SONHOS

I

Falava assim um dia a minha doce amada:
– Jamais posso explicar a tortura infinita
que tanto me flagela est'alma que se agita
num sonho a que me sinto agora acorrentada.

Que tenho eu? Que sei? Por que ancioso palpita
meu pobre coração que nada entende, nada
desta estranha emoção? Por que à noite estrelada
velo, como se fosse uma triste proscrita?

Fito, profundamente o azul sereno e claro.
E, quanto mais o olhar pelo espaço divaga,
mais me apavora a dor de um grande desamparo.

Quero viver não sei de que sonho, em que plaga,
quero alcançar alguém que me foge, mas páro,
tremo, vacilo, grito e a dúvida me esmaga.

II

Mas eu quero sentir toda a minha alma inquieta
voar, gemer, cantar como um pássaro airoso,
que vai pela amplidão, buscando um novo pouso,
fugindo à vil prisão de uma gaiola abjecta.

E, por que desse amor quero sentir o gozo,
a escravidão feroz, a tortura completa?
Porque amar é viver e a lágrima interpreta
a vida, cujo orvalho é o pranto silencioso.

Há no meu coração alguma coisa esquiva,
que eu não posso dizer de que fonte promana,
que não sei explicar donde, enfim, se deriva.

E nesta indecisão, neste horrendo Nirvana
minha alma de mulher, tranquila e compassiva,
busca o lado melhor da natureza humana.

Manaus – Brasil

Teodoro Rodrigues

 

 

12-11-2020