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O autor do editorial - Luís Jordão. Clicar para ampliar.

■  Editorial

Um dia destes a cavilha salta...

 

No dia Vinte e Cinco de Abril de Mil Novecentos e Setenta e Quatro, no Largo do Carmo, em Lisboa, quando e onde quase tudo se deu, entre tantos outros, eu estava lá, pendurado do engradado de uma janela para tudo/tanto ver e tudo/tanto ouvir. Os pensamentos baralhando-se em louca e turbilhante ebulição.

Foram um dia e uma noite em que a realidade e os sonhos se misturaram. Foi um espaço tempo curto/longo cheio de muitas/imensas/indescritíveis emoções e enormes alegrias. Era estar nas nuvens. Era uma espécie de inebriante estado de graça.

Agora, quase quarenta anos depois desse tempo de ilusão e sonhos, ensombram e conturbam os meus dias e as minhas noites estranhas imagens de gente manhosa, sem qualquer pingo de moral, de vergonha ou escrúpulo: especuladores, agiotas, traficantes de tudo, golpistas, corruptos e corruptores e/ou seus apaniguados e encobridores, alguns deles alternando o cargo de deputados/governantes/directores gerais com o de administrador/representante de grandes grupos empresariais. Isto é, legislando/governando para si ou para os seus asseclas ou mandantes.

Como foi possível que esta gentinha eleita e suportada e engordada pelo povo (nós), que nos (des)governa, alternando-se e/ou misturando-se (PSD/PS/CDS), década-apósdécada, nos tenha trazido à terrível/dramática situação em que nos encontramos?

Como é possível que esta nova espécie de “descamisados” que ateimamos continuar sendo consinta nisso? Em que cambada de marionetas deixámos que nos transformassem?...

Um penico.
Como tal me sinto
em mais este despontar de ano

Eu,
simples
e sacaneado cidadão comum,
não consigo evitar
nem os cus
nem os aparelhos mijatórios
que sobre mim se aliviam.

Estranhos
são os desígnios que regem
este meu teimoso
e manso aguentar.

Um dia destes a cavilha salta...

Peço desculpa de Vos maçar com estas espécies de gritos/desabafos e apelo ao pensamento, mas quando olho para a frente não consigo desligar-me do que está para trás.

Por isso, quanto ao futuro, sinceramente, para além de revoltado e triste e envergonhado, sinto-me verdadeiramente acagaçado, por mim e por outros que tais, que ao longo dos anos afincadamente trabalharam e pagaram impostos e ainda para além disso com actos voluntariosos/generosos/desinteressados deram o “coirão ao manifesto” por esta e/ou aquela causa justa, bem como pelos nossos descendentes.

Sinceramente acho que de facto a cavilha está prestes a saltar...

Luís Jordão

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