VIII
SÃO, pois, muitos os motivos que tiveram influência na
decadência das edIflcações romanas e consequentemente na sua completa ruína. De
Langóbriga resta-nos hoje a
designação, documentada por vasta bibliografia, e os despojos
arqueológicos encontrados. O topónimo desapareceu da tradição oral. A
colina, em que a cidade teria assento, denomina-se, actualmente, Monte-Redondo ou de Santa Maria. Os castros foram as
primitivas povoações ibéricas. Junto deles ficavam os santuários das
divindades locais, numina loci. A construção dos castros no coruto dos
montes parece ter obedecido não apenas a uma necessidade de defesa, mas
também a uma causa espiritual... de ordem religiosa. O deus lusitano
Endovélico, de quem muito se tem escrito, tinha o seu santuário no alto
do monte de S. Miguel da Mota, no concelho de Alandroal, Alentejo. O
local apresenta vestígios de uma antiga fortificação, não diferente dos
castros.
Os Romanos adoptaram e romanizaram a maior parte dos deuses ibéricos. Os
montes das antigas povoações castrejas começaram a ser lugares de
peregrinações e de ofertórios «donarias», ao deus protector da região,
que aí tinha tido o seu culto.
Muito a custo, o Cristianismo conseguiu afrouxar, mas não apagar de
todo, a devoção ibero-romana. Vemos reflexos de antigos cultos, na festa
das Maias, de S. João, no cepo do Natal, nos magustos, nos ganhos
milagrosos, etc.
Para fazer esquecer os cultos antigos, a Igreja encheu de ermidas o cimo
dos montes, onde quer que os mitos pagãos estivessem a manchar a pureza
dos ritos cristãos: Nossa Senhora da Piedade e Santa Bárbara, em Canedo;
Santo António da Laje, em Fornos; Nossa Senhora da Boa Fortuna, no alto
do
/
207 /
Viso, em Guisande; e mais longe de nós, mas divisando-se das terras da
Feira, S. Domingos, de Paiva, irmão de Santo lsidoro, do monte Castro,
de Gondomar, e de São-Macário três ferreiros, que possuem apenas um
martelo, de que se servem,
conjuntamente, arremessando-o uns aos outros, de serra para serra, à
distância de muitas léguas... Nossa Senhora da Saúde,
dos Carvalhos; o monte da Virgem de Vilar do Andorinho lindas
capelinhas, muito pequeninas aos nossos olhos, que, na limpidez da sua
santidade, nos contam histórias curiosas de crenças gentias.
A Cruz substitui as insígnias romanas e o crescente muçulmano. A Virgem
Maria substitui Aries ou Marte. Ela é que guia os exércitos cristãos e
dá as vitórias...
Nas duas designações actuais do outeiro da antiga cidade de
Langóbriga,
uma é meramente topográfica, Redondo, «monte de forma arredondada», «mamoa»; a outra é proveniente de
ter existido no sítio uma ermida ou mosteiro, consagrados à Virgem Nossa
Senhora, cristianização dos cultos prestados a um deus ou génio local.
Creio que data de Afonso III (860-910), a fundação do monumento católico
que deu origem à designação tópica de Santa Maria. Afonso III
reconquistou toda a faixa ocidental da Península: Coimbra, Lamego,
Viseu, etc., e repovoou muitas terras, entre o Douro e o Mondego. No seu
reinado fundaram-se, na região, que se chamou de Santa Maria, os
mosteiros de Azevedo e Sanguedo e foram lançadas as primeiras pedras
para os mosteiros de Crestuma, Santa Cruz de Silvalde, S. Miguel de
Cortegada (Olival), S. Miguel de Dezanos e São-João (Ovar), etc. Da
mesma época deve datar a fundação do primitivo castelo de Santa Maria,
de Vila da Feira (a actual forma arquitectónica provém do tempo de D.
Afonso V, não esquecendo as reparações de sucessivas épocas, até aos
nossos dias), à volta do qual se formou e desenvolveu a povoação de
Santa Maria, espreguiçando-se, pela encosta do monte e pelos vales
próximos. Em lugar privilegiado, junto das ribeiras férteis e amenas do
Cáster, bem defendida pelo castelo, baluarte defensivo do Cristianismo,
na extensa região de entre o Douro e o Vouga, prosperou, consideravelmente, e adquiriu, em poucos anos, foros de cidade.
O mais antigo documento, que conhecemos, que se refere ao culto da
Virgem Maria, é uma doação ao mosteiro de S. João de Ver,
e diz respeito
ao actual concelho da Feira. Data de 773(1): «Donatio bonorum ecclesiae
S. Joannis Baptistae, prope Souto Redondo, territorio Portucalensi... ln
nomine
/
208 /
domini nostri ihesu christi et indiuidue sancte trinitatis patris et
fiIii et spiritus sancti inuictissimis ac triumphatoribus sanctis
que martiribus gloriosis quorum baseIica discernimus et fundamus Ioci illius sancti ihoannis babtiste et sancti saIuatoris et
sancte marie semper uirginis et sancti peIagii et sancti iacobi apostoli...»
Dipl. et Chartae, pág. I
Num documento do ano de 867 há referência a uma igreja com a invocação
de Santa Maria: «eclesie sancte mariesedis colimbriensis...», Carta diuisionis in
Dipl. et Ch., pág. 3.
Em outro documento de 870: «...baseIica sita et fundata est
in villa negrelus territorio bracharensis urbium portugalensis
secum sancte marie subtus mons cauallus prope riuulum have», Dipl. et Ch.,
pág. 3.
Num documento de 915: «...damus et concedimus ecclesiam uocabulo sancte
marie uirginis... in uilla que dicenl fremoseli iuxta flumem mondeci...»
Doação à igreja de Formoselha, Dipl. et Ch., pag. 13.
No ano de 961, aparece já o topónimo «sancta maria de
Lamas», Dipl. et Ch., pág. 53.
Em 977, aparece a designação «ciuitas sancta maria», dada
à actual Vila da Feira: «in uilla uaIeiri discurente riuulo rio
mediano terredorio portugalense prope ciuitas sancta maria», Dipl. et
Ch., pág. 75.
Nas Inquisitiones há muitas referências a povoações que
tinham como padroeira a Virgem Maria: Santa Maria de Dezaos,
Santa Maria de Burroos, Santa Maria de Gouviaes, Santa Maria de Atanes,
Santa Maria de Reymondo, Santa Maria de Guimaraes, Santa Maria de
Barcelos, Santa Maria de Adaufi, Santa Maria de Ladroes, Santa Maria de
Borva... Santa Maria de Gouvens, Santa Maria de Touguina, Santa Maria de
Provesende, Santa
Maria de Ferreiró, Santa Maria de S. Felix, Sancte Marie ripa
pauie (hermida), Santa Maria de Torgoosa, Santa Maria de
Revordaos, Santa Maria d'Areias, Santa Maria d'Ardegam,
Santa Maria de Igreja Nova, Santa Maria de Moimenta, Santa
Maria de Chorensi, Santa Maria de Barvudos, Santa Maria de Moos, Sancta
Maria de Idaes, Sancta Maria de Alvarenga, Santa Maria de Arenis, etc.
Das setenta e seis freguesias da antiga Comarca e Ouvidoria da Feira ou
Terra de Santa Maria (v. P.e ANTÓNIO CARVALHO DA
COSTA, Chorographia Portuguesa, 1708), doze são consagradas à Virgem
Nossa Senhora: Santa Maria de Esmoriz, Santa Maria
de Lamas, Santa Maria de Fiães, Santa Maria de Crestuma, Santa Maria do
Olival, Santa Maria de Sandim, Santa Maria do
Vale, Santa Maria de Pigeiros, Santa Maria de PindeIo, Santa
Maria de GulpiIhares, Santa Maria de Arrifana e Santa Maria
de Ul.
/ 209 /
IX
Todo o território do concelho da Feira e da antiga circunscrição da
Terra de Santa Maria está cheio de antiguidades
de grande valor... Ruínas vivas a atestar a grandeza de uma
civilização multi-secular, que prende pela singularidade dos
seus aspectos exteriores e de alma.
Dividimos o concelho em quatro zonas:
Zona do Alto Uíma:
Langóbriga. Castro de Ovil. Murado. Anta. Mámoa. Casas.
Casinhas. Caldas. CaldeIas. Casaldoído. Candeídos. Cepo. Lajes.
Carreira-Cova. Vale-da-Cabra.
Zona do Cáster:
Castro da Vila da Feira. Muradões. Recarede. Arca-pedrinha. Monte-do-Forno. Fornos. Laje. Penas. -Pedra
(Chão-da-). Seixo. Penedo. Carreira. Estrada-Velha. Rua (?).
Zona do Baixo Uíma:
Crasto. Castelinho. Penas-do-Cepo. Marco-de-Eirós. Crestuma. Laje. Cepo.
Zona do Ur:
Castro e Cividade da Portela. Castelhão (Crastellum, ano
de 1251). Arcas-da-Searaa e do Suam. Forno. Cham-do-Forno. Cham-de-Arcoa.
Cham-de-Arcas. Mámoa. Dentases. Pena. Torre. Laje. Pé-de-Arca.
Mato-de-Arca, Castelo, Lações e UI, a confinar com a região da cidade de
Talábriga.
Zona do Alto Uíma:
Langóbriga, de que já falámos, parece ter sido situada
no Monte Redondo ou de Santa Maria, na freguesia de Fiães. Fez o
inventário do seu espólio arqueológico o Prof. MENDES
CORREIA.
Castro de Ovil, na freguesia de Esmoriz. Castros são as ruínas de
antigas povoações fortificadas, no cimo dos montes, quase sempre nas
margens dos rios e ribeiros.. «Castrum
/
210 /
augmentatif de Casa, ce mot indiquait dans son sens primitif
une hutte large ou solidement bâtie et par suite un fort, ou une
forteresse...», Dictionnaire des Antiquités Romanes et Grecques,
ANTHONY RICH, tradução de M. CHÉRUEL. Paris, 1861.
Os Celtas deram o nome de dunon ou
briga às povoações
fortificadas, que no latim clássico são denominadas oppida ou oppidula, e
castra (castrum no singular), no latim da decadência. Por influência dos Germanos, se passou a chamar-lhes, por
vezes, burgos - «Vegécio ya en la segunda mitad deI siglo IV,
cita una: burgus, castellum parvulum quem burgum vocant, que
ya se latiniza en inscripciones deI siglo II y persiste en nombres
de lugar: Burgos, EI Burgo, Burgohondo, Burguillo, Burguete»,
R. MENÉNDEZ PIDAL, Manual de Gramatica Histórica Española,
pág. 19. Madrid, 1929 − e parece que os Árabes as designam,
com frequência, por atalaias e albarradas. Os nossos antigos
camponeses, ao depararem, a primeira vez, com as ruínas dos
castros, desconhecendo o seu significado, deram-lhes designações metafóricas: cividades, citânias, cercas, coroas, murados,
muradões, casas, casinhas, pedras, torres, moimentas, etc.
Da abundância dos castros e de outras fortificações na
Península, e do seu grande valor estratégico, fala JÚLIO CÉSAR,
nos seus Comentarii de Bello Hispaniensi, cap. VIII: «...Hic
etiam propter Barbarorum crebas excursiones omnia loca, quae
sunt ab oppidis remota, turribus et munitionibus retinentur, et,
sicut in Africa, rudere, non tegulis teguntur; simulque in his
habent speculas, et propter altitudinem longe lateque prospiciunt... «... Além disso foram forçados, por causa das frequentes
incursões dos bárbaros, a fortificar com castros e torres, todos
os lugares distantes das cidades, e, como em África, são cobertos de
argamassa, e não de telha, e, nos pontos mais elevados,
constroem atalaias que permitem que a vista se estenda até
longe».
De alguns destes castros chegaram aos nossos dias restos
das habitações por eles defendidas, traços de estradas e monumentos sepulcrais (mamoas, antas ou arcas), instrumentos de
uso doméstico, ex-votos, moedas, inscrições, etc. De outros
ficou-nos o topónimo petrificado.
Nas proximidades dos castros ficavam as sepulturas dos
castrejos, hoje apenas conhecidas por diversas designações
toponímicas, perdido o monumento funerário que lhes deu origem: Anta, Dentases (de
de + Antas + es. Ver os meus
«Respigos da Toponímia Feirense, pág. 5)
(2). Arca(s), Arca-pedrinha,
/
211 / Pé-de-Arca, Arcoa, Forno(s), Cepo, Marco? Pedra? Pena(s)?
Laje?
O Castro de Ovil aparece várias vezes citado em documentos medievais:
«... in uilla ermorizi et cortelaza subtus castro de obile, discurrente
ribulo mediano», ano de 1013, 134; ano de 1055, 241 «...rrio de paramio
usque rio de sparago de
mazaneta... et abe ipsa ereditate iacentia subtus castro ouibil prope
litore maris»; ano de 1056, 244 «...in uilla ermorizi subtus castro de
obile discurrente ribulo paramio...»; ano de 1076, 327 «...in uilla
ermoriz subtus castro ouile discurrente ribulo maiore
prope lidore maris;» ano de 1090, 441 «...in uilla ermorizi subtus mons
castro de obil.
Diz PEDRO A. DE AZEVEDO: «Tem grande probabilidade o antigo
Castro de Ouile (Obile e Obil) ou Castro Ouibil ser o actual monte d'O Murado. A
grande altura (relativamente) do monte, permitindo a inspecção da maior
parte do território, e as suas encostas arborizadas em que o gado,
principal riqueza daqueles tempos, facilmente encontrava sustento,
ofereciam a reduzida população um abrigo passageiro perante os ataques
dos que tanto podiam ser seus correligionários como adversários
constantes (mouros e normandos). O próprio nome do castro parece ser uma
palavra latina que significa «curral de ovelhas», e, efectivamente, ao
menor assomo de invasão deveria ser o primeiro movimento dos donos das
vilas recolher em lugar seguro o seu gado, enquanto eles, rodeados dos
seus servos de diversas qualidades, tentariam pelas armas opor
resistência ao avanço do inimigo», Archeologo Portugues, voI. III, págs.
139-140.
Murado (freguesia de Mozelos).
A respeito do castro de Mozelos, nada sabemos, além do
que diz a Memória do pároco da freguesia, em 1758:
«Junto a esta Igreja ha hum outeyro a que chamam do Murado que fica
muito alto em hum monte o qual serve de apascentar os gados... mostra
este nos antigos tempos ser cercado com valle cujo monte ou outeiro
dizem os antigos que foi Praça dos Mouros de cujo se descobre grande
parte do mar, a villa de Aveiro, o Rio que fica junto, que a villa será
de distância 5 para 6 legoas e o castello da villa da Feira», extraído
do Archeologo Portugues, voI. III, pág. 139, artigo de P. A. DE AZEVEDO.
Anta, freguesia do concelho de Espinho. O topónimo é proveniente de ter
existido no local um monumento sepulcral pré-histórico, deste nome. As
antas, também, conhecidas por arcas, orcas, dólmens, antelas, etc.,
assentavam geralmente sobre mamoas.
/ 212 /
Mamoa, povoação da freguesia de Fiães. O topónimo comprova a existência
no local de uma mamoa: elevação artificial ou natural em forma de seio
de mulher. Na toponímia aparecem, alem de Mamoa, Mamoinha, Mamunha e
Mamaaltar.
Casas, lugar da freguesia de Lourosa. Talvez estejamos diante de um
topónimo de origem popular, a indicar as ruínas de uma povoação
castreja.
Casinhas, aldeia da freguesia de Argoncilhe. Veja-se o que foi dito para
Casas.
Caldas (do latim (Aquas)
Calidas) povoação termal na freguesia de S.
Jorge. Ver Feira, Terra Sanctae Mariae e o Concelho da Feira e Terra de
Santa Maria − História. Etnografia. Arte. Paisagem.
CaldeIas, diminutivo de Caldas «pequenas caldas», outra
povoação da mesma freguesia.
Águas-Férreas, pequena nascente de águas minerais, também, em São Jorge,
como me informou a talentosa professora, nesta freguesia, D. Maria José
de Oliveira.
Vários factos levam a crer que a freguesia de São Jorge
foi muito habitada em tempos remotos, principalmente pelos Romanos, que
devem ter utilizado as águas minerais. Diz Justino que os povos da
Península aprenderam dos Romanos o uso dos banhos quentes: «Aqua calida
lavari post secundum bellum Punicum a Romanis didicere», Historiae
Philippicae, Lib. XLIV, cap. lI.
Caldas, CaldeIas, Portela, Casaldoído, Candeídos, Cepos, Lajes, são
designações muito antigas. Em Casaldoído entra o elemento ídolo (Casal-do-Idolo).
O monumento religioso que deu origem ao topónimo perdeu-se. O ídolo
talvez representasse o deus ou génio protector dos doentes das Caldas.
Bormanicus foi o deus ou o génio das termas de Vizela. Tameobrigus
foi o deus ou o génio do rio Tâmega. Ver Religiões da Lusitânia, voI. lI, págs. 266 e 320.
Candeídos, lugar da freguesia de S. Jorge. O topónimo tem todos os
aspectos de um nome celta. Consultar HOLDER, Alt-Celtischer Sprachschatz.
LEITE DE VASCONCELOS cita a inscrição galega «Iuppiter
Optimus Candiedo» em que o deus romano Júpiter é seguido do epíteto «Candiedo», aparentado com o nosso Candeído(s) e diz: «conviria saber se os
epítetos são nomes de deuses locais, ou designações meramente
geográficas e quais os atributos aqui concedidos a Júpiter.., Religiões
da Lusitânia, voI. II, pág. 342.
/
213 /
Bem pode ser que o nosso Candeídos
seja um antigo deus
ou génio local, e que o seu santuário fosse no monte que tem
hoje essa designação.
Cepo(s), campos nos lugares de CaldeIas e de Azevedo da
referida freguesia de S. Jorge. Penso que se dá, algumas vezes, este nome, às antas com mesa, em linguagem metafórica. Chama-se cepo no
concelho da Feira a um pedaço de tronco de
árvore e aos traços de madeira, em meia lua, cortados das cambas das rodas dos carros de bois. No lugar da Póvoa, da freguesia de
Canedo, num dos seus outeiros mais elevados temos
Penas-do-Cepo (= Pedras-do-Cepo), topónimo mais expressivo,
que dá força à nossa hipótese. Cfr. com Pé-de-Moura (= Pedra-da-Moura), lugar da freguesia da Lomba, do concelho de
Gondomar à margem do Douro, e Pé-da-Arca (= Pedra-da-Arca), lugar da freguesia de Pigeiros.
Laje(s), campos da mesma freguesia de S. Jorge. Muitas
vezes esta designação é proveniente de ruínas de castros, mesas de
dólmens ou antas. É frequente este topónimo no concelho.
Carreira-Cova, lugar da freguesia de Lobão, expressa que
o local era de grande trânsito em tempos antigos.
Vale-da-Cabra, lugar da freguesia de Lobão. O topónimo
deve ser proveniente de ter existido no local um monumento
votivo com a figura de cabra, tóteme pré-histórico, ou proto-histórico, ídolo, ou ex-voto. Os Lusitanos imolavam bodes, nos
seus sacrifícios ao deus Marte: « Marti caprum immolant», ESTRABÃO, Rervm Geographicarvm, tomo
I. O seu principal
alimento era a carne de cabra: «maxime capros edunt», donde
se depreende que este animal abundava na Lusitânia. AVIENO
fala, também, da abundância do gado caprino na região do promontório Sacro:
«Hirtae hic capelIae et multus incolis caper.
Dumosa semper intererrant
caespitum».
(Ora Maritima, vv. 217-218).
Da cabra, como animal cultual, fala LEITE DE VASCONCELOS,
Religiões da Lusitânia, vol. lI, págs. 170, 283, 284 e 305;
vol. IlI, 504-505. Cfr. com Fonte-da-Rata, lugar da freguesia
de Silvalde, talvez génio local da fonte, ou protector da agricultura da região.
/
214 /
Zona do Cáster:
Castro da Vila da Feira. Não há razão para considerar como
assento de Langóbriga o monte em que se ergue com altiva
majestade o castelo da Feira, que dista da Calem, do Itinerário
de ANTONINO, cerca de 29 quilómetros. No local, em que o castelo foi
edificado existiu uma povoação castreja luso-romana como muitas outras
que prosperaram na extensa região, do
. Douro ao Vouga, e do mar ao UI e ao Antuã.
Do antigo castro de Vila da Feira, possuímos dois ex-votos: um do deus
TUERAEUS, uma ara romana encontrada, em 1912, quando se procedia à
reconstrução da muralha de vedação da parte de Leste,
DEO
TVERAEO
VOLENTI
ARCIVS
EPEICI. B
RACARVS
S.F
a que faz referência o Prof.
Dr. LEITE DE VASCONCELOS
(3):
«O Sr. Dr. AGUIAR CARDOSO teve a sorte de encontrar mais uma ara romana
com uma Inscrição inédita, de que me mandou um decalque, que
transcrevo... Diz: « Deo TUERAEO volenti Arcius Epeici Bracarus s(acrum)
f(ecit)», «Ao benévolo deus
Tueraeus consagrou este monumento Arcio, filho de Epeico, Bracaro de
nação.» − As siglas «S. F» creio serem novas;
pelo menos não as encontro notadas em alguns manuais epigráficos que tenho à mão. O nome do deus, bem como Epeicus,
nome do pai do dedicante são desconhecidos; mas o sufixo −aeus é variante de
-aius ou -aios, que se tem por céltico,
e se encontra, por exemplo, em Art-aios, Cant-aius, Clont-aius,
Tur-aius, etc.: cf. Holder, Thesouro, s. vv. O nome bárbaro
Arcius lê-se noutra inscrição peninsular: Corpus, lI, 5556 (Vila
/
215 /
Real). Acerca dos Bracaros vid. Religiões, II, 56 (com a errata
de p. 373) e 75; a palavra Bracarus figura também numa inscrição do Museu de Guimarães, mas como nome próprio: vid.
O Arch. Port., XV, 324. O adjectivo participial volens é mais
provável ser epíteto da divindade (cf. deus Endovellicus sanctus Juppiter optimus maximus, Mars ultor, Venus victrix, Minerva
memor, Fortuna obsequens, Fortuna respiciens, etc.), como na
tradução o considerei, do que
meramente circunstancial; quem sabe se essa palavra conterá a
significação de Tueraeus? − A ara, a que falta já a base,
mede 43 cm de altura e 33 cm de largura (na cornija), Religiões da Lusitânia, voI.
III, pág. 612-613.»
Em 1917, foi encontrada, no recheio do cubelo do Sudoeste, que se andava a reconstruir, outra ara romana: ex-voto do deus Bandevelugus Toiraecus,
BANDE . VE
LVGO . TOIR
AECO.L.LAT
RIVS.BLAES
US.V.L.A.S.
que o Prof. LEITE DE VASCONCELOS, em carta ao Dr. AGUIAR CARDOSO, leu da
maneira seguinte:
««Bandevelugo Toiraeco
L(ucius) Latrius Blaesusv(otum) l(ibens) a(nimo) s(olvit)»
e traduziu:
«Lucio Latrio Bleso cumpriu de boamente o voto que fizera
a (o deus) Bandevelugus Toiraecus».
LEITE DE VASCONCELOS fala de outra ara romana, achada em Arrifana, com a
inscrição: «L O. V. c. P. votum ex mente
conceptu Valeria Marcella Sltv.», que interpreta do seguinte
modo: «I(ovi) O(ptimo) V(ictori) C(onservatori) P(raestabili)»,
Religiões da Lusitânia, voI. III, pág. 507.
/
216 /
Toda a região, em volta do antigo castro de Vila da Feira, é
abundante de topónimos de grande valor arqueológico:
Muradões e Castro Rekaredi.
Temos conhecimento destes locais por um documento do
ano de 1026 «...in uilla kabanones et in muradones subtus castro
rekaredi territorio ciuitas sancta maria discurrente riuulo ouar...»,
Dipl. et Ch., pág. 181. Muradones seria hoje Muradões e Rekaredi,
Recarei. Não nos foi possível localizar os dois topónimos. Eles comprovam, porém, a existência de mais duas
povoações castrejas, na zona do rio Cáster.
Arca-pedrinha, lugar da freguesia de Travanca, marca a presença de uma
arca no local.
-Forno (Monte-do-), lugar da freguesia de Arrifana e Fornos, freguesia,
são topónimos que provêm de ruínas de habitações castrejas, de antas,
ou arcas, e, igualmente, Penas, lugar da freguesia da Feira, -Pedra (Chão-da-),
lugar da freguesia de Travanca e Laje, lugar da freguesia de Fornos.
Seixo, lugar da
freguesia da Feira e Penedo, lugar da freguesia de
Fornos. É para estranhar que esta duas povoações tomassem o nome de uma
simples pedra ou rocha, sem que a elas se ligasse qualquer estímulo
sobrenatural. Estamos em
presença, creio, de um antigo culto às pedras, talvez um culto fálico
que se perdeu. Consultar acerca destes cultos, ESTRABÃO: «sed lapides
multis in locis ternos aut quaternos esse compositos, qui ab eo
venientibus ex more a maioribus tradito convertantur translatique fingantur»,
ob. cit.; e ainda: E. DÉSOR,
Mélanges scientifiques, pág. 210. Paris, 1879; TEÓFILO BRAGA, Origens Poéticas do Cristianismo, págs. 134-135. Porto, 1880; LEITE DE
VASCONCELOS, Tradições Populares de Portugal, págs. 89-98. Porto, 1882,
e Religiões da Lusitânia, vol. lI, pág. 202 e segs. Lisboa, 1905; ESTAÇO
DA VEIGA, Antiguidades Monumentais do Algarve, vol. I, págs. 98-99.
Lisboa, 1886; Revue Archéologique, 3.ª série, XXI, pág. 331.
Carreira, lugar da freguesia de Espargo, Estrada-Velha, lugar da
freguesia da Feira e Rua?, lugar da freguesia de Arrifana, são topónimos
provenientes de viação antiga.
Zona do Baixo Uíma:
Campos férteis, saciados de água, viçosos prados e florestas, muita
caça, boa pedra para habitações, sepulcros e instrumentos de trabalho...
o rio abundante de peixes − nas margens do
/
217 /
Uíma se desenvolveu uma vasta civilização, cujos vestígios o tempo não
pôde apagar.
Crosta, lugar da freguesia de Sandim. Só nos resta a denominação
toponímica. Ainda não visitámos o local com atenção.
Castelinho, monte, no lugar da Póvoa da freguesia de Lever. Ainda hoje
se verifica um troço de estrada, muito bem conservada, a mato, que
servia o antigo castro. Próximo ao Castelinho houve uma antiga povoação
Vale-Cabanas (cfr. com Chalman, voz vasca, de Chaol «cabana», e
Alma
«vale, planície», P. BOUDARD, Essai sur la Numismatique lbèrienne,
précédé de Recherches sur l'Alphabet et la langue des Ibères. Paris
1859. Junto a Vale-Cabanas ficava a Proviceira, outra povoação (por
Provaceira, Povoaceira, que se formou como Agraceira, Lamaceira,
Taboaceira, etc.). Uma e outra povoações foram as predecessoras do
actual lugar da Póvoa. Em baixo da Proviceira, fica o poço da Manguela,
dentro do Uíma, onde aparece (à meia-noite) na noite de S. João, uma grade de ouro, reminiscências
difusas de um velho culto. Ver o meu Concelho da Feira. História.
Etnografia. Arte. Paisagem. Do outro lado do rio, Marco-de-Eirós,
Padiola, Touça-do-Cuco, topónimos de remota antiguidade. O Castelinho
foi o núcleo de protecção das primitivas povoações do Vale-de-Cabanas e
da Proviceira.
Crestuma (= Crosta do Uíma), freguesia na confluência do Uíma com o
Douro. Até agora não pudemos estudar a topografia da região. Ignoramos o
local do antigo castro que deu o nome à freguesia. Na toponímia com
vestígios de antiguidade apenas conhecemos mais, Lage e Cepo, duas
povoações debruçadas sobre o rio. O mais antigo documento que diz
respeito a Crestuma data de 922: Donatio amplissima regis Ordonii
episcopo Gomado et Monasterio de Crestuma facta, de que transcrevemos a parte referente a terrenos muito nossos conhecidos, por onde
muitas vezes temos passado: «... et adquisiuit ipse episcopus terminum
de ipsa uilla et de ipso monasterio. et inuenit illum per terminum de
liueri. et inde per montem felanoso. et inde in VIlem suberes . et inde
per illum saxum album . et inde a paradela . et inde per terminum
aliaria quomodo diuidit com domno uilifi . et inde in portam (sic)
arnelas. et
concludit ipsam ecclesiam de arnelas cum sua ecclesia uocabulo sanctus
andreas . et tranciuit ipsum terminum de alia parte dorii . et inuenit
ipsum terminum per montem de zeurario . et inde per penellas per illum
montem ad illam aquellam . et inde per fontanum pennosum quomodo diuidit
cum sposati . et item tranciuit dorium inuilla palatiolo . et concludit
ipsam uillam totam exceptis illa Vnª que est de alios heredes de leueri
.
et inde ferit in terminum de
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leueri unde primitus inquoauit . et comparauit ipse episcopus
sesicam molinariam in riuulo umie de fragiaro et de arias abrahem
in terminum de leueri... », Ex codice qui titulum Livro Preto da
Sé de Coimbra.
Zona do Ur (= Ul).
Castro da Portela ou
cividade da Portela: antiga e importante povoação de origem pré-romana. Em pesquisas ali realizadas, em
1845, foram encontradas ruínas de habitações, e, entre 102 moedas de
procedência romana, uma de origem ibérica, de caracteres desconhecidos.
Há nas imediações muitos vestígios
de antiguidade: Arcas-da-Searaa e do Suam, Forno, Cham-do-forno, Cham-da-Arcoa, Cham-de-Arcas (Tombo da Igreja de
Romariz, ano de 1544, no Arquivo Distrital do Porto, publicado pelo
P.e
M. FERNANDES DOS SANTOS, na sua prestimosa monografia, A Minha Terra. Porto 1940),
Castelhão ou Crastellum, em 1251,
nas inquirições de D. Afonso III, Monte-Calvo, da Mó, serra de
Vila-Nova, na freguesia de Romariz. Mamoa, na freguesia de
Milheirós. Dentases (de + Antas + es), na mesma freguesia. Pena e Torre na freguesia do Vale.
Laje e Pé-de-Arca, na freguesia de
Pigeiros. Mato-da-Arca e Castelo, na freguesia de Cesár
(4).
Perto do castro nasce o Ul, confluente do Vouga, que em
documentos medievais aparece escrito ure e ur, «subtus mons Castro
CaIbo et Montecelo discurrente ribulos Antuana et Ure»,
JOÃO PEDRO RIBEIRO, Dissertações Chronologicas, voI. I, pág..223;
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«et in uilla plana discurrente riuulo ur et subtus mons
parata
louaz prope ciuitas sancta maria», Dipl. et Ch., doc. n.º 703.
ano de 1088; e, «discurrente ribulo ur et prope ciuitas sancta
maria», Dipl. et Ch., doc. n.º 704, ano de 1088.
Ur é nome de origem ibérica que significa «cidade», Essai sur la
Numismatique lbèrienne précedé de Recherches sur
I'Alphabet et la Langue des lbères, par P. − A. BOUDARD. Paris, 1859. O rio, que tem um percurso apenas de sete quilómetros, serviu com o Antuã de via de penetração do Vouga ao
castro. Tomou, a partir da sua confluência com o Antuã, o
nome de Ur, que quer dizer «rio da cidade», «rio que leva à
cidade», conservando-se por antonomásia (Cfr. com o topónimo rio da
Igreja, seu afluente, de formação moderna. O rio tomou este nome por passar perto da igreja de Romariz).
Terá sido Aritium o nome romano da cividade da Portela?
No Theatrum Geographiae Veteris, «edente Petro Bertio Bevero», Aritium vem situada entre o
Dorias e o Vacus. O P.e JOÃO
BAPTISTA DE CASTRO localiza-a entre o concelho da Feira e o de
Arouca. Em que razões se baseou não nos diz. Superficialmente, vaziamente: «Aricio é entre a Feira a Arouca».
Ora, nós temos vários topónimos que nos podem dizer
alguma coisa de Aritium: Ur, Arilhe, Cesar, Ovar e talvez
Aral. Ur é palavra ibérica que significa «cidade». Bem pode ser que os Romanos tenham latinizado esta voz indígena em
Uritium (de Ur + o sufixo itium que aparece como elemento
terminal de outras cidades romanas) e Aritium (por influência
do r?)
(5). LEITE DE VASCONCELOS faz referência a uma cidade
do mesmo nome, no território de Alvega, na margem esquerda do
Tejo, conhecida por uma inscrição, Religiões da Lusitânia, vol.
II,
pág. 23. Também o P.e FRANCISCO DO NASCIMENTO SILVEIRA fala de Aricio Pretorio,
Mappa Breve da Lusitania, pág. 295. − Arilhe,
de Ar (= Ur?) + o sufixo diminutivo ellus (no genitivo) parece
indicar uma povoação de menor importância com relação a outra.
Seria Aritium essa outra povoação? − Cesar, (ou Cesari num
doc. de 1028-1038?) parece provir de Cis «aquém» + Ar
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(= Ur ?). De facto Cesar fica na margem oposta do Ur, com
relação ao Castro da Portela. − Ovar. É natural que este topónimo provenha de
Ob «em direcção a», «diante de» + Ar
(= Ur ?), donde, «em direcção ao Ur», «diante do Ur». O rio
Ovar nasce na freguesia de São-Fins, a pequena distância do
UI, banha as freguesias da Feira e Travanca, e o território, a que deu
o nome, do concelho de Ovar. Serviu, com certeza,
de via de acesso das povoações marinhas, da parte central do litoral
durio-vaucense à região intensamente povoada do Ur.
Daí o seu nome.
Paesuri ( = Paes? +
uri) é o nome que PLÍNIO dá aos
habitantes da região do Ur. O mesmo autor cita o rio Urium
(outra latinização de Ur + o sufixo -ium?), que não sabemos
localizar: «a flumine Ana, littore Oceani, oppidum Onoba,
Aestuaria cognominatum: interfluentes, Luxia et Urium». Ob. cit.,
lib. IIl, cap. III, «a partir do rio Ana, ao longo do litoral do
Oceano a cidade de Onoba, chamada Aestuaria e os rios que
banham esta região, Luxia e Urium».
*
Com os romanos a população desce das grimpas altivas dos
montes e dispersa-se pelas ribeiras fecundas dos vales do Ul e
do seu afluente Igreja, do Inha, do Uíma e do Ovar. Apossa-se
da terra; cultiva-a. Surgem os grandes latifúndios, as villae,
constituídas por casas agrupadas, muito pobres, habitadas por
escravos e clientes, em que se destaca apenas a domus domini,
de melhor aspecto: o Palatium ou Palatiolum, que nos ficou na
toponímia sob a forma de Paço, Paçô, Paços, Palhaça, e Palácio.
Das villae, saíram, depois, por necessidade de partilhas, as
herdades, agras, quintas, vilares, etc.
Portela foi a primeira povoação, na base do castro, a que deu o nome,
proveniente da configuração do solo: «passagem
entre montes», «vale», etc. Estendeu-se, pouco mais ou menos,
até ao lugar da Por tela dos nossos dias. Sucedeu-lhe Portelica
(= Portela Menor) e Vila-Nova.
O ilustre P.e MANUEL FERNANDES DOS SANTOS, que conhece
muito bem a topografia de Romariz, faz a descrição de uma
vasta rede de estradas que atravessava antigamente esta freguesia, servindo o Castro, Portela, o Monte do Castelhão, da Mó e
Vila-Nova. Carreira, que aparece aí na toponímia em Carreiras-Velhas, é um sinónimo de via, strata e carril: «et inde per
carraria mourisca», ano de 953. Cfr. com, «subter illam
Stratam Mauriscam discurrente rivulo Cerzedo, in Elucidario..., paI.
Estrada; «Primo por portum de Lamas... deinde per illud Carril vetus, quod dividit inter Saicia, e Algizidi»,
Doação do
Couto ao Mosteiro de Seiça, feita por EI-Rei D. Afonso l,
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ano de 115. Elucidario...; e «Parte pelo rio apróó á moinheira velha, e
desy polo Carril, que vai ao forno telheiro e desy pela verêa, carreira
a festo, e desy como se vay á verêa de Lagomar», Tombo de Castro de
Avelãs, de 1501. Doc. de Bragança, in Elucidario...
O atributo Velhas, de Carreiras, comprova a sua antiguidade. Cfr. com
Carreira, lugar da freguesia de Espargo e Carreira-Cova, povoações da
freguesia de Lever e de Lobão e com Estrada-Velha, lugar da freguesia da
Feira.
Esta extensa rede de estradas contribuiu para o progresso da região do
Ur. A população mantém-se e densifica-se, porque a terra é rica. Cria
prodigamente. No cimo dos montes não se desvaneceu de todo a vida, pelo
menos até ao século IV.
Como Langóbriga, o Castro ou Cividade da Portela continua a ser
habitado. Várias ruínas o comprovam. Nas escavações ali realizadas, em
1845, foram encontradas cerca de 100 moedas romanas, de diversos
imperadores, vestígios de tegulae e outras preciosidades arqueológicas,
da mesma época.
Lisboa, 1941.
ARLINDO DE SOUSA |