Prova de 100 metros nos campeonatos
nacionais de juvenis em Coimbra. Da esquerda para a direita:
???; Graça Silva; ???; ??? e
Maria João Lopes.
Quando foi a altura da realização
dos Campeonatos de Portugal absolutos femininos, os clubes de
Aveiro, particularmente Estarreja, Sanjoanense e Beira-Mar, levaram
as suas melhores atletas, algumas ainda iniciadas e juvenis, mas que
já apresentavam “performances” semelhantes às grandes atletas
seniores.
Mais uma
brilhante actuação destas jovens, com particular destaque para:
Glória Marques, 2ª nos 800 m., e 4ª nos 1.500 m., nesta última prova
com novo record de Aveiro (4.44,4); Lucinda Leal, 3ª no
dardo, também com novo record de Aveiro (32,44 m); Graça
Silva, 3ª nos 200 m. e 5ª nos 400 m.; Anabela Leite, 4ª no salto em
altura; Clarinda Faria, 5ª nos 400 m. barreiras; Jovita Mendes, 4ª
no dardo. Ainda com lugares nos 10 primeiros: Isolina Bezerra, Aldina
Figueira, Isabel Duarte e Isilda Eduardo. Aliás era este o grupo de
atletas com grande futuro que aparecia na segunda metade da década
de 70.
Glória Marques,
Graça Silva, Anabela Leite, Lucinda Leal e Isilda Eduardo eram
frequentemente convocadas pela Federação para estágios em Lisboa, em
contacto com as grandes atletas da capital.
Nos masculinos,
continuava a ser apenas Manuel Rocha, do Gafanha, a ombrear com os
melhores nas provas de fundo.
Em “apontamento” de 6 de Maio, no
semanário “Litoral”, sob o título “Manuel Rocha, o fundista
aveirense do momento”, escrevia eu o seguinte:
«A ninguém restam quaisquer
dúvidas que a competição faz falta a todos os atletas, no sentido de
melhorarem as marcas e que uma boa pista “ajuda” a essa melhoria.
Mas, se ainda as houvesse, elas
ficariam desfeitas no passado domingo, 24 de Abril, quando Manuel
Rocha, o brioso atleta do Grupo Desportivo da Gafanha, alinhando na
pista do Jamor, na prova de 10.000 metros do Campeonato de Portugal
(a qual, julgo, correu “a sério” pela primeira vez), pulverizou o
record absoluto de Aveiro naquela distância, melhorando o
anterior em quase 1 minuto.
Ao colocar a marca-record em 31 m.
01,1 s. – contra 31 m. 58,8 s. do anterior recordista, outro
brilhante fundista do distrito, Mário Cordeiro (que teve também a
sua época, mas... os anos vão pesando, não é, Mário?) – Manuel Rocha
conseguiu a melhor marca do atletismo aveirense, correspondendo a
855 pontos da tabela Fernando Amado (que é por onde no nosso país se
medem as “performances” atléticas), batendo por 5 pontos a ainda
excelente marca dos 1.500 metros (3 m. 56,4 s.) de Mário Cordeiro,
obtida em 1971.
... Ele é bem o fundista do momento,
capaz ainda de melhorar bastante em todas as distâncias
regulamentares das corridas de fundo (e porque não no meio-fundo –
1500 metros por exemplo?). Oxalá não se “perca”...»
Em 2 de Julho disputou-se em
Coimbra o II Encontro Coimbra-Aveiro-Viseu, com dois atletas em cada
prova, num programa que englobava a maioria das provas
regulamentares. Em masculinos, a superioridade foi da selecção de
Coimbra; em femininos, foi a selecção de Aveiro quem se superiorizou
às suas congéneres. De referir que, das treze provas do programa,
Aveiro foi 1º em oito. No conjunto, o “avanço” de Coimbra nos
masculinos suportou perfeitamente a “recuperação” feminina. De
qualquer modo, e utilizando uma pista razoável, o encontro serviu
para assinalar a queda de mais seis records regionais. Esta
sucessão de records que se vinha verificando, de torneio para
torneio, mostrava o progresso do atletismo aveirense, apesar de
ainda distante daquilo que o potencial humano permitiria.
Os recordes obtidos foram:
Rosa Rodrigues, do Estarreja, no lançamento do disco (26,36 m.);
Lucinda Leal, do Estarreja, no lançamento do dardo (33,10 m.);
Anabela Leite, da Sanjoanense, no salto em comprimento (4,68 m.); da
estafeta 4x400 m., com Glória Marques, Isolina Bezerra, Clarinda
Faria e Graça Silva (4 m 12,1 s., marca que era máximo nacional na
categoria de juvenis); e ainda de dois outros records de um
“desconhecido” (até à data), Vítor Nunes, da Portucel-Cacia, que fez
1,70 m. no salto em altura e 5,97 m. no salto em comprimento. Este
atleta, já senior, estava “escondido” na fábrica da Portucel (até
então vinha participando nos campeonatos corporativos, vulgo Inatel).
De citar ainda a
participação de Nuno Leitão, do Beira-Mar, que, apesar de não treinar
há mais de dois anos, conseguiu lançar o dardo a 47,98 m., mostrando
que era tecnicamente um dos melhores lançadores nacionais. Se
treinasse com assiduidade, onde chegaria?!
Como já deu para entender do que
se vem referindo, o Estarreja tinha uma equipa feminina bastante
razoável e disputou, neste ano de 1977, o “Campeonato da 2ª divisão”.
Na eliminatória da zona norte, disputada a 9 e 10 de Julho, ficou em
1º lugar, o que lhe permitiu disputar depois a final a 23 e 24 desse
mesmo mês, conjuntamente com os vencedores das zonas centro e sul,
respectivamente Santa Clara de Coimbra e Benfica. O Benfica tinha
uma equipa bastante boa e venceu folgadamente; mas o Estarreja deu
bastante luta ao Santa Clara para o 2º lugar, ficando apenas a um
ponto de distância. Glória Marques, Lucinda Leal, Rosa Rodrigues,
Aldina Figueira e Isolina Bezerra foram as figuras de proa do clube estarrejense, com Lucinda Leal a vencer a prova de dardo e sendo 2ª
na altura e 3ª no comprimento, Glória Marques 2ª nos 800 m. e nos
1.500 m., Rosa Rodrigues 2ª no peso e no disco, Isolina Bezerra 2ª
nos 400 m. barreiras e Aldina Figueira 2ª nos 3.000 m. Não esquecer
que nas outras equipas havia atletas que deram brado na modalidade,
tais
como Conceição Moura e Regina Babo, no Santa Clara, e Nora Araújo,
Rita Borralho, Elisabete Simões e Vera Lisa, no Benfica. Quem
acompanhou de perto o atletismo sabe perfeitamente do valor que
estas atletas atingiram.
No intervalo destas duas
competições do campeonato da 2ª divisão, a 17 deste mês de Julho, a
Federação fez disputar o que designou por “Lisboa-Resto do País”,
donde se conclui que Lisboa “chegava” para o resto do país. Para a
selecção do Resto do País, foram convocadas 6 atletas femininas que
foram: Lucinda Leal, 2ª no dardo e 5ª nos 100 m. e no comprimento;
Isolina Bezerra, 5ª nos 800 m.; Aldina Figueira, que foi 2ª nos
3.000 m.; Rosa Rodrigues, que foi 4ª no peso; Jovita Mendes, que foi
5ª no dardo; e Regina Gonçalves, do Beira-Mar, que foi 6ª nos 1.500 m.
com o tempo de 4 m.54,7 s., máximo nacional de iniciadas e que,
correndo extra nos 3.000 m., fez melhor que Aldina Figueira (10.33,4
contra 10.52,8), batendo o record de Aveiro por larga margem.
Estava-se na presença de outra grande atleta, ainda iniciada.
Continuaram as relações
desportivas da Federação Portuguesa de Atletismo com a Federação do
Sarre (Alemanha). Entre 26 de Agosto e 12 de Setembro, uma equipa
portuguesa de atletas jovens esteve na Alemanha, participando num
estágio, com competição em vários estádios. Foram 13 os atletas
deslocados, entre os quais as esperanças de Aveiro, Anabela Leite da Sanjoanense, e Lucinda Leal do Estarreja.
A Associação teve
neste ano inscritos 651 atletas de 37 clubes. Registe-se o aumento
considerável do número de clubes (eram 15 na época anterior). Também
mais quatro centenas e meia de atletas que, embora não estando
inscritos, participaram em provas de estrada que a Associação incluiu
no seu calendário.
Nas melhores
atletas de sempre (“ranking” da Federação), Glória Marques era 2ª
nos 800 m. e 7ª nos 1.500 m. Nos dez primeiros estavam ainda Lucinda
Leal (8ª no dardo), Clarinda Faria (9ª nos 400 m. barreiras), Regina
Gonçalves (9ª nos 3.000 m.) e Vitalina Bastos (10ª nos 3.000 m.
Do relatório
anual de 1976/77 da Associação de Desportos de Aveiro, respeitante
ao atletismo, dizia-se na “abertura”:
«Apesar de TUDO, a época que agora
termina pode considerar-se satisfatória. E este tudo pode traduzir-se
por:
●
falta de instalações;
●
falta de técnicos;
●
falta de apoio;
●
falta de dirigentes.
E é pena que estas faltas sejam
todas uma realidade, porque o distrito poderia ser enorme na
modalidade. De todas elas, apenas a última estará nas vossas mãos
(clubes filiados) remediar. Das primeiras, o preenchimento das
lacunas transcende-nos e lamentamos, tanto quanto vós, o
esquecimento (voluntário ou não) a que somos votados.
O que foi a época finda falam os
resultados. Podemos quase negar o provérbio de que “sem ovos não se
fazem omeletas”. Pois as “omeletes” ainda foram aparecendo,
mesmo com a falta de “ovos” que por cá existiu.»
O mesmo relatório
registava 23 organizações de eventos, em 32 dias, tendo-se efectuado
337 provas, movimentando nelas 7.521 atletas.
Das competições
de nível distrital que a Associação fez disputar há registos no
relatório anual e nos vários comunicados que a Associação foi
divulgando ao longo do ano. Neste documento que vimos elaborando não
se pode ser tão exaustivo.
A revelação
do ano foi Regina Gonçalves, representando o Beira-Mar, que, com
apenas 13 anos e tendo iniciado a prática da modalidade nesta mesma
época, alcançou as marcas de 2.28,5 nos 800 metros, de 4.54,7 nos
1.500 metros e 10.33,4 nos 3.000 metros, sendo a marca dos 1.500 m.
alcançada no encontro Lisboa-Resto do País máximo nacional de
juvenis. |