|
O Cante
Alentejano, pela sua singularidade plural, merece uma reflexão
particular, tendo em conta que é uma das heranças culturais mais
ricas do nosso País. Sendo a flor de sal da criatividade do
Baixo-Alentejo, o Cante extravasa as margens das suas raízes para,
como flor que se abre em dádiva ao universo, penetrar o âmago de
quem, atento, o acolhe.
Já não
são ranchos de homens e mulheres que, superando a fome e o
sofrimento, alegres, se dirigem ou regressam do trabalho, nem tão
pouco o cante se projecta no ar durante as penosas e árduas tarefas
do campo. |
|
São grupos
que se organizam para simplesmente continuarem a tradição, numa
convivialidade que os anima, prolongando o sentimento de ser alentejano,
cidadão do mundo, pertença de uma terra poderosa à qual ninguém
minimamente sensível ficará indiferente.
Mas além destes grupos encontram-se outras manifestações que vão no
sentido de preservar o Cante. Disso são exemplos, entre outros: a
Associação do Cante Alentejano A Moda; a Associação Terras Dentro; A
CORTIÇOL, a Fundação Terra-Mãe; Casa do Alentejo; e a FaiAlentejo.
Como obra apaixonante muito apreciada e estudada por diversos
interlocutores, fazendo esta parte da memória colectiva de um povo, tem
ultimamente suscitado alguma controvérsia na abordagem de possível
/ 18 /
candidatura a Património Imaterial da Humanidade. Tal é possível, pois
tem valor etnomusical pela forma como se apresenta desde a sua origem
até aos dias de hoje. Tem mantido a sua forma natural, sofrendo
alterações de acordo com o espaço e tempo, como não podia deixar de ser;
no entanto, consegue manter a genuinidade que lhe permite ser único.
À luz dos conhecimentos actuais, sabe-se que várias entidades
representativas da Região Alentejana têm manifestado interesse e,
nalguns casos, em fase avançada, estando a trabalhar no reconhecimento
do Cante como Património da Região.
Do Mundo chegam-nos dados de apreciação global do cante, que podemos
considerar altamente benéficos para o enriquecimento deste processo,
nomeadamente das Comunidades Alentejanas no Canadá, França, Alemanha,
Luxemburgo, Suíça, Angola, Brasil e de outras partes onde haja
alentejanos.
O seu reportório tão variado e em quantidade é trabalhado por vários
especialistas, cujos resultados, de alto valor cultural, têm vindo a
contribuir de forma significativa para a dignificação do Cante
Alentejano.
Nove anos depois da realização do I Congresso do Cante Alentejano, em
Beja, organizado pela Casa do Alentejo, tendo sido já publicadas as
actas, cujas conclusões apontam para a realização de um novo
Congresso(1), está na altura de o propor, tendo como objectivo principal
a formalização de uma candidatura à UNESCO, para que o Cante Alentejano
seja reconhecido como Património Imaterial da Humanidade.
______________________________
(1) "A formação de uma federação de folclore alentejana
– a Federação de Grupos Corais Alentejanos,
que poderá ser a força motriz da formação do arquivo audiovisual do
cante alentejano e dos próximos Congressos do cante alentejano." 6°.
Conclusão do I Congresso do Cante Alentejano, realizado em Beja, nos
dias 7, 8 e 9 de Novembro de 1997. Na sequência deste Congresso, para
dar voz a esta conclusão, foi criada a Associação de Cante Alentejano A
MODA.
|