MISÉRIA


O vento passa, enregelado e frio.
            É negra e triste a noite.
E vai um grupo, qual visão, sombrio,
            Do vento ao duro açoite,

Por essas trevas a vogar, sem ninho.
            E sois vós, ó crianças
Sem pai, sem mãe, sem lar e sem carinho,
            Que passais tristes, mansas.

E procurais em vão macio leito
            Onde repouse a fronte:
De vossas mães o caloroso peito
            Não há quem vos aponte.

Só tem o mármore da vetusta igreja
            – O leito da miséria.
É a vossa mãe querida e benfazeja,
            A vossa mãe etérea.

Vós sois da Dor o sideral emblema
            Que pela noite passa:
– Indigência ou Penúria – o vosso lema,
            Ó filhos da Desgraça!

Rio de Janeiro

MÁRIO VILLALVA

 

 

12-11-2020