Biscoitos e café... era a ceia modesta,
Preparada por ti, em lindo «tête-à-tête»,
Com carícias de amor tornava-se em banquete,
E a luz do teu olhar iluminava a festa!

Então, nesses festins, que vida estranha, nova!
Cingidos um ao outro, as mãos muito enlaçadas,
Eram juras de amor, em bocas namoradas,
Amor p'ra sempre eterno, amor além da cova!

A tua «toilette» era eu quem a escolhia,
Quando ias a passeio, e pelo braço meu,
E, desde a meia aberta aos grampos do chapéu,
Que feminil perícia eu então exibia!

«Dame de compagnie», se algum dia a tiveres,
Como eu, talvez não saiba ajustar-te o espartilho!
No teu ar infantil até dizias: «Filho!
Que jeito que tu tens p'ra embonecar mulheres!»
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Um titular qualquer mudou a tua vida:
Pôs-te uma casa chique e deu-te criadagem,
Tens jóias do Leitão, «toilettes», carruagem
Em que, às horas do «tom», passeias na Avenida.

Fizeste muito bem. A vida é atraente!
Não se vive de amor e tudo custa caro...
Impõe o teu capricho, esse artifício raro,
Que converte a mulher em deusa omnipotente!

Devora a felicidade e goza até fartar!
O coração não dês, que isso escangalha a vida!
Não te lembres de mim! Mas não te esqueças, qu'rida,
Do palpitante amor do nosso quinto andar!...


28-2-1909

Carlos Trigueiro

 

12-11-2020