a uma importante parte da sua população.

Mas no que Portalegre é, notavelmente bela, é sem dúvida nos seus / 211 / arredores de mágica e estonteante beleza panorâmica.

De qualquer ponto da cidade que se alongue a vista, logo se encontra o pano de fundo, atraente e sugestivo, que a Serra de Portalegre e da Penha formam ao longo.

Raras cidades terão assim uma moldura de vegetação abundante e deliciosa à observação.

Quem sair da cidade e se embrenhar no doce labirinto da encantadora paisagem dos seus arredores é que bem pode apreciar o seu encanto e magia. Sobre tudo, dentre tantos que se podem gozar, o passeio à Serra é simplesmente admirável.

Ninguém que visite Portalegre deve deixar de fazer aquilo a que cá chamamos a «volta à Serra» ou seja o percurso dos quinze quilómetros da estrada que a penetra e devassa em seus recantos e panoramas de tanto deleite para o espírito.

As belas quintas, antigas – solarengas – ou de traça moderna, os soutos densos de castanheiros seculares, a abundância de água cristalina como nenhuma, a fartura das hortas e pomares, a pureza do clima, o convívio são e hospitaleiro da sua gente, a vastidão dos panoramas – tudo, tudo deleita e encanta e prende e seduz e maravilha.

Há ainda o miradouro-janela aberta sobre a cidade e sobre os seus arredores, donde o cenário é surpreendente.

Quem se dispuser a perimetrar o triângulo de turismo tomará a estrada de Castelo de Vide, tão pitoresca e protegida por sombras refrescantes.

O panorama é sempre vasto, é sempre grandioso, é sempre rico e a desmentir a tal lenda chocante da aridez alentejana. Vai até, em certa altura, à Serra da Estrela, tão linda quando a neve a faz ser alvinitente, contemplada assim dos longes em que estamos.

Castelo de Vide, terra que é, ao mesmo tempo, moderna e antiga, pois as duas eras lá encontramos, é rica de aspectos curiosos e de motivos de observação e de estudo. O seu castelo e tanta coisa velha, tão bem conservados, dão largas à curiosidade dos investigadores. Cá em baixo, a Castelo de Vide moderna, mostra que o progresso bafeja a inspiração dos urbanistas castelavidenses.

É terra onde a caridade se impõe como sentimento vulgar nos seus habitantes. Abundam as casas de beneficência duma forma impressionante. Os / 223 / cegos, os inválidos, os órfãos são acarinhados e amparados em vários asilos e albergues que a caridade particular dotou para a sua criação.

Actualmente esta notável vila de Castelo de Vide, Pátria de valores como José António Serrano, Mouzinho da Silveira e José Frederico Laranjo, está empenhada em acreditar as suas águas medicinais, de que o país já fala. No estio é importante o número de aquístas que se alojam nos hotéis e pensões da vila, vindos de longe em
procura de alivio para as suas mazelas.

O facto dá a Castelo de Vide uma importância à que já tinha pelos factos apontados.

A caminho de Marvão o panorama é, do mesmo modo, surpreendente. A estrada cobre-se em grande extensão, dum túnel vegetal que as árvores quiseram arquitectar, túnel que agrada pelo aspecto e pela comodidade.

Se quiser o turista, pode ir à Escusa ver tirar a cal que abastece toda a região, que é a alma da brancura tradicional do casario local, e apreciar como ali se trabalha, com processos primitivos, pondo em risco a vida tanta vez roubada abruptamente aos que ficam sepultados nos escombros dos desmoronamentos de terras.

Se quiser também o turista pode ir aos «Olhos de Água» ver brotar a água do chão o que talvez nunca tenha visto.

A Portagem, com a sua velha ponte romana e a outra que dá passagem para Espanha, é outro local de turismo.

Começa a subida para Marvão que já há muito o turista avistou, alcandorada no cume da serra.

O seu castelo, impotente para o sistema guerreiro actual, era um forte baluarte naqueles tempos em que o homem não conhecia ainda tão eficazes meios de destruir o homem. Era inexpugnável na sua resistência granítica.

Dentro do castelo, há de notável, de mais notável, a cisterna, que passa por ser a maior da península, elemento de resistência para os marvanenses de antanho quando sitiados.,.

A vila possui recantos admiráveis que os artistas do pincel não se cansam de reproduzir. Há obras notáveis em ferro forjado.

Quem sobe ao castelo avista sem custo, além do panorama vasto das redondezas, terras conhecidas de Espanha.

É deste castelo que o povo diz, o que dá bem a nota da sua altura, que se vêem os pássaros pelas costas quando voam.

Modernamente a vida pacata da boa gente de Marvão está-se assinalando pelo desenvolvimento dos serviços de assistência pública, de facto muito notável e eficiente. Assim está Marvão garantindo a existência da sede do concelho naquele ponto, mostrando aos que a queiram transferir, alegando a sua fraca população da vila – que não deve chegar a duzentos habitantes – a sem razão do propósito.

E assim, a traços largos como a escassez do espaço concedido me impõe, aqui tem o turista amigo a assistência que me dediquei a prestar-lhe no trajecto do chamado triangulo de turismo Portalegre – Castelo de Vide – Marvão.

Há-de desculpar o desvalor, a imperícia do cicerone, aliás bem intencionado.

 

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