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O CANTE NAS BOCAS DO MUNDO
 

José Simão Miranda

O Cante é o fogo que do poder gregário dos alentejanos que lhes advém da misteriosa terra seu berço, se evola e expande no Universo. Expansão do Uno das vozes onde a diferença se oculta e a harmonia se desnuda. Assim, a palavra cantada ganha tal força que em luz se transmuta, pairando sobre o mundo como fios brilhantes e cristalizados da Alma Portuguesa.

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O Cante Alentejano, pela sua singularidade plural, merece uma reflexão particular, tendo em conta que é uma das heranças culturais mais ricas do nosso País. Sendo a flor de sal da criatividade do Baixo-Alentejo, o Cante extravasa as margens das suas raízes para, como flor que se abre em dádiva ao universo, penetrar o âmago de quem, atento, o acolhe.

Já não são ranchos de homens e mulheres que, superando a fome e o sofrimento, alegres, se dirigem ou regressam do trabalho, nem tão pouco o cante se projecta no ar durante as penosas e árduas tarefas do campo.

 

São grupos que se organizam para simplesmente continuarem a tradição, numa convivialidade que os anima, prolongando o sentimento de ser alentejano, cidadão do mundo, pertença de uma terra poderosa à qual ninguém minimamente sensível ficará indiferente.

Mas além destes grupos encontram-se outras manifestações que vão no sentido de preservar o Cante. Disso são exemplos, entre outros: a Associação do Cante Alentejano A Moda; a Associação Terras Dentro; A CORTIÇOL, a Fundação Terra-Mãe; Casa do Alentejo; e a FaiAlentejo.

Como obra apaixonante muito apreciada e estudada por diversos interlocutores, fazendo esta parte da memória colectiva de um povo, tem ultimamente suscitado alguma controvérsia na abordagem de possível
/ 18 / candidatura a Património Imaterial da Humanidade. Tal é possível, pois tem valor etnomusical pela forma como se apresenta desde a sua origem até aos dias de hoje. Tem mantido a sua forma natural, sofrendo alterações de acordo com o espaço e tempo, como não podia deixar de ser; no entanto, consegue manter a genuinidade que lhe permite ser único.

À luz dos conhecimentos actuais, sabe-se que várias entidades representativas da Região Alentejana têm manifestado interesse e, nalguns casos, em fase avançada, estando a trabalhar no reconhecimento do Cante como Património da Região.

Do Mundo chegam-nos dados de apreciação global do cante, que podemos considerar altamente benéficos para o enriquecimento deste processo, nomeadamente das Comunidades Alentejanas no Canadá, França, Alemanha, Luxemburgo, Suíça, Angola, Brasil e de outras partes onde haja alentejanos.

O seu reportório tão variado e em quantidade é trabalhado por vários especialistas, cujos resultados, de alto valor cultural, têm vindo a contribuir de forma significativa para a dignificação do Cante Alentejano.

Nove anos depois da realização do I Congresso do Cante Alentejano, em Beja, organizado pela Casa do Alentejo, tendo sido já publicadas as actas, cujas conclusões apontam para a realização de um novo Congresso(1), está na altura de o propor, tendo como objectivo principal a formalização de uma candidatura à UNESCO, para que o Cante Alentejano seja reconhecido como Património Imaterial da Humanidade.

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(1) "A formação de uma federação de folclore alentejana a Federação de Grupos Corais Alentejanos, que poderá ser a força motriz da formação do arquivo audiovisual do cante alentejano e dos próximos Congressos do cante alentejano." 6°. Conclusão do I Congresso do Cante Alentejano, realizado em Beja, nos dias 7, 8 e 9 de Novembro de 1997. Na sequência deste Congresso, para dar voz a esta conclusão, foi criada a Associação de Cante Alentejano A MODA.
 

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