Vimos no número
anterior que a agremiação sedeada em Pedorido, junto das minas do
Pejão, continuava a dar cartas nas corridas de estrada disputadas no
norte do país, relegando para segundo plano clubes com antecedentes
na modalidade, como o F. C. Porto e o Académico, entre outros. E
apesar de não possuir pista adequada, ainda aqui faziam excelentes
resultados, em disciplinas técnicas onde a existência de equipamento
é importante. Detinham mesmo vários recordes do norte em difíceis
especialidades, como por exemplo o dardo, a vara ou o comprimento.
Sem dúvida um bom trabalho, a merecer os devidos encómios, se estava
a realizar nas “faldas da serra”.
Mas a falta de
estruturas teria que sobressair e é assim que os brilhantes atletas
do Pejão começam a enfraquecer na pista. Já se notou isso na época
de 53/54. Na época seguinte, a ausência das pistas começa a ser mais
notada e raras são as ocasiões para efectuar bons resultados. E
assim o Pejão já não “aparece” nos regionais de aspirantes e
principiantes, os dois escalões etários mais jovens existentes na
altura. Nos regionais de juniores, a colectividade conseguiria
apenas 11 pontos (mas como os clubes a praticar atletismo ainda não
eram muitos, ainda foi terceiro colectivamente), com apenas um
resultado interessante, o de José Abílio Correia no dardo com 41,26
m., que lhe daria o 2º lugar, não constando mais nenhum lugar até ao
terceiro individual nas restantes provas. Nos regionais de seniores
voltaram a não comparecer. E assim acabou a época de pista...
O final do ano de
1955 traria no entanto uma boa notícia. O atletismo, ao fim de 19
anos de interregno, voltava à cidade de Aveiro. O Comércio e
Indústria Clube de Aveiro, o CICA como passou a ser mais conhecido,
uma agremiação fundada pouco antes, abalançava-se na modalidade. E
assim aparece no Grande Prémio do Natal, que continuava a ser
organizado pela Associação Portuense de Atletismo, na prova de não
filiados, tendo obtido o 9º lugar com 165 pontos, correspondentes às
11ª, 18ª, 42ª, 45ª e 49ª posições. Não era o que se pudesse chamar
um resultado famoso, mas dado tratar-se de um começo... e o que
interessava era “mexer” com a modalidade. Neste mesmo Grande Prémio,
a colectividade de Ovar, o Grupo Desportivo “Os Onze Verdes”, já
referido em números anteriores como pedestrianistas com algumas
tradições, firmou-se em 3º lugar, com 91 pontos. Em filiados, o
Pejão ainda compareceu, tendo alcançado apenas a 4ª posição, com o
melhor individual em 8º lugar.
A propósito deste
regresso à modalidade na cidade de Aveiro, dizia o Litoral de 21 de
Janeiro de 1956: “Pena é que não exista ainda uma pista de cinza na
cidade, apesar de na cidade existir um recinto a que pomposamente se
dá o nome de estádio... Mas enquanto Aveiro não ostentar esse anel,
essa jóia em seu seio, as provas de “cross” ou de estrada
propagandearão sem dúvida o atletismo. E não esqueçamos, entretanto,
que os aveirenses denotam invulgares aptidões físicas para a
modalidade.”
O CICA não esteve
com meias medidas e organizou de imediato uma prova de estrada na
cidade que denominou de I Légua de Aveiro. A prova teve um êxito
relativo para a época, pois contou com 24 concorrentes, dos quais se
classificaram apenas 18. O primeiro foi Manuel Fernandes, do
Operário Marinhense, o 2º Valdemar Monteiro, do Vianense, e o 3º
outro atleta do Operário Marinhense, que ganharia por equipas. O
melhor aveirense foi Francisco Fernandes, do CICA, à frente de dois
atletas de outra colectividade de Aveiro que igualmente aderiu na
altura, o Grupo Desportivo da Casa do Povo de Esgueira. Foram eles
João Brazete (que viria a conseguir depois uma certa notoriedade) e
Carlos Cunha, respectivamente em 6º e 7º. Por equipas, CICA e Casa
do Povo de Esgueira seriam segundo e terceiros.
Entretanto, em
Fevereiro desse mesmo ano de 1956, noticiava-se que outra
colectividade da cidade, mais propriamente o Clube dos Galitos, se
iria também dedicar ao atletismo. A notícia dizia mesmo que os
treinos se iniciariam no dia 19 desse mês. Aconteceria mais tarde. A
primeira intervenção deste clube, e virada mais para provas de
pista, seria na eliminatória do Torneio “O Primeiro Passo”, que o
Sporting Clube de Portugal organizava no sentido de angariar adeptos
e consequentemente praticantes para a modalidade. Deste início na
pista, daremos pormenores no próximo número.
Entretanto
continuava o Pejão, agora com menos frequência, a participar em
provas de estrada. Joaquim Vieira era agora a estrela, pois
classificar-se-ia em 2º lugar no corta-mato de abertura e no
campeonato de principiantes de corta-mato, atrás do portuense
Armando Leite, um atleta de alguma craveira. No torneio regional de
equipas, em seniores, Joaquim Vieira seria terceiro e a estrela de
épocas anteriores, Maurício Tavares, seria apenas 5º. Dizia a
imprensa que “de louvar a presença do Pejão, mesmo sem constituir
equipa”. Para além destes, apenas de salientar o 4º lugar do
principiante Jorge Lino, no respectivo campeonato de corta-mato e o
4º lugar do júnior Augusto Silva, no torneio regional de equipas. A
má forma de Maurício Tavares viria a confirmar-se no campeonato
regional de seniores de corta-mato, onde foi apenas 14º, atrás dos
seus colegas Joaquim Vieira em 6º e José Rodrigues em 11º.
Colectivamente (68 pontos) ficou distante do vencedor, o Porto com
32 pontos.
Um mês depois
recuperou e seria o vencedor da Légua Pedestre da APA no dia 11 de
Março e da Légua de Viana do Castelo no dia 31 do mesmo mês. A crise
tinha sido momentânea, pelos vistos...
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