Acesso à hierarquia superior.

Glossário de designações relacionadas com o barco moliceiro, sua palamenta e faina da apanha do moliço.

ALÇA — Ferro, em forma de S alongado, que fixa a ostaga à draga.

AMANHAÇÃO — Reparação do barco.

AMURA — Cabo que fixa a vela à calcadeira.

Reprodução do desenho de Domingos José de Castro.
Ancinho de arrasto

ANCINHOS DE APANHAR — Compõem-se dum cabo de eucalipto de, aproximadamente, 2 m. de comprimento e dum pente com 12 a 14 dentes. São utilizados para mariscar, colher o arrolado e na apanha do moliço, nas marinhas de sal.

Reprodução do desenho de Domingos José de Castro.
Ancinho de apanhar

ANCINHOS DE ARRASTO — Compõem-se dum cabo de eucalipto, de 4 a 6 m. de comprimento e dum pente de carvalho com o comprimento de 1,50 m., por 0,08 m. de altura ao centro e 0,05 m. nas extremidades, provido de 64 dentes de 0,1 a 0,12 m., afastados entre si, nas pontas, 0,02 m. Duas alças de ferro, com dentes mais curtos, reforçam-no no seu ponto central. Estes ancinhos são fixados, obliquamente, em ambos os bordos do barco, em número não inferior a 2 nem superior a 4, e, arrastando pelo fundo da ria, arrancam o moliço.

ANDAR À ROLA — Ser impelido pela corrente e pelo vento, sem usar os meios de governo do barco. Por extensão, diz-se de qualquer objecto a boiar, abandonado, na corrente.

ANDAR À SIRGA — Utilizar a sirga como meio de propulsão.

ANDAR À VARA — Utilizar as varas como meio de propulsão.

ANDAR À VELA — Utilizar a vela como meio de propulsão.


Painel da proa.

APANHA DO MOLIÇO — Colheita e transporte do moliço.

ARGOLÃO — Argola em ferro, situada na cobertura do castelo da proa, que serve para fixar o pau das tira-viras e o mastaréu e, também, para calcar o traquete.

ARROLADO — Moliço que se escapa dos ancinhos de arrasto ou se desprende do fundo e fica a boiar ou vai dar às praias, impelido pela corrente e pelo vento.

BARCADA DE MOLIÇO — Carregamento dum barco, que orça pelas 5 toneladas.

BATENTE DA PROA — Vertente do castelo da proa. (O mesmo que barrote da proa).

BARROTE DA PROA — (Veja-se batente da proa).

BICA — Peça recurvada, talvez inspirada no bico de certos palmípedes, e que constitui o ponto mais elevado da proa e da ré do moliceiro. A da proa é articulada por meio de uma dobradiça, que lhe permite reduzir a altura, quando o barco tem de passar sob uma ponte baixa.

BOLEAR — Bolinar.

BOLINÃO — Cabo com uma das extremidades fixa à parte superior da vela, por 6 cordéis, denominados pernas do bolinão, e com a outra ponta presa ao moitão da bica. Serve para orientar o barco, de modo a ganhar barlavento.


Painel da ré.

BUEIRAS — Orifícios que atravessam as cavernas, a fim de dar passagem à água, facilitando, assim, o escoa­mento do barco. Alguns moliceiros têm 3 bueiras, em cada caverna: uma central e 2 laterais; outros só têm a do meio. Também algumas destas embar­cações têm todas as cavernas com bueiras, enquanto que outras só as têm nas 6 primeiras da proa, nas 2 situadas debaixo do traste e nas 2 últimas da ré.

CACHOLA — Orifício situado na extremidade superior do mastro, por onde passa a ostaga.

CAGARETE — Pequeno compartimento situado por detrás da entremesa, na parte mais estreita e elevada da ré, onde se deposita o sal, o peixe ou a carne salgada, para consumo de bordo.

CALCADEIRA — Argola em ferro, fixa na coxia, por onde passa a amura. Serve para calcar a vela.

CAMARADA — Tratamento usual entre os moliceiros.

CARREIRA — Canal navegável.

CHANÇA — Recorte de simples efeito decorativo, situado a meia altura da linha de contorno exterior do leme.

CHELEIRAS — Duas prateleiras, situadas a meia altura da câmara do castelo da proa, onde se guardam os mantimentos e os utensílios domésticos.

CINTA — Bordo do barco.

COSTANEIRA VOLANTE — Última tábua do paneiro, desligada deste, com o fim de facilitar o seu levantamento.

COXIA — Peça situada junto ao casco, debaixo do buraco do traste, onde se encaixa a extremidade inferior do mastro.

DRAGA — Cinta interior, paralela ao bordo.

ENCALAS - Aberturas situadas entre o bordo e a draga, onde se adaptam as falcas, as tamancas e as forcadas.

ENCINHADA — Porção de moliço colhido por um ancinho.

ENGAÇOS — Ancinhos de ferro, com cabo de madeira, munidos de 3 dentes, utilizados na descarga do moliço.

Reprodução do desenho de Domingos José de Castro.
Engaços.

ENTREMESA — Tampa móvel, com fechadura, que cobre o castelo da ré e constitui uma espécie de degrau alteado, que serve de assento ao arrais. No espaço coberto por esta tampa, guarda-se o barril da água, as forcadas e as tamancas.

ENVERGUE — (Veja-se verga).

ENVERGUES — Cordéis que prendem a vela à verga.

ESCOADOIRO OU ESCOADOURO — Utensílio semelhante a uma pá, com as dimensões usuais de 0,40 m. de largura por 0,45 m. de comprimento e 0,08 m. na altura dos lados, munido dum cabo, que forma manípulo. Serve para escoar a água, que se deposita nos vãos das cavernas. (O mesmo que vertedoiro).

ESCOPEIRO — Utensílio constituído por um cabo de madeira, tendo uma das extremidades envolvida num pedaço de pele de carneiro, fixada com pregos. Serve para embrear o barco.

ESCOTA — Cabo fixado à parte inferior da vela e que serve para dar mais ou menos pano à embarcação, regulando, assim, a sua velocidade.

ESCOTEIRAS — Extremidades das dragas, à ré, onde se prende a escota.


Castelo da proa.

FALCAS — Pranchas que se ligam, entre si, por justaposição e que se colocam no bordo do barco, para lhe aumentar o pontal. Cada embarcação tem 4 falcas e 2 falquins, que se adaptam, nas encalas, à razão de 2 falcas e um falquim por cada bordo, desde a vertente do castelo da proa até à antepenúltima caverna da ré. (Presentemente, nalguns barcos, estes limites são ultrapassados). Justapostas, estas peças acusam uma altura de 0,4 m., a partir da primeira falca, altura que decresce, até 0,25 m., na extremidade do falquim. O comprimento da falca da ré é de 4,30 m., o da proa é de 3,05 m. e o do falquim é de 1,15 m. Quando o carregamento do barco é composto de moliço de arrasto, não se utilizam as falcas, porque o próprio moliço impede a entrada da água.

FALQUINS — Falcas pequenas. (Veja-se falcas).

FERRO — Fateixa de 2 ou 4 braços.

FORCADA — Pau em forma de Y, que se apoia sobre o cagarete e se fixa, com um cabo, à bica da ré, servindo de apoio ao mastro, quando arreado.

FORCADAS — Peças de madeira, com a altura aproximada de 0,55 m., que se encaixam nas encalas, numa posição vertical. Servindo de apoio ao cabo dos ancinhos, conjugam as suas funções com as das ta­mancas, para manter os ancinhos de arrasto numa posição oblíqua.

FURA-BUEIRAS — Arame utilizado para limpar as bueiras.

Reprodução do desenho de Domingos José de Castro.
Nomenclatura da proa.

GADANHÕES — Ancinhos de arrasto, com um pente de 32 dentes.

GAIOLA — (Veja-se portinhola).

GOLFIÕES — Duas peças de madeira, com as dimensões médias de 0,22 m. de altura por 0,08 m. de largo e 0,06 de espessura, colocadas sobre a cobertura do castelo da proa. Servem para amarração da sirga, descanso dos ancinhos, das varas, do ferro ou para a fixação do respectivo cabo, quando fundeado o barco. (O mesmo que mãozinhas).

LABOIROS — Pequenos montes de moliço juntos com os ancinhos de apanhar, nas praias e nas marinhas de sal.

Reprodução do desenho de Domingos José de Castro.
Nomenclatura da ré.

LADRA — (Veja-se matola).

LAMBAZ — Compõe-se dum cabo de madeira, com o comprimento médio de 1,50 m., tendo, numa das extremidades, sobrepostos e pregados, vários pedaços de trapo. Serve para a lavagem do barco.

MALHADAS — Terrenos ligeiramente inclinados, situados à beira-ria, onde se descarrega o moliço para lhe ser extraída a percentagem de água, que constitui uma sobrecarga inútil.

MÃOZINHAS — (Veja-se golfiões).

MARÉ DE MOLIÇO — Percursos de arrasto necessários para completar o carregamento do barco. Quantidade de moliço colhido durante uma maré ou durante um dia de trabalho.

MARISCAR — Colher o moliço do fundo com os ancinhos de apanhar, estando o barco parado.

MASTARÉU — Mastro com a altura aproximada de 5,50 m., onde se arma o traquete, usado, eventualmente, à proa.

MATOLA — Barco moliceiro mais pequeno, com apro­ximadamente 10 m. de comprimento. Tem os bor­dos mais altos do que o moliceiro tradicional, para compensar no que respeita a capacidade de carga, o que lhe falta em comprimento. Não tem painéis decorativos, sendo o casco totalmente embreado a pez negro. Pequeno barco de 3 m. de comprimento, manejado à vara, que, antigamente, era utilizado para o carregamento do moliço colhido em locais, onde não podia chegar o moliceiro, como, por exemplo, nas praias ou sítios de pouca profundidade. Estes pequenos barcos também eram conhecidos pela designação de ladras.

MOIRÃO — Vara de 4 a 6 m. de comprimento, que se fixa no fundo da ria e serve para atracação do barco.

MOITÃO DA BICA — Roldana, onde se fixa o bolinão.

MOLICEIRO — Nome do barco e do próprio tripulante.

MOLIÇO — Vegetação submersa da Ria de Aveiro, sem distinção de espécies, que a seguir se discriminam: Carqueja, Carrapeto, Cirgo, Corga, Erva, Erva de Arganel, Estrume Novo, Fita, Folha, Folhada, Limo, Mormassa, Mormo, Musgo, Papeira, Pinheira, Pojos, Rabos, Seba, Sirgo e Trapa.

MOSCAS — Fios que fixam a mura à vela.

MOTAS — Parapeitos de descarga do moliço, de reduzidas dimensões. Valas de água arrendadas pelos moliceiros, para a apanha do moliço.

MURA — Cabo que debrua a parte superior e inferior da vela.

ORELHA — Peça de madeira, situada por estibordo, junto à cinta, atrás do painel da proa. Por cima desta peça e fixada na cinta, há uma pequena corrente de, aproximadamente, 0,3 m., que termina por um gancho adap­tável a uma argola, situada a 0,2 m. Este con­junto, orelha e corrente, tem a dupla serventia de prender o barco ao moirão e evitar que este danifique o costado, pelo atrito resultante da agitação das águas.

OSTAGA — Cabo fixado à verga, que serve para içar a vela.

Reprodução do desenho de Domingos José de Castro.
Padiola

PÁ DE BORDA — Prancha de pinho, com o comprimento de 2,3 m., variando na largura: 0,7 m., 0,8 m. ou 1 m. Serve de quilha, quando o barco bolina, e coloca-se no bordo, por sotavento, meia mergulhada na água e segura por cabos que, a partir de ambos os orifícios abertos na sua extremidade superior, vão enlaçar-se na parte inferior do mastro. Cada embarcação possui 3 pás, que dão, também, serventia de prancha; com este fim, um dos lados é aparelhado com breu pulverizado de serradura, para lhe dar uma melhor aderência. (O mesmo que toste).

PADIOLA — Espécie de escada, que se compõe de 2 varas paralelas, sensivelmente fusiformes, com o compri­mento aproximado de 2 m. e ligadas, entre si, por 6 ou 8 travessas de 0,5 a 0,6 m., também fusiformes, colocadas a espaços iguais de, aproximadamente, 0,15 m. É transportada por dois homens e serve para a descarga do moliço. Quase sempre acompanha a embarcação, dependurada na proa, por bombordo.

PAINAS — Dois estrados iguais, que cobrem o vão entre as duas primeiras cavernas de água, ajustadas no sentido do comprimento. Têm a função de lareira.

PANEIRO — Estrado situado à ré, sob o lugar do arrais. A última tábua, costaneira volante, é desligada, com o propósito de facilitar o levantamento do paneiro.

PAU DAS TIRA-VIRAS — Pau cilíndrico, que se coloca encostado ao barrote da proa, fixado ao argolão por uma corda e que tem, na parte superior, uma ranhura circular, por onde passa a tira-vira.

PAU DOS PONTOS — Vara quadrangular, com 1,5 m. de comprimento, que tem marcadas, por incisão, as medidas que orientam o Mestre na cons­trução de todos os barcos. Constitui uma rudimentar régua de cálculo e tem por imediato auxiliar um cordel vulgar — e nada mais.

PERNAS DO BOLINÃO - Seis cordéis que unem o bolinão à vela.

PINTALHAS — Canas ou ramos de árvore, espetados no fundo da ria, que servem de balizas de sinalização.

Reprodução do desenho de Domingos José de Castro.Reprodução do desenho de Domingos José de Castro.
Motivos decorativos.

PIQUE — Ponto mais alto e estreito da câmara do castelo da proa, que tem a singular serventia de arre­cadar o pão, a vela do barco e cabos.

PODOA — Utensílio de bordo que serve para partir lenha e aguçar os dentes dos ancinhos.

POR BAIXO DO VENTO — Por sotavento.

POR CIMA DO VENTO — Por barlavento.

PORTINHOLA — Pequena gaveta, situada logo à entrada da cheleira de estibordo, fechada à chave, para arrecadação dos documentos de bordo e algum outro objecto de valor. (O mesmo que gaiola).

RAPÃO — Quando o pente dos ancinhos de arrasto se parte pelo meio, aproveitam-se essas metades, aplicam-se-Ihes cabos de cerca de 2 m. de comprimento e formam-se estes ancinhos, geralmente empregados para apanhar o moliço, a pé, nos cabeços que a baixa-mar deixa a descoberto.

RAPUCHO — Ponteiro em ferro, com cerca de 0,2 m. de comprimento, que serve para tirar os dentes partidos dos ancinhos.

Reprodução do desenho de Domingos José de Castro.Reprodução do desenho de Domingos José de Castro.
Reprodução do desenho de Domingos José de Castro.
Motivos decorativos.

RIZES — Ilhós abertos nas costuras da vela, por onde passam cordéis, com o mesmo nome, que servem para reduzir a superfície do pano.

SIRGA — Cabo que serve para puxar o barco, quando este navega contra a corrente ou contra o vento, junto às margens. (O mesmo que tira-vira, quando utilizada com as funções desta).

TAMANCAS — Peças de madeira, com o comprimento aproximado de 0,4 m., que se encaixam, nas encalas, numa posição horizontal. Servindo de contra­cunha, conjugam as suas funções com as das for­cadas, para manter os ancinhos de arrasto numa posição oblíqua.

TIRA-VIRA — Modalidade de condução e nome do cabo empregado para tal fim. Prende-se a tira-vira numa das extremidades do xarolo, faz-se passar, seguida­mente, pela ranhura do pau das tira-viras e amarra-se, por fim, na outra extremidade do xarolo. Daqui resulta que ambos os tripulantes podem, ao mesmo tempo, trabalhar com as varas e governar o barco de qualquer ponto onde se encontrem. Este cabo e modalidade de condução também são designados por sirga.

TOSTE — (Veja-se pá de borda).

TRAQUETE — Vela pequena usada, eventualmente, à proa, içada no mastaréu.

TRASTE — Prancha fixada às dragas, por cima da coxia, com um orifício central, por onde passa o mastro. É articulada longitudinalmente por dobradiças, para facilitar o arrear do mastro.

TROÇA — Cabo que fixa a vela ao mastro, na parte superior.

UTENSÍLIOS DOMÉSTICOS DE BORDO — Um fo­gareiro de ferro, um caldeiro de ferro ou folha, várias tigelas e palanganas de barro vermelho vi­drado, colheres de folha e garfos de ferro, uma bilha de barro vermelho ou barril de madeira com pega de ferro, para a água, um podão, esteiras e roupa da proa, constituída por mantas de agasalho e cobertas de trapo.

Reprodução do desenho de Domingos José de Castro.
Motivos decorativos.

VARAS — Varas de pinho de 4 a 6 m. de comprimento, que servem como meio de propulsão do barco.

VARÃO — Ferro em que se prende a escota e é fixado, interiormente, por estibordo da ré; este varão arma na respectiva fêmea, colocada por bombordo, em local correspondente. Fora das ocasiões de serventia e com o fim de facilitar a passagem dos tripulantes, arma, então, na fêmea de descanso, situada a estibordo.

VELA CAMBADA — Vela colocada por bombordo, ao contrário do que é usual.

VERGA — Vara de eucalipto, com o comprimento de 4 m., onde se prende a vela com os envergues. (O mesmo que envergue).

VERTEDOIRO ou VERTEDOURO — (Veja-se escoadoiro).

XAROLO — Vara de pinho ou de eucalipto, com 2,5 m. de comprimento, que atravessa a parte superior do leme e nas extremidades da qual se prendem as pontas dos cabos do leme.

 

 
Página anterior Página inicial Página seguinte