A mim o que doendo me retém,
mais do que a vida com a maré louca,
é pensar que ainda o cravo dessa boca
há-de um dia perder a cor que tem.
Nunca a minha ventura fosse além
de a ver vermelha e nova, mas tivesse,
já que a luz da manhã nunca envelhece
A mesma flor e o mesmo amor também.
Ruiva! Que de a olhar ardente e pura,
o horror que me gela e tortura,
o pesar que me fere em seus arrancos,
é ver que ao fim da vida, sem carinho,
também tu boca louca como o vinho
terás a cor dos meus cabelos brancos.
LISBOA, 1906
ALFREDO GUIMARÃES
|