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A. Carretas, Para a História do Atletismo, Inédito.

Subsídios para a História do Atletismo em Aveiro - 32


O ano de 1977 merece um segundo capítulo


Prova de 100 metros nos campeonatos nacionais de juvenis em Coimbra. Da esquerda para a direita:

 ???; Graça Silva; ???; ??? e Maria João Lopes.

Quando foi a altura da realização dos Campeonatos de Portugal absolutos femininos, os clubes de Aveiro, particularmente Estarreja, Sanjoanense e Beira-Mar, levaram as suas melhores atletas, algumas ainda iniciadas e juvenis, mas que já apresentavam “performances” semelhantes às grandes atletas seniores.

Mais uma brilhante actuação destas jovens, com particular destaque para: Glória Marques, 2ª nos 800 m., e 4ª nos 1.500 m., nesta última prova com novo record de Aveiro (4.44,4); Lucinda Leal, 3ª no dardo, também com novo record de Aveiro (32,44 m); Graça Silva, 3ª nos 200 m. e 5ª nos 400 m.; Anabela Leite, 4ª no salto em altura; Clarinda Faria, 5ª nos 400 m. barreiras; Jovita Mendes, 4ª no dardo. Ainda com lugares nos 10 primeiros: Isolina Bezerra, Aldina Figueira, Isabel Duarte e Isilda Eduardo. Aliás era este o grupo de atletas com grande futuro que aparecia na segunda metade da década de 70.

Glória Marques, Graça Silva, Anabela Leite, Lucinda Leal e Isilda Eduardo eram frequentemente convocadas pela Federação para estágios em Lisboa, em contacto com as grandes atletas da capital.

Nos masculinos, continuava a ser apenas Manuel Rocha, do Gafanha, a ombrear com os melhores nas provas de fundo.

Em “apontamento” de 6 de Maio, no semanário “Litoral”, sob o título “Manuel Rocha, o fundista aveirense do momento”, escrevia eu o seguinte:

«A ninguém restam quaisquer dúvidas que a competição faz falta a todos os atletas, no sentido de melhorarem as marcas e que uma boa pista “ajuda” a essa melhoria.

Mas, se ainda as houvesse, elas ficariam desfeitas no passado domingo, 24 de Abril, quando Manuel Rocha, o brioso atleta do Grupo Desportivo da Gafanha, alinhando na pista do Jamor, na prova de 10.000 metros do Campeonato de Portugal (a qual, julgo, correu “a sério” pela primeira vez), pulverizou o record absoluto de Aveiro naquela distância, melhorando o anterior em quase 1 minuto.

Ao colocar a marca-record em 31 m. 01,1 s. – contra 31 m. 58,8 s. do anterior recordista, outro brilhante fundista do distrito, Mário Cordeiro (que teve também a sua época, mas... os anos vão pesando, não é, Mário?) – Manuel Rocha conseguiu a melhor marca do atletismo aveirense, correspondendo a 855 pontos da tabela Fernando Amado (que é por onde no nosso país se medem as “performances” atléticas), batendo por 5 pontos a ainda excelente marca dos 1.500 metros (3 m. 56,4 s.) de Mário Cordeiro, obtida em 1971.

... Ele é bem o fundista do momento, capaz ainda de melhorar bastante em todas as distâncias regulamentares das corridas de fundo (e porque não no meio-fundo – 1500 metros por exemplo?). Oxalá não se “perca”...»

Em 2 de Julho disputou-se em Coimbra o II Encontro Coimbra-Aveiro-Viseu, com dois atletas em cada prova, num programa que englobava a maioria das provas regulamentares. Em masculinos, a superioridade foi da selecção de Coimbra; em femininos, foi a selecção de Aveiro quem se superiorizou às suas congéneres. De referir que, das treze provas do programa, Aveiro foi 1º em oito. No conjunto, o “avanço” de Coimbra nos masculinos suportou perfeitamente a “recuperação” feminina. De qualquer modo, e utilizando uma pista razoável, o encontro serviu para assinalar a queda de mais seis records regionais. Esta sucessão de records que se vinha verificando, de torneio para torneio, mostrava o progresso do atletismo aveirense, apesar de ainda distante daquilo que o potencial humano permitiria.

Os recordes obtidos foram: Rosa Rodrigues, do Estarreja, no lançamento do disco (26,36 m.); Lucinda Leal, do Estarreja, no lançamento do dardo (33,10 m.); Anabela Leite, da Sanjoanense, no salto em comprimento (4,68 m.); da estafeta 4x400 m., com Glória Marques, Isolina Bezerra, Clarinda Faria e Graça Silva (4 m 12,1 s., marca que era máximo nacional na categoria de juvenis); e ainda de dois outros records de um “desconhecido” (até à data), Vítor Nunes, da Portucel-Cacia, que fez 1,70 m. no salto em altura e 5,97 m. no salto em comprimento. Este atleta, já senior, estava “escondido” na fábrica da Portucel (até então vinha participando nos campeonatos corporativos, vulgo Inatel).

De citar ainda a participação de Nuno Leitão, do Beira-Mar, que, apesar de não treinar há mais de dois anos, conseguiu lançar o dardo a 47,98 m., mostrando que era tecnicamente um dos melhores lançadores nacionais. Se treinasse com assiduidade, onde chegaria?!

Como já deu para entender do que se vem referindo, o Estarreja tinha uma equipa feminina bastante razoável e disputou, neste ano de 1977, o “Campeonato da 2ª divisão”. Na eliminatória da zona norte, disputada a 9 e 10 de Julho, ficou em 1º lugar, o que lhe permitiu disputar depois a final a 23 e 24 desse mesmo mês, conjuntamente com os vencedores das zonas centro e sul, respectivamente Santa Clara de Coimbra e Benfica. O Benfica tinha uma equipa bastante boa e venceu folgadamente; mas o Estarreja deu bastante luta ao Santa Clara para o 2º lugar, ficando apenas a um ponto de distância. Glória Marques, Lucinda Leal, Rosa Rodrigues, Aldina Figueira e Isolina Bezerra foram as figuras de proa do clube estarrejense, com Lucinda Leal a vencer a prova de dardo e sendo 2ª na altura e 3ª no comprimento, Glória Marques 2ª nos 800 m. e nos 1.500 m., Rosa Rodrigues 2ª no peso e no disco, Isolina Bezerra 2ª nos 400 m. barreiras e Aldina Figueira 2ª nos 3.000 m. Não esquecer que nas outras equipas havia atletas que deram brado na modalidade, tais como Conceição Moura e Regina Babo, no Santa Clara, e Nora Araújo, Rita Borralho, Elisabete Simões e Vera Lisa, no Benfica. Quem acompanhou de perto o atletismo sabe perfeitamente do valor que estas atletas atingiram.

No intervalo destas duas competições do campeonato da 2ª divisão, a 17 deste mês de Julho, a Federação fez disputar o que designou por “Lisboa-Resto do País”, donde se conclui que Lisboa “chegava” para o resto do país. Para a selecção do Resto do País, foram convocadas 6 atletas femininas que foram: Lucinda Leal, 2ª no dardo e 5ª nos 100 m. e no comprimento; Isolina Bezerra, 5ª nos 800 m.; Aldina Figueira, que foi 2ª nos 3.000 m.; Rosa Rodrigues, que foi 4ª no peso; Jovita Mendes, que foi 5ª no dardo; e Regina Gonçalves, do Beira-Mar, que foi 6ª nos 1.500 m. com o tempo de 4 m.54,7 s., máximo nacional de iniciadas e que, correndo extra nos 3.000 m., fez melhor que Aldina Figueira (10.33,4 contra 10.52,8), batendo o record de Aveiro por larga margem. Estava-se na presença de outra grande atleta, ainda iniciada.

Continuaram as relações desportivas da Federação Portuguesa de Atletismo com a Federação do Sarre (Alemanha). Entre 26 de Agosto e 12 de Setembro, uma equipa portuguesa de atletas jovens esteve na Alemanha, participando num estágio, com competição em vários estádios. Foram 13 os atletas deslocados, entre os quais as esperanças de Aveiro, Anabela Leite da Sanjoanense, e Lucinda Leal do Estarreja.

A Associação teve neste ano inscritos 651 atletas de 37 clubes. Registe-se o aumento considerável do número de clubes (eram 15 na época anterior). Também mais quatro centenas e meia de atletas que, embora não estando inscritos, participaram em provas de estrada que a Associação incluiu no seu calendário.

Nas melhores atletas de sempre (“ranking” da Federação), Glória Marques era 2ª nos 800 m. e 7ª nos 1.500 m. Nos dez primeiros estavam ainda Lucinda Leal (8ª no dardo), Clarinda Faria (9ª nos 400 m. barreiras), Regina Gonçalves (9ª nos 3.000 m.) e Vitalina Bastos (10ª nos 3.000 m.

Do relatório anual de 1976/77 da Associação de Desportos de Aveiro, respeitante ao atletismo, dizia-se na “abertura”:

«Apesar de TUDO, a época que agora termina pode considerar-se satisfatória. E este tudo pode traduzir-se por:

falta de instalações;

falta de técnicos;

falta de apoio;

falta de dirigentes.

E é pena que estas faltas sejam todas uma realidade, porque o distrito poderia ser enorme na modalidade. De todas elas, apenas a última estará nas vossas mãos (clubes filiados) remediar. Das primeiras, o preenchimento das lacunas transcende-nos e lamentamos, tanto quanto vós, o esquecimento (voluntário ou não) a que somos votados.

O que foi a época finda falam os resultados. Podemos quase negar o provérbio de que “sem ovos não se fazem omeletas”. Pois as “omeletes” ainda foram aparecendo, mesmo com a falta de “ovos” que por cá existiu.»

O mesmo relatório registava 23 organizações de eventos, em 32 dias, tendo-se efectuado 337 provas, movimentando nelas 7.521 atletas.

Das competições de nível distrital que a Associação fez disputar há registos no relatório anual e nos vários comunicados que a Associação foi divulgando ao longo do ano. Neste documento que vimos elaborando não se pode ser tão exaustivo.

A revelação do ano foi Regina Gonçalves, representando o Beira-Mar, que, com apenas 13 anos e tendo iniciado a prática da modalidade nesta mesma época, alcançou as marcas de 2.28,5 nos 800 metros, de 4.54,7 nos 1.500 metros e 10.33,4 nos 3.000 metros, sendo a marca dos 1.500 m. alcançada no encontro Lisboa-Resto do País máximo nacional de juvenis.


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