Corrigindo:
EM
passado artigo, sob a epígrafe supra, localizámos a Mamoa Negra nas
proximidades de Albergaria a Velha, por deficiência de informação
verbal, tanto nesta vila como nas vizinhas povoações; e ainda pelo
desconhecimento de certo documento policial que à mesma faz referência,
e do qual, em gentil e douta carta, o ilustre Sr. Dr. ALBERTO SOUTO, que
a nenhum esforço se tem poupado para bem conhecer os pormenores do
Distrito, nos dá conta; não devendo também ser esquecidas as palavras do
erudito Sr. P.e MIGUEL DE OLIVEIRA, em seu substancial artigo
«De Talábriga a Lancóbriga pela via militar romana», no mesmo
número 33 do Arquivo inserto. Que, um e outro a Mamoa Negra dão a
pequena distância de Angeja. O local onde, todavia, situamos o fúnebre
monumento é conhecido por Mamoas, e deve corresponder a um
daqueles em que certo investigador concelhio encontrou restos de alguns
monumentos semelhantes. Investigador a que o Sr. P.e MIGUEL
DE OLIVEIRA também se refere.
Nossa crença, porém, − cuja
exteriorização constituiu o principal objectivo de nosso artigo − de que
todas as localidades rezadas na carta de couto concedida por D. Teresa a
Gonçalo Eiriz, e noutros documentos, se encontram nas proximidades do
rio Vouga, e não àquelas distâncias que lhes foram atribuídas, com a
situação da Mamoa Negra a seis quilómetros a oeste de Albergaria a
Velha, em nada foi prejudicada. Há, sim, e é isso muito importante − a
identificação dos actuais topónimos com os antigos correspondentes
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[Vol.
X - N.º 37 - 1944]
e o respeito à verdade, que, com a presente rectificação, recebem: esta,
o devido culto; aquela, o aceite em que a têm os seus legítimos
investigadores.
Vem ainda a propósito
esclarecer que sobre Palaciolo nossas informações dimanaram
principalmente das pesquisas do Dr. AUGUSTO S. DE SOUSA BAPTISTA, que
no-las narrou e melhor do que ninguém conhece o MarneI e seus arredores.
E não deixará ele, decerto, quando regressar do Brasil, de contar-nos
pelo miúdo quanto viu pelo famoso Cabeço e do mesmo sabe pela leitura do
pouco que sobre este existe escrito, que não ultrapassará a exaustiva
rebusca efectuada pelo nosso esforçado companheiro de
escavações locais em 1941(1).
Rematando:
Do muito
prezado Amigo e lúcido e consciencioso investigador que é o Sr. Dr.
SOARES DA GRAÇA, recebemos amabilíssima missiva, que sobre a igreja de
Lamas nos trouxe o seguinte complemento: «Rebusquei as minhas notas e
verifiquei que está muito certo o que se afirma no artigo;
efectivamente, o juiz da igreja de Lamas, Domingos de Carvalho, requereu
ao Bispo de Coimbra, no ano de 1771, para ser edificada outra igreja, em
outro local, visto que a antiga estava muito arruinada. Houve
divergências quanto à escolha de sítio em que havia de ser feita, e
enquanto uns a queriam junto da estrada, outros entendiam que ela devia
ficar no cabeço denominado Gaiteira; por fim, acordou-se em que
fosse edificada no sítio da Cruz, onde foi a eira do Bento
António, da cidade de Aveiro. A 11 de Novembro de 1776 foi feita a
visita de exame pela autoridade eclesiástica e achou-se que o templo já
estava em condições de ali se celebrarem actos de culto, e que havia,
além disso, paramentos bastantes, uma custódia dourada, um turíbulo e
naveta de prata, etc.
Estas notas que tirei em
tempo na Câmara Eclesiástica de Coimbra, aí as mando ao meu Amigo, pois
são mais uma achega para o conhecimento daquele local, que tão
interessante carinho lhe tem merecido.»
E assim fica plenamente
corroborado quanto o ilustre sacerdote que foi João Gomes dos Santos
deixou escrito no Livro das Pastorais da Igreja de Lamas.
Por tão valiosa achega
receba o Sr. Dr. SOARES DA GRAÇA o nosso mais vivo agradecimento.
O Crestelo:
A Sudeste do Cabeço de Vouga, em duro e pronunciado esporão, formando
socalco a meio da lombada
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do monte do Toural, deve ter poisado outrora a edificação que constituiu
certamente dependência do castro de Cabeço de Vouga. Ao local
conserva-se, em nossos dias, o topónimo Crestelo e foi povoação
ainda ao finalizar do século XVII, continuando as respectivas terras de
lavoura a produzir pão, vinho e carne, esta através das ervagens consumidas
pelo gado; pois, resultantes do arenito triádico, rico de cimento
argiloso, revelam mediana fertilidade, que os seus proprietários não
cometem o erro de entregar à floresta resinosa.
Em o n.º 30 do Arquivo,
enunciando dizeres de vetusto documento, denominado «O Rol das
«Cavalarias» do Vouga», destas menciona ROCHA MADAHIL, na freguesia de
Valongo do Vouga, duas em Brunhido, sendo uma de p. menendj; duas
em Lanheses, sendo uma de martino petri e outra de paiam;
e uma em Crestelo, da deste não referindo o nome do proprietário
onerado.
Em 1612, ali, no referido
Crestelo, faleceu Adão Martins, e em 1621 sua viúva, Violante Álvares.
Do casal vieram pelo menos dois filhos: Domingos Martins, que casou com
Catarina Marques, falecida em 1628, e Francisco Martins, que em 1621
casou com Antónia Maria. Ali viveu também António Rodrigues, falecido em
1694, que foi casado com Domingas Dias, havendo sido registados do casal
cinco filhos, dos quais um, o chamado Manuel, que seria de alcunha O
Cristeleiro, morreu em 1695. Dos assentos paroquiais consta ainda o
falecimento de Manuel, filho de António da Costa, do Crestelo, em 1696.
E sobre demografia foi quanto do dito Crestelo encontrámos.
Há ao cimo e a Poente das
terras de cultura uma nascente com seu tanque de ajuntamento das águas
para regadio, que estão divididas por diversos proprietários. Esta
nascente deveria ser muito mais rica outrora, pois ali existiu um moinho
que elas moviam e vem referido nos registos paroquiais, deles rezando
ainda a tradição. Mais volumoso mesmo que fosse o caudal, tal moinho,
contudo, somente poderia funcionar à presada.
Estivemos no esporão do
Crestelo, percorremos as terras e pinhais circunvizinhos, e, de luso ou
luso-romano, nada, absolutamente nada encontrámos. No socalco apenas
colhemos um pedacito de telha nacional, que pela espessura nos pareceu
indicar fabrico de alguns séculos.
E para terminar:
Uma das vezes que por ali
andámos, deparou-se-nos velho conhecido, que, logo perguntado no sentido
da nossa pesquisa, respondeu: − O Crestelo é aí; e apontou-nos o
esporão. E a seguir acrescentou − Dizem que era dali que davam fogo
para o Cabeço de Vouga...
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Quem sabe se os lusos e
luso-romanos precederam os chineses no conhecimento da pólvora e da
pirotecnia, e os ingleses na sua aplicação guerreira? Mas talvez o nosso
comparoquiano se quisesse referir ao célebre combate entre liberais e
legitimistas, em que, afinal, parece que ninguém morreu. Pelo menos, dos
falados cadáveres emborcados no poço da mina, apenas apareceram uns
ossitos de pequenos ruminantes...
JOAQUIM SOARES DE SOUSA
BATISTA |