Já anda a olhar prà
sombra − «Pois pudera não!... Se
a cachopa tem a quem sair... Ora não querem lá ver a delambida!... Já
a formiga tem catarro... já anda
a olhar prà sombra... um pirralho daqueles!... Sim,
pois quem havera de ser senão a filha da ti Angelca!...» − Andar a olhar prà sombra
quer dizer que, apesar de ainda novita, a rapariga já é vaidosa.
Gandaia − «Aquilo é homem que anda sempre na gandaia» − Andar na gandaia é andar na pândega.
Está pra ter cria − «A minha vaca castanha, ou a loura, está pra ter
cria»... ou «lá a mulher está pra ter cria»... são expressões vulgares
de muitos lavradores da região quando as suas vacas ou mulheres estão
pará «dar à luz». Ditos ingénuos, sem nenhum melindre para a mulher. E,
em verdade se diga, alguns dão mais atenção e valor às crias das vacas
do que aos filhos que estão para nascer porque... destes, se morrerem,
arranjam-se outros, e, «coitadinhos, são uns anjinhos que vão pró céu,
sem andar a sofrer por este mundo de Cristo»... mas as crias das
vacas?! «credo, nem pensar nisso, pra longe vá
o agouro...» − pois se o pobre homem desde que foi
com a vaca ao boi anda de noite e de dia com aquilo na ideia... a contar
mentalmente as notas que o bezerro há-de dar na feira... para comprar uma «soga» nova, e umas roupitas para a mulher e para os filhos, e pagar
a 2.ª prestação das décimas das terras, e uma promessa que deve ao S.
Geraldo, e os juros do dinheiro que ainda
não pagou ao compadre, e uns tamancos, e uma foucinha,
e uns cabos para as enxadas. . . «um ror de dinheiro!»
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Sangrar o lagar. Quando se deitam cachos demais e, ao
pisar, o vinho sai pelas bordas, sangra-se o lagar, tirando
um pouco de mosto.
Soga − a corda que anda presa à cabeça das vacas ou dos
bois e que ajuda a guiar a parelha quando está ao carro.
Fornada − cozer a fornada e cozer as broas (boroas), pão de
farinha de milho, para sustento da família, no forno apropriado, aquecido a lenha, que fica rubro de calor.
Broas e Bolas − Na ocasião de cozer as broas também é costume meter no forno uma ou duas boIas. As broas têm
a forma abaulada, ao centro, altas de 10 centímetros; e as bolas são
chatas e baixas, regulando de 3 a 6 centímetros
de altura. E, dentro das bolas, é hábito meterem sardinhas gordas ou bom pedaço de chouriça de fumeiro, e,
depois de cozidas e ainda quentes, servem de «conduto» para a ceia da
família do lavrador, que já comeu o caldito e espera, em volta do borralho, o petisco do «conduto».
Conduto. − Depois do caldo, umas sardinhas ou chicharros,
assados ou cozidos, um bocado de bacalhau ou carne de
porco, mesmo gorda, da salgadeira... é o conduto...
muito bom, «louvado seja Deus», com o bocado da braa,
as batatas cozidas e a pinguita... porque no caldo já o
lavrador deitou um bocado de vinho, para lhe saber
melhor. E agora, o pandulho cheio, malgas, travessas,
colheres e garfos de ferro, baratos, à espera de serem
lavados, o lavrador limpa os beiços gordurosos às costas
da mão e lá vai dormir um bocadito a sesta, se e no
verão... porque se é no inverno «os dias são pequenos
e não chegam p'ra nada... toca pró trabalho»... depois
de ter dado a empalhada às vacas.
Empalhada − Quando há falta de erva ou outro pasto verde,
o lavrador mistura palha na erva, para dar ao gado, e a
isso chama «empalhada».
Borralho − Estar ao borralho é estar sentado em volta da
lareira, onde ainda há lume, ou somente brasido. E a
boca do forno do pão, via de regra, está virada para a
lareira.
Meda da palha ou meda das agulhas − É a palha (de trigo,
centeio, azevem, arroz) ou agulhas (rama de pinheiros)
que se amontoa, em forma cónica, à volta de uma vara
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(três a quatro metros de altura) e uma panela velha fincada na ponta da
vara. E, das medas, vai-se gastando durante o inverno. A palha, para os
gados. As agulhas, para o lume.
Embeiçado − «Está embeiçado pela cachopa» − Está apaixonado, ou
gosta dela...
Arruma-te daí, rapaz.... − O mesmo que afasta-te daÍ.
A ninhada dos pitos − «A ninhada dos pitos golou quasi
toda... o estafermo da galinha é de fraca raça»...
Golou − Na boa linguagem desta região quer dizer que os
pintainhos (pitos) não nasceram.
O galispo novo já gala − Quer dizer que já pode substituir
o galo velho no serviço que vinha prestando à economia
do lavrador, portanto... no primeiro domingo de festa rija... uma boa
arrozada de caçarola e o velho galo assadinho ou guisadinho... porque
as galinhas já não lhe sentirão a falta. Lá está o outro.
A filha da ti Justina está com o «esprito» − «É verdade!
Pois se a rapariga fala mesmo com a voz grossa do pai, que já morreu há
dois meses; Credo! Dão-lhe uns ataques, atira-se pelo chão, que não há
quem a segure!» − Esta coisa de espiritismo (mas um espiritismo grosseiro) está a espalhar-se, perigosamente, por todas
as
localidades da região, pondo em desassossego a vida de muitas famílias
e a tranquilidade de muitos lares. Assim que morre alguma pessoa de mais
destaque social logo aparece uma «atacada» (sempre mulher), onde o
espírito do morto ou da morta se «mete», com exigências de rezas, de
dívidas não saldadas, a pedir coisas e loisas, a ameaçar, a barafustar.
E toda a gente vai ver os ataques «que dão à rapariga», e toda a gente
fala naquilo, e todo o ritmo da boa harmonia e dos trabalhos diários
se desorganiza. Entram em cena os «doutores de borralho», as beatas e as mulheres de virtude, que tudo podem, e até,
muitas vezes, a valiosa ajuda dos senhores priores das localidades, com
«práticas» muito discretas...
A Salgadeira − É uma caixa apropriada onde a mulher do
lavrador conserva, envolvida em, sal, a carne dos porcos, que é o
governo da família durante todo o ano.
Matreira − rapariga matreira é rapariga manhosa... cautela com
ela!
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Sonsinha − «parece que não quebra um prato... uma sonsinha... mas
arranjou aquilo e, pelo que se vê, já deve ir em cinco meses... adiantadito... Que Deus lhe dê uma boa horinha!»...
Fosquinhas − fazer fosquinhas é acirrar, provocar zangas.
Maneia-te − «maneia-te mulher» − «anda depressa, acaba com
isso, mexe-te...»
Lazeira − Sinónimo de fome. «Estou com uma lazeira»...
Também se emprega no sentido de preguiça.
Vai todo Pimpão − Bem posto, todo vaidoso.
A cabana da palha − São umas varas fincadas no chão, com 4 ou 5 m. de
altura, e juntas, em cima, em forma
de ângulo. Nestas varas, outras são pregadas em sentido paralelo. E ali,
entre as varas paralelas, o lavrador mete a palha do milho, depois de
escapeladas as espigas, e dali a vai tirando, conforme precisa, para dar
às vacas.
Deus vos ajude − Esta saudação ouve-se por toda a região, quando as
pessoas de trabalho passam por outras que estão a trabalhar.
Estes termos e fraseado do linguajar do povo da região
de Vouga tornam mais completo o que sobre o mesmo assunto publiquei no
n.º 40 deste Arquivo, embora, como é natural, haja outros termos e
expressões a acrescentar ao que agora e então foi publicado.
LAUDELINO DE MIRANDA MELO |