1977 foi um ano de grande entusiasmo
pela modalidade na cidade de Aveiro. Vários clubes de bairro
procederam à sua filiação na Associação, inscrevendo bastantes
atletas e promovendo provas de estrada, para que os seus jovens
pudessem competir.
Queremos referir uma iniciativa das
secções de atletismo do Grupo Recreativo “Os Choras”, do Centro
Recreativo da Forca e do Grupo Desportivo do Bairro de Sá, que, com
a colaboração da Associação de Desportos e a Delegação Distrital da
Direcção-Geral de Desportos, organizaram uma prova de estrada pelas
ruas de Aveiro, no dia 31 de Dezembro, que denominaram de “I Corrida
de S. Silvestre”, e destinada a todos os escalões etários. Esta
prova pedestre substituiu a levada a cabo pela Associação em anos
anteriores, designada por Grande Prémio de Natal.
O ano de 1978 foi caracterizado por
uma grande “explosão” em quantidade de atletas filiados. De 651 do
ano anterior passou-se para 1082 em número de atletas a competir,
sendo 832 masculinos e 250 femininos. Continuava a ser a terceira
associação do país, a seguir a Lisboa e Porto, muito distante das
restantes associações. Regista-se o regresso de alguns clubes, entre
eles o Clube dos Galitos (parado desde 1973), que tinha dado bons
atletas no passado, com vários títulos a nível regional e mesmo
nacional.
Nos campeonatos nacionais de
corta-mato deste ano não houve campeões, quer individual quer
colectivamente. Os melhores resultados registados foram, em juvenis
femininos, o 3º lugar de Natália Pinho, da Ovarense e o 4º lugar de
Maria Dores, do Macieira de Sarnes; em juvenis masculinos, o 4º
lugar de Ladeiro Santos, do Beira-mar (clube que foi segundo
colectivamente); em juniores femininos o 4º lugar de Adelaide
Meireles, do Ginásio de Águeda, o 5º de Aldina Figueira, do
Estarreja e o 6º de Isabel Soares, do Guilhovai; em seniores
femininos o 4º lugar de Isabel Duarte, da Ovarense (clube que foi
segundo colectivamente). O Estarreja foi 3º por equipas em juniores
femininos. Refira-se que colectivamente os clubes de Aveiro se
destacavam face às dezenas de clubes participantes nestas provas de
corta-mato.
Do relatório da Federação Portuguesa
de Atletismo relativo a 1978 pode destacar-se:
- Os títulos de campeões
nacionais de juvenis de Francisco Duarte, da Ovarense,
nos 400 metros (52,6 s.), de Graça Silva, da Sanjoanense,
também nos 400 metros (60,2 s.) e de Clarinda Faria,
igualmente da Sanjoanense, nos 400 metros barreiras (68,0 s.).
- O 2º lugar da selecção feminina de
Aveiro, no Inter-Associações disputado em 3 e 4 de Junho em Coimbra
com 49 pontos (o primeiro foi o Porto).
- A presença de seis atletas juvenis
de Aveiro, no intercâmbio Juvenil com o Sarre, em 8 e 25 de
Setembro, em Sarrebrucke, precisamente Clarinda Faria, Natália
Pinho, Regina Gonçalves, Anabela Leite, Francisco Duarte e Elísio
Rios.
A formação estava em força em vários
clubes filiados. Os atletas dos escalões jovens destacavam-se e
então no escalão de juvenis este destaque era evidente. Para um
encontro inter-associações de juvenis que teve lugar em Lisboa em 29
de Julho, a Federação pré-seleccionou nada menos que 21 atletas de
clubes do distrito, um contingente só excedido pela Associação de
Lisboa.
Nos campeonatos nacionais de
juvenis, disputados em Abril, para além dos três campeões atrás
citados, houve vários lugares de pódio, como por exemplo:
- Francisco Duarte, além de campeão
nos 400 m., foi 2º nos 200 e 3º nos 100 m.;
- Elísio Rios, do Arouca, foi 3º nos
3.000 m.
- Mário Rocha, da Oliveirense, foi
3º no peso e no dardo
- Graça Silva, além de campeã nos
400 m. foi 2ª nos 100 e nos 200 m.
- Regina Gonçalves, do Beira-Mar foi
3ª nos 1.500 m.
- Anabela Leite, da Sanjoanense, foi
2ª no comprimento e 3ª nos 100 m. barreiras.
Nos nacionais de juniores alguns
destes atletas, ainda juvenis, participaram, com destaque para Glória Marques, 2ª nos 800 m. (2.18,8),
Elísio Rios, 2º
nos 3.000 m. (8.45,3), Graça Silva, 2ª nos 400 m.,
Regina
Gonçalves, do Beira-Mar, 3ª nos 1.500 e nos 3.000 m. (nesta
última distância batendo o recorde absoluto de Aveiro), Rosa
Rodrigues, do Estarreja, 3ª no peso e no disco. Ainda bons
resultados para Clarinda Faria (400 m. b.), Anabela Leite (100 m. b.
e comprimento) e Lucinda Leal, do Estarreja, no dardo, todas 4as
classificadas.
Nos campeonatos individuais de
Portugal o destaque vai para dois atletas dos 3.000 m.
obstáculos que foram 2º e 4º respectivamente. Foram eles Mário
Cordeiro, do Beira-Mar (9.11,0) e Albano Braga, do Codal
(9.15,5).
Ainda excelentes o 3º lugar de
Regina Gonçalves, nos 3.000 m. (10.02,6, recorde de Aveiro), o 4º de
Natália Pinho na mesma prova e o 4º lugar de Lucinda Leal, no
lançamento do dardo. Outras classificações até ao sexto lugar, muito
importantes em campeonatos de seniores, principalmente quando
obtidas por atletas de escalões inferiores como era o caso dos
jovens de clubes de Aveiro nesta década de 70.
A representar Portugal a nível
internacional tivemos Graça Silva, da Sanjoanense, que
integrou a estafeta de 4x100 m. no Portugal–País de Gales, que
alcançaria a 1ª posição com 3.50,6. Integrou também a estafeta 4x400
m. no Portugal–Espanha–Grécia.
Participaria ainda no Lisboa–Resto
do País, tendo sido 3ª nos 400 m. com novo recorde de Aveiro (58,2)
e integrando a estafeta 4x400 que foi primeira.
Esta atleta, Graça Silva, com
grandes potencialidades, poderia ter sido ainda “maior” se integrada
em clube dotado de outras condições de treino. Para além de treinar
na pista de S. João da Madeira, que estava já em precárias condições
de utilização, queixava-se ela em entrevista ao jornal “A Bola” que
“faltava um treinador competente na Sanjoanense”.
Uma vez mais se verificava a
exiguidade de condições materiais e humanas para dar continuidade ao
incremento que a modalidade vinha tendo nesta segunda metade dos
anos 70.
As três manas Eduardo |
A Sanjoanense, até porque tinha à
sua mercê a única pista do distrito, apresentava nesta altura uma
razoável equipa, nomeadamente em atletas femininas. Um caso curioso,
e referido em “A Bola” com honras de destaque, era a de ter na
equipa “três manas treinadas pelo pai”. Tratava-se de Isilda
Eduardo, já aqui referida anteriormente, a mais velha das três
com 15 anos e as gémeas Mimosa e Cristina, estas com apenas
treze mas já a apresentar alguma qualidade a qual viria a ser
concretizada nos anos seguintes. Estas duas gémeas eram aliás as únicas referenciadas
na Federação integrando o grupo das dez primeiras atletas nacionais
no seu escalão, o de infantis. O pai era Delfim Eduardo que, embora
não fosse dotado de grandes potencialidades técnicas, fez bastante
formação em S. João da Madeira e foi durante alguns anos a alma do
atletismo da Sanjoanense, para além de muito útil na manutenção
possível da pista, para que os campeonatos distritais ali disputados
tivessem um mínimo de dignidade. |
Para o Lisboa–Resto do País, que
teve lugar nos dias 17 e 18 de Junho, a Federação, para além da
Graça Silva já citada, seleccionou mais sete atletas de Aveiro, a
saber: José Outerelo e Olívia Elvas, da Ovarense; José Duarte,
Anabela Leite e Clarinda Faria, da Sanjoanense; e Glória Marques e
Rosa Rodrigues, do Estarreja.
“Regina Gonçalves – a revelação”
Na revista da Federação que
fazia a retrospectiva do ano, titulava assim a resenha quanto a
atletas iniciados, e continuava:
«Na apreciação dos valores
individuais pendemos para a atleta aveirense, como o valor mais
destacado. Surgindo pela primeira vez nos nacionais de juvenis, em
Coimbra, em plano de evidência, vindo a culminar com a obtenção do
máximo de 1.500 m., no encontro Lisboa–Resto do País, sendo a 3ª
atleta de Aveiro a fazê-lo, nas últimas três épocas.»
E destacava, em seguida, os
dados
pessoais:
Regina Maria da Cruz Gonçalves
Nascida em 7 de Julho de 1963
Clube: S. C. Beira-Mar
Iniciou a actividade em 1977
Marcas: 800 m. 2.28,5
1.500 m.
4.54,7
3.000 m.
10.33,4
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Regina Gonçalves |
Anote-se o potencial desta atleta,
que, sendo ainda iniciada e tendo começado a actividade apenas no
ano anterior (1977), conseguia ser a melhor atleta nacional no
escalão de juvenis, nas provas de meio-fundo.
Ainda no capítulo revelações a
revista destacava ainda o nome de Anabela Leite, da
Sanjoanense, primeira nos 80 m. e no dardo; segunda na altura e no
comprimento; terceira no peso e quinta nos 80 m. barreiras. Uma
eclética atleta, como mais tarde se confirmou.
De resto as equipas da Sanjoanense e
do Estarreja, bem acompanhadas por atletas da Ovarense, dominavam o
panorama aveirense da modalidade nos finais dos anos setenta. Além
dos já referidos, nomes como Glória Marques, Graça Silva, Clarinda
Faria, Lucinda Leal, Aldina Figueira, Isolina Bezerra, Jovita
Mendes, Rosa Rodrigues, André Costa, Francisco Duarte, Amílcar
Teixeira, eram atletas de nível nacional nos escalões de formação.
Matéria-prima havia, não abundava era matéria “sonante” nos clubes,
nem condições de treino. Imagine-se o que seriam estes atletas na
capital. |