No dia Vinte e Cinco de
Abril de Mil Novecentos e Setenta e Quatro, no Largo do Carmo, em
Lisboa, quando e onde quase tudo se deu, entre tantos outros, eu estava
lá, pendurado do engradado de uma janela para tudo/tanto ver e
tudo/tanto ouvir. Os pensamentos baralhando-se em louca e turbilhante
ebulição.
Foram um dia e uma noite em
que a realidade e os sonhos se misturaram. Foi um espaço tempo
curto/longo cheio de muitas/imensas/indescritíveis emoções e enormes
alegrias. Era estar nas nuvens. Era uma espécie de inebriante estado de
graça.
Agora, quase quarenta anos
depois desse tempo de ilusão e sonhos, ensombram e conturbam os meus
dias e as minhas noites estranhas imagens de gente manhosa, sem qualquer
pingo de moral, de vergonha ou escrúpulo: especuladores, agiotas,
traficantes de tudo, golpistas, corruptos e corruptores e/ou seus
apaniguados e encobridores, alguns deles alternando o cargo de
deputados/governantes/directores gerais com o de
administrador/representante de grandes grupos empresariais. Isto é,
legislando/governando para si ou para os seus asseclas ou mandantes.
Como foi possível que esta
gentinha eleita e suportada e engordada pelo povo (nós), que nos (des)governa,
alternando-se e/ou misturando-se (PSD/PS/CDS), década-apósdécada, nos
tenha trazido à terrível/dramática situação em que nos encontramos?
Como é possível que esta
nova espécie de “descamisados” que ateimamos continuar sendo consinta
nisso? Em que cambada de marionetas deixámos que nos transformassem?...
Um
penico.
Como tal me sinto
em mais este despontar de ano
Eu,
simples
e sacaneado cidadão comum,
não consigo evitar
nem os cus
nem os aparelhos mijatórios
que sobre mim se aliviam.
Estranhos
são os desígnios que regem
este meu teimoso
e manso aguentar.
Um dia destes a cavilha salta...
Peço desculpa de Vos maçar
com estas espécies de gritos/desabafos e apelo ao pensamento, mas quando
olho para a frente não consigo desligar-me do que está para trás.
Por isso, quanto ao futuro,
sinceramente, para além de revoltado e triste e envergonhado, sinto-me
verdadeiramente acagaçado, por mim e por outros que tais, que ao longo
dos anos afincadamente trabalharam e pagaram impostos e ainda para além
disso com actos voluntariosos/generosos/desinteressados deram o “coirão
ao manifesto” por esta e/ou aquela causa justa, bem como pelos nossos
descendentes.
Sinceramente acho que de
facto a cavilha está prestes a saltar...