A ESPECIALIZAÇÃO DOS RURAIS ALENTEJANOS

Entrevista com o Sr. Dr. José Carlos Casqueiro Belo Morais, Presidente do Grémio da Lavoura do Crato

Por EDCAR (Fotos do autor)

– O «Almanaque Alentejano» desejaria algumas palavras de V. Ex.ª sobre os problemas de ensino profissional dos rurais...

– Posso afirmar-lhe – responde-nos a amabilidade do Sr. Dr. José Carlos Casqueiro Belo Morais, ilustre presidente do Grémio da Lavoura do Crato – que sucede, vulgarmente, nos meios agrícolas o seguinte: qualquer rapaz que fica a saber ler, escrever e contar, já julga inferiores os trabalhos de cultivo da terra. O ensino primário, nestas condições, tem produzido mais artífices do que trabalhadores de campo.

– Não vamos por isso maldizer a escola – observamos.

– Decerto que não, tanto mais que as directrizes oficiais tendem hoje felizmente a acomodar o ensino na província às conveniências do meio, as quais representam afinal os interesses da grei. Confiemos nos resultados.
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– Quer o Sr. Doutor informar-nos dos processos adaptados com êxito para a especialização dos rurais adultos?

– Quanto a esta região, coube à Direcção dos Serviços Agrícolas e à Junta Nacional do Azeite a iniciativa da criação dos utilíssimos cursos de podadores de oliveiras, que tão largos benefícios trouxeram à olivicultura nacional.

– Sabemos que se têm realizado outros cursos... – interrompemos.

– Mais recentemente a Direcção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, em colaboração com a Junta Nacional da Cortiça, pôs em prática os não menos úteis cursos de limpadores de sobreiros, medida com a qual se protege o nosso maior valor de exportação.

– Verifica-se assim que o arvoredo, «o volante da lavoura», – no dizer de um nosso ilustre e excelente Amigo – aproveita já da melhoria dos processos técnicos.

– O arvoredo é defendido e o rural beneficia também na vida do campo, sempre mais bem remunerados.

– Nada haverá a fazer no que respeita à cultura cerealífera, especialmente quanto à do trigo – a mais nobre por ser a mais sujeita a contigências e a resultados incertos? – indagamos nós.

– Existe ainda bastante a fazer e todas as medidas tendentes a garanti-la técnica e economicamente, serão bem-vindas, e benditas, – responde-nos o Doutor BelIo Morais.

– Seria favor indicá-las no que respeita ao pessoal, – solicitamos.

– Nota-se em primeiro lugar e com frequência a falta de semeadores aptos, entregando-se por vezes essa difícil missão a indivíduos mal adestrados, de que resultam sementeiras deficientes, com perda de terra, adubação e subsequentes granjeios e encargos.

– Faltam-lhes conhecimentos...

– Desconhecem a noção da densidade da sementeira ou seja da quantidade de semente por hectare ou por outra área de semeadura, segundo as variedades do trigo...

– Conta-nos um súbdito suíço que na pátria de Guilherme Tell a sementeira do trigo pratica-se com tal quantidade de grãos, que não existe lugar para nascerem as ervas daninhas...

– Creio que por cá nem todos os terrenos o permitiriam
/ 127 / comenta o entrevistado e acrescenta: – cabe às entidades competentes aprovar ou não tal sistema, em relação às nossas condições agrícolas. Por agora limitamo-nos a fazer votos por que a Federação Nacional dos Produtores de Trigo tome dentro em breve a decisão de criar cursos volantes de semeadores, à imagem e semelhança dos que têm funcionado para o aperfeiçoamento da cultura da oliveira e do sobreiro.

-. Tais cursos parece que teriam utilidade restrita... – comentamos como leigos na matéria.

– Pelo contrário, dar-se-á então a oportunidade de introduzir nos conhecimentos dos semeadores o manejo de máquinas para a sementeira em linhas, cuja vulgarização se impõe, pelas vantagens que apresenta, especialmente no momento em que o País caminha para a industrialização, o que inevitavelmente contribuirá para a escassez e encarecimento da mão de obra rural.

– Não é pois lícito duvidar das vantagens de tal sistema, Sr. Dr. Bello Moraes? – dissemos, apresentando a última pergunta.

– Dos benefícios de tais cursos «in-loco» bastará lembrar que os seus ensinamentos são reproduzidos e seguidos em progressão geométrica, mercê das notáveis faculdades de adaptação do trabalhador rural alentejano...

 

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