Acendo, rápido, uma vela,
E vejo a morta, e vejo-a a «ela»,

Que lentamente se sumia
Num como fumo que a envolvia!...


– «Quanto me diz, nada me prova
Que a morta saia aqui da cova.

A terra pesa como ferro...
– Diga-mo a mim que sou que enterro...

Depois, quem morre, só deseja
Que a paz de Deus com ele seja.

Isso de vêr, como contou,
Quem lhe morreu, quem Deus levou,

É coisa de alma, é coisa triste
Que só ao tempo não resiste,

Ao tempo e ainda a outro meio...
Ouça também, já que aqui veio:

Tambem eu tive alguém no mundo
A quem votei um amor profundo.

Era uma filha, aleijadinha,
Mas muito meiga!... – Coitadinha!...

Sofreu, sofreu, e um dia a morte
Veio poupá-la a pior sorte...

Mas desde então, constantemente,
Eu via a filha à minha frente.

De noite e dia, a toda a hora,
Ou, fosse em casa ou fosse fora,

 

03-12-2020