Tão depressa entrara, tão depressa
admitia sair. Adiante irão as razões para tal.
Em Janeiro de 1972 tive conhecimento que a Celulose do Ultramar,
empresa produtora de pasta para papel, sita no Alto Catumbela, na
então província ultramarina de Angola, tinha necessidade de um
engenheiro químico para o departamento de produção das suas
instalações fabris.
No dia 24 de Janeiro endereço uma missiva à administração da
referida empresa, sediada em Lisboa, candidatando-me ao lugar em
questão. Depois de referenciar o “curriculum” que possuía até então,
dizia que:
“Não existindo a mínima incompatibilidade dentro da CPC, onde
mantenho as melhores relações, quer com superiores quer com
inferiores, sentindo-me perfeitamente à vontade no ramo da
engenharia química ao qual vim parar e tendo abertas as portas para,
num futuro próximo, ascender a chefe de serviços, motiva-me a minha
candidatura num desejo de colocação nas províncias ultramarinas
(Angola ou Moçambique), no que sou acompanhado por minha mulher
(habituada a África, já que esteve cerca de 15 anos no Congo
ex-Belga) e naturalmente como objectivo de uma franca melhoria de
situação económica.”
Para esta melhoria, dizia mais adiante na missiva que:
«... tendo
em atenção aos dois anos de prática que possuo no fabrico de pastas
cruas e branqueadas, venho pedir como vencimento inicial, para além
das regalias de ordem social habitualmente concedidas a funcionário
dessa empresa, a importância mensal de 30.000$00.» De referir que a
minha remuneração na CPC, no início deste ano de 1972, era já de
14.750$00.
No dia 15 de Fevereiro recebo um telegrama da empresa, assinado por
Pires Martins, pedindo “favor contactar telefone engenheiro Araújo
administrador Companhia Celulose Ultramar Português Lisboa”. Face à
urgência do pedido (por telegrama e contacto por telefone) não
hesitei e efectuei o contacto. Foi-me praticamente garantida a
ocupação do lugar. No entanto, 4 horas depois, um telefonema do
mesmo senhor dizia, com o pedido das necessárias desculpas, que
afinal o lugar não seria para a minha pessoa mas para um outro
candidato!
Posteriormente, vim a saber quem fora que me ultrapassara à última
hora na recta da meta. Alguém que eu depois viria a ajudar na
reentrada no mundo da celulose, agora no Continente, após ter sido
“despejado” da Celulose do Ultramar, na sequência da ocupação das
instalações fabris, em 1975, no processo de independência da, até
então, província ultramarina.
Para mim, acabou por ser melhor o facto de não ser o candidato
escolhido, pois ter-me-ia acontecido o que àquele colega acabou por
acontecer, com as consequências traumáticas que tal decisão, da
forma que se realizou, sempre acarreta. |