– Há duas noites, tive um sonho
Que me prostrou – que foi medonho!
Sonhei que a morta se despia
E se deitava e me envolvia
Nos braços nus, como de gêlo!...
Senti-lhe os beijos e o cabelo...
Senti-lhe o corpo, mas tão frio
Que me gelou num calafrio...
Ouvi-lhe a voz meiga e sumida:
«Alberto! Alberto! Dá-me a vida!... »
Então, coveiro, eu que a amava,
Tive a impressão de que lha dava.
E pouco e pouco, e brando e brando.
Foi-se-me o corpo regelando,
Até que tive a sensação
De ter parado o coração.
«Morri – pensei – mas que me importa
Se dei a vida à minha mortal...»
No quarto ecoou um grito aflicto
E despertei com esse grito.
Escuta agora: apavorado
O quarto em trevas sepultado
Fiquei, assim, desperto e atento
Ao mais pequeno movimento
E ouvi, coveiro – ouvi, que o juro
Mover-se alguém naquele escuro. |