índice do almanaque
 

Do Cancioneiro Alentejano de 1938

 

Recolha de VictorSantos

BORBA

Amorzinho, vinho, vinho

Água não posso beber;

Água fria me faz mal

Tenho medo de morrer.

 

Chapéu branco, chapéu branco

Fita de quatro vinténs;

Ainda não sou casada

Já me dão os parabéns.

 

MÉRTOLA

Vai tão longe a mocidade

Vejo tão perto o meu fim

Que até chego a ter vontade

De botar luto por mim.

 

Foste dizer mal de mim

Lá fora da minha terra;

Ficaram-te conhecendo

E eu fiquei sendo quem era.

 

MOURÃO

As telhas do teu telhado,

Uma delas tem virtude;

Eu passei lá para dentro

Logo me deram saúde.

 

Em qualquer pocinho d'água

Bebe a cobra, nada o peixe;

Meu amor quero pedir-te

Que por enredos me não deixes.

REDONDO

Os olhos d'aquela aquela

Os olhos d'aquela além,

Os olhos d'aquela Rosa

são iguais aos meus também.

 

S'és galo alivanta a crista

S 'és frango larga a pinuge

S 'o desafio é comigo

At'ós sapatos e ruge.

 

VILA NOVA DE MIL FONTES

Quem me dera ser feitor,

Lavrador na tua herdade,

Para dar um rêgo direito

E meter a mão à vontade.

 

Quem me dera se feitor,

Lavrador nesse teu peito

Antes que não semeasse

Ficava o alqueve feito.

 

VILA VERDE DE FICALHO

Tudo qu'é verde se seca

Na maior Zina do verão;

Tudo o que seca renasce,

Só a mocidade não.

 

Quem aqui não tem amores,

Ao meio, não vai balhar.

Eu juro à fé de quem sou

Que um amor hei-de arranjar.

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