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Alentejo Revisitado

                                                   a meu avô Francisco

Nicolau Saião in «Escrita e o seu contrário»

                           I

Do rosto que olha o Alentejo é o corpo

mas não somente o corpo a árvore

figueira junto ao mar um pássaro

perto do coração

 

Trigo que escutamos e que vemos

antes de ser o pão

 

A mão que desvenda

o sítio exacto da alma

vegetal animal e mineral

em todos os caminhos

 

Para sempre

um país sob a luz menino imemorial

                         II

Durante tanto tempo foste

o companheiro das coisas vivas

 

Terás de encher agora os teus bosques ardentes

de neblina e silencio e animais sem condição

 

E deverás olhar as coisas mortas

como se todas as manhãs elas partissem

 

Tudo o que tens e que tiveste outrora

a paz que em vão buscaste tantos anos

nesse lugar fecundo ficará

 

Quanto oceano quanta sede quanta voz

na escuridão das searas que amanhecem

 

Alentejo um pão cortado

na sombra dos candeeiros dentro das casas desertas.

  

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