A carta de armas de Manuel
Alberto da Rocha Tavares, que a seguir publicamos, foi-nos amavelmente
cedida pelo seu possuidor, o nosso Ex.mo amigo Sr. Fernando de Moura
Coutinho de Almeida de Eça, natural de Esgueira e aqui residente,
descendente do donatário da carta.
Este é por sua vez descendente de Francisco Tavares, cavaleiro
instituidor do Morgado de Castelões no ano de 1545, e
de sua mulher D. Maria Pereira, filha legítima de Braz Pereira,
primo de D. Diogo Pereira, conde da Feira.
A carta consta de seis folhas de pergaminho e é ornamentada com formosas
iluminuras, havendo cinco páginas ocupadas só com estas.
O Sr. Fernando de Almeida d'Eça também possui hoje a pedra de armas
correspondente às da carta, e conserva-a na quinta de sua casa, bem
como outra pedra de armas dos Rochas, trazidas do velho solar de
Pigeiros. A primeira está representada na
página 117 deste volume do
Arquivo do Distrito de Aveiro.
FRANCISCO FERREIRA NEVES
BRAZÃO
DARMAS
que sse passou a Mano
el Alberto da Rocha
Tauares no Anno de
1732 E.ª
Dom Joam. Por graça de Deos, Rey de Portugal, e dos Algarues, daquem, e
dalem, mar em Africa, Senhor de Guine, e da Conquista, navegação, do
comercio da Ethiopia, Arabia, Percia, e India. & c.
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Brasão de armas
concedido em 1732 a Manuel Alberto da Rocha Tavares, morgado de São
Martinho, de Castelãos, e de Pigeiros. Fotografia da iluminura que
acompanha a carta de armas. |
A quantos esta minha carta virem faço saber, q Manoel Alberto da Rocha Tavares, morgado de São Martinho, e futuro sucessor do morgado de
Castelaos, e de Pigueiros, e padroeiro da Igreja de Santa Maria do
dito Pigueiros, me fes petição em como elle descendia, e vinha da
geração e linhagem dos Rochas, Tavares, Pintos, e Pereiras, e suas armas
de direito
lhe pertencião, e pedindome por merçe, que para a memoria de seus antecessores se não perder, e eIle uzar, e gozar da honra das armas que
peIlos
merecimentos de seus serviços ganharão, e lhe forão dadas, e asim dos
previlIegios, honras, graças e merçes, que por direito e por bë delIa
lhe pertençem, lhe mandace dar minha carta das ditas armas, que estauão
registadas em os liuros dos registos das armas dos nobres e fidalgos
de meus Reynos que tem Portugal, meu Rey darmas. A qual petição, vista
por mim, mandei sobre eIla tirar inquerição de testemunhas, pelo Doutor
Manoel da Costa de Amorim, do meu dezembargo, e meu Dezembargador, em
esta minha Corte, e caza da supplicação Corregedor do CiveI em ella, e
por Caetano Joseph de Moura escrivão do dito juizo, pelIas quaes fui
serto que elIe proçede, e vem da geração, e linhagë dos ditos Rochas,
Tauares, Pintos, e Pereiras, como filho legitimo de Saluador da Rocha,
Tauares, morgado de Castelaos, e
de Pigueiros, padroeiro da dita Igreja, e de D. Anna Maria de Souza
Vareiro e Auila. Neto pella parte paterna,
de ManoeI Tauares da Rocha, morgado, e padroeiro de Santa Maria de
Pigueiros, e de D. Maria de Matos Soares e Fonçeca. Bisneto de Francisco
Tauares da Rocha, morgado, e padroeiro, de Santa Maria de Pigueiros, e
de D. Maria Lobato Godinha. Terceiro neto de ManoeI Tauares da Rocha,
morgado, e padroeiro de Santa Maria de Pigueiros e de D. Marta da Cunha.
Quarto neto de Francisco Tauares Pinto, e de Margarida da Rocha,
morgada, e padroeira de
Santa Maria de Pigueiros; Quinto neto de Jeronimo Tauares, e de Maria
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Pinta. Sexto neto de Francisco Tauares, e de D. Maria Pereira.
Instituidores do morgado de Castelaos. Os quaes todos forão pesoas
nobres, e se tratarão a ley da nobreza, e que nelles não ouue raça de
Judeo, Mouro, ou
Mulato nem de outra infecta nação, e que de direito as suas armas lhe pertençem. As quaes lhe mandei dar em esta minha carta com seu Brazão,
Elmo, e Timbre, como aqui são deuizadas, e sim como fiel e verdadeiramente se acharão devizadas, e registadas em os liuros dos registos
do dito Portugal, meu Rey darmas. A saber. Hum escudo esquartellado, no primeiro quartel, as armas dos Rochas, em campo de prata huma
banda vermelha com cinco vieiras de ouro, no segúndo as dos Tauares,
em campo de ouro cinco estrelas vermelhas em sautor, no terceiro as dos
Pintos, em câm, campo da prata, cinco cresentes de lua vermelhas com as
pontas para sima postas em sautor, e no quarto, as dos Perejras, em
campo vermelho, huma Crus de prata floreteada, e uazia do campo. Elmo de
prata aberto, guarnecido de ouro; Paquife dos metaes, e cores das armas; Timbre o dos Rochas, huma aspa vermelha com huma vieira de ouro,
e por diferença huma brica azul com hum trifolio de ouro. O qual escudo,
armas, e sinaes posa trazer, e traga o dito Manoel Alberto da Rocha
Tavares, asim como as trouceraõ e dellas uzaraõ seus antecessores, em
todos os
lugares de honra em que os ditos seus ãtecessores, e os nobres e antigos
fidalgos sempre as custumaraõ trazer, em tempo dos muy esclarecidos
Reys meus antecessores, e com ellas posa entrar em batalhas, campos escaramuças, rectos, e exercitar com ellas todos os outros actos licitos
da guerra, e da paz, e asim as posa trazer em seus firmaes, aneis,
lentes, e devizas, e as por em suas cazas, e idifficios, e deixalas sobre sua
propria sepultura, e finalmente se servir, honrar e gozar, e aproveitar dellas,
em todo, e por todo, como a sua nobreza convem; Com o que quero e me
praz
que haja elle, e todos seus descendentes, todas as honras, preuillegios, liberdades, graças, merçes, e inzençoês, e franquezas, que hão, e
deuem hauer os fidalgos nobres, e de antiga linhagem, e como sempre de
todo uzarão, e gozarão, seus antecessores. Porem mando a todos meus Corregedores, e Dezembargadores, Juizes, Justiça, Alcajdes, e em especial,
aos meus aos meus (sic) Reys darmas, Arautos, e Passavantes, e a quaes
quer outros officiaes, e pesoas, a que esta minha carta for mostrada, e
o conhecimento dela pertecer, que em todo lho cumprão, e guardem, e fação
comprir, e guardar, como nelIa he contheudo, sem duvida nem embargo
algum, q em elIa lhe seja posto por que assim he minha merçe. El Rey
noso senhor o mandou por Manoel Pereira da Sylva, seu Rey darmas
Portugal. Frej Joseph da Crus da ordem de São Paulo, Refformador do
Cartorio da nobreza do Reyno, por especial Provizão do dito Senhor â fes, em
Lisboa Occidental, aos quinze dias do mes de Outubro do ano de mil
setecentos e trinta e dois, e vaj sobscrita por Antonio Francisco e
Souza, escrivão da nobreza nestes Reynos, e senhorios de Portugal, e suas Conquistas.
Eu Antonio Francisco e Souza o sobscrevy.
P. Rey darmas, p.al
Fica registado este Brazão no L.º 8. do registo dos Brazões da nobreza
de Portugal a fl 190 Lisboa Occidental aos 19. diaz do mes de Outubro,
do
anno do nascimento de noso senhor Jesu Christo de 1732.
Ant.º Franco e Souza
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