Morena, linda morena,
Confesso-te aqui a sós
Que me causa imensa pena
No teu rosto o pó de arroz!
Porque te «caias» assim,
Morenita que estremeço?
Tu desejas ser marfim
Quando não passas de gesso!
Para quê falsos encantos,
Morenita de olhar belo,
Se tens naturais e tantos
Desde os pés 'té ao cabelo?
Que lindos esses teus dentes!
– Perdão se sou indiscreto –
Pérolas alvinitentes!
Olha se os pintas de preto!
E esse teu cabelo escuro
– Não te zangues que não vale –
Besunta-mo de futuro
Com alvaiade ou com cal. |
Para quê maneiras tolas,
Momices de qualquer zote?
Olha que esses rapazolas
Querem-te mas com o dote...
Teu encanto natural,
Beleza e prendas e graça
Não constituem capital.
Tens palmares? então passa...
Sê sincera, serás bela!
És bondosa, eu que o diga;
Vale uma flor, uma estrela
Quem é boa rapariga!
Há brancas que fazem pena
De serem feias, coitadas;
E tu és uma morena
Como as moiras encantadas!
E quem sabe, morenita,
Se eras feia sendo clara;
Sendo morena, és bonita
Com essa bonita cara. |