Em 1961 havia dois. Em 1962
passou a haver apenas um. Vaz Ruivo, conforme se previa, rumou a
Lisboa e ao Benfica. Ficou Carlos Alberto Mateus de Lima, solitário
representante do Clube dos Galitos nos campeonatos nacionais de
juniores, disputados no estádio do Restelo, em Lisboa, nos dias 12 e
13 do mês de Agosto. Do semanário “Litoral” de 18 desse mês
respigamos:
«Voleibolista, andebolista e
basquetebolista de reais merecimentos e possibilidades, Mateus de
Lima é, principalmente, um devotado e persistente amante do
atletismo, que teima em praticar, mesmo sem poder dispor de um
mínimo de condições que lhe permitam treino regular e eficiente.
Sem treinador – orienta ele mesmo a
sua própria preparação! E, sobre isto tudo, é ainda Mateus de Lima a
alma-mater da secção de atletismo do Galitos, que lhe está
confiada.
Por tudo, a presença de Mateus de
Lima nos Nacionais de Juniores, para além dos resultados que obteve
(e alguns foram excelentes: 2º lugar em comprimento – 6,66 m.; 3º
lugar no triplo salto – 12,78 m.; e 4º lugar nos 110 m. barreiras),
é facto digno de se colocar em evidência.»
Não faz referência o articulista
ao 4º lugar de Carlos Lima no salto em altura, pulando 1,70 m.,
razoável marca para a época em que poucos atingiam o 1,80 m. Digna
de encómios a participação em quatro provas, com classificações do
2º ao 4º lugar.
Participaria ainda nos Nacionais
Absolutos, realizados a 19 e 20 do mesmo mês de Agosto, fazendo
apenas salto em comprimento, com um honroso 5º lugar.
«Vencendo mil obstáculos sem
esquecer o das incompreensões, o Clube dos Galitos está a dar
prestimoso contributo ao atletismo. Os seus representantes aparecem
nas pistas de Lisboa e Porto e arrancam preciosas “performances” e,
com elas, manifestações de simpatia.
Para o "dinamométrico" atletismo,
índice de adiantamento desportivo de uma cidade e de um país, não há
em Aveiro uma comezinha pista...
Num flagrante contraste, outros
centros do distrito resolveram, ou estão a resolver, idênticos
problemas. S. João da Madeira conta com um... estádio, onde resta
concluir a pista de atletismo.»... escrevia-se na altura na
imprensa local.
Entretanto surge mais um grande
campeão aveirense, embora não a representar qualquer colectividade
do distrito. Trata-se de Jorge Soares, a representar o CDUL, pois
que vivia em Lisboa, fazendo os seus estudos no Colégio Militar,
passando depois para a Marinha. Ainda júnior, representou a selecção
portuguesa num Portugal-Espanha na categoria, disputado na Corunha,
tendo ganho os 100 m. e os 200 m. e tendo ainda participado na
estafeta 4x100 m. de que Portugal também foi vencedor. Bisou nos 100
e 200 m. do Portugal-Espanha do ano seguinte, disputado em Lisboa.
Aliás, já era recordista nacional de 100, 200 e 400 m. nas
categorias de principiantes e juniores.
Já como sénior, alcançou o
triunfo nos 100, 200 e 4x100 m. do Portugal-França do Sul (Toulouse
1961) e os 100 e 4x100 m. (Lisboa 1962) durante a mesma manifestação
internacional.
Foi durante algum tempo
co-recordista nacional absoluto dos 100 metros, em parceria com o
seu rival José Rocha, este a representar o Sporting. Foi portanto um
grande campeão nascido em Aveiro, e a quem não podemos deixar de
fazer referência, embora não o fosse envergando qualquer camisola de
clube do distrito.
Entretanto o Galitos preparava
nova fornada de jovens atletas, agora sob a orientação do Prof. José
Santos. Iniciariam a participação em provas de corta-mato,
nomeadamente na categoria mais jovem, a de aspirantes.
Noticiava-se no final do ano de
1962 que se estava em vias de fundar a Associação de Atletismo de
Aveiro, iniciativa da Federação Portuguesa de Atletismo e da
Delegação Distrital da Direcção Geral dos Desportos. Os três clubes
do distrito, até então filiados na Associação Portuense de
Atletismo, Clube dos Galitos, Clube Desportivo de Estarreja e
Sporting de Espinho aderiram de imediato à iniciativa. Simplesmente,
como se verificará mais tarde, ainda não seria desta que tal viria a
ter lugar.
O Estarreja e o Espinho davam os
seus primeiros passos na modalidade, não registando ainda feitos
dignos de menção.
Durante 1962 verificou-se um
decréscimo de actividade, como já se referiu com a simples presença,
sempre muito válida, de Carlos Lima. No sentido de renascer em
Aveiro o gosto pelo atletismo, o Prof. António Santos, que entretanto
tomara conta da secção como treinador, realizou em 27 de Janeiro um
torneio que designou de “Popular”, com provas de corridas, saltos e
lançamentos, que teve algum êxito, pelo menos em presenças, pois
compareceram cerca de meia centena de jovens.
Dos resultados deste torneio
faz-se alguma referência, pois aparecem nomes que depois viriam a
ter alguma notoriedade:
60 m. final – 1ºs
ex-aequeo (?!) Carlos A. Lima e Rui Henrique de Barros, com 7,3
s. (registe-se a presença de Carlos Lima neste torneio popular,
talvez como incentivo);
800 m. – 1º Henrique Peres
Pereira, com 2 min. 16,7 (mais seis atletas);
2.800 m. – 1º Vítor Paulino com 9
min. 47,4 s; 2º Júlio Sarabando da Rocha (mais 3 atletas);
Peso – 1º António Júlio
Encarnação com 12,54 m (mais 4 atletas);
Disco – 1º António Júlio
Encarnação com 25,67 m; 2º Carlos Lima (?!) com 24,18 m.;
Altura – 1º António Encarnação;
2º Rui H. Barros; 3º Carlos Lima, todos com 1,60 m. e 4º António
Pinheiro com 1,45 m.
Parecia haver matéria para bons
atletas (ou pelo menos
razoáveis) para relançar a modalidade no clube dos Galitos. |