Temos que complementar o que se dizia na primeira parte destes
“subsídios...”, no que respeita ao início da modalidade na cidade de
Aveiro, pois o mesmo terá acontecido pelo ano de 1922. (Ver
texto em destaque)
Há notícias (embora não se tenha conseguido informação) que as tais
“festas sportivas” que o semanário “Democrata” refere, só no ano
seguinte se viriam a concretizar, com a presença de dois nomes
grandes do atletismo nacional de então: o recordista nacional dos
100 metros, Gentil dos Santos, do Clube Internacional de Futebol e
Júlio Montalvão, que era o campeão de salto em altura, nos
anos 20.
Nessa mesma competição de 100 metros,
realizada no campo do Cojo (e socorrendo-nos ainda do apreciado
jornalista João Sarabando), o Dr. Luís Regala, ilustre aveirense de
renome, terá dado bastante luta a Gentil dos Santos. Mas terá sido o
único, pois dos restantes não reza a história.
Julga-se que estas provas terão tido lugar em
11 de Novembro de 1923, conforme o jornal “Democrata”, que refere
“todas as outras provas sportivas realizadas nesse dia foram muito
apreciadas e aplaudidas”. A principal prova era “um jogo de football
entre o Galitos e o Atlético C. A., que foi arbitrado por Gentil dos
Santos, do CIF (Lisboa)”, que também seria categorizado árbitro de
futebol. E terá sido nesse dia, aproveitando a sua presença para a
arbitragem, que o recordista nacional de então fêz a sua prova de
100 metros contra “desconhecidos” aveirenses.
Foi portanto o Atlético Clube Aveirense o impulsionador do
atletismo em Aveiro, em 1922. A comprovar uma carta de Mário Duarte
(filho) ao A. C. A., onde refere: “... meus caros amigos: o Atlético
triunfou. Podemos afoitamente declarar: foi o nosso clube que
iniciou em Aveiro a prática dos Sports Atléticos”. E mais à frente:
“... Ensinámos a partir para uma corrida, a lançar o disco, o peso e
a saltar...”.
Isto no que respeita a provas de pista (se ao
campo do Cojo se poderia chamar pista!...), porque há algumas
referências a “provas de pedestrianismo”, como eram simplesmente
designadas as provas de estrada. Socorremo-nos ainda do semanário
“Democrata”.
Em 3 de Junho de 1923, refere-se que “se
realizou uma prova de pedestrianismo – a corrida da légua –
promovida pelos srs. Francisco Duarte e Hermenegildo Meireles, desde
a meia recta da Gafanha ao Campo do Cojo, na qual tomaram parte
vários clubes desta cidade. Chegaram em primeiro lugar: Mário R.
Boavista, do Sport Lisboa e Aveiro, Hermenegildo Meireles, do
Recreio Artístico, João de Rosa Lima, do Sport Clube Beira-Mar, João
dos Santos Silva, idem e Joaquim Gonçalves, idem”.
Noticia-se mais adiante (26 de Agosto de 1923)
que “deve realizar-se pela primeira vez nesta cidade uma prova
atlética, por estafetas, que se designará A Volta a Aveiro, sendo o
percurso de cerca de 10.000 metros com o seguinte itinerário: Rocio,
pela Beira-Mar à Estação, da Estação pelo Americano, Ponte Nova, Rua
Eça de Queiroz, Pombas, seguindo pelo lado do Hospital até ao ponto
de partida. Tomam parte as melhores equipas entre nós organizadas”.
Não existe registo de resultados desta prova.
Mas uma outra, que se terá realizado em 6 de Junho de 1924, conforme cita ainda o semanário:
“Na corrida da légua realizada no mesmo dia, os três primeiros
prémios foram ganhos pela ordem seguinte: 1º Mário Boavista, que
correu pelos Galitos, 2º Hermenegildo Meireles, pelo Recreio
Artístico, 3º Virgílio Cardoso, pelo Vitória Football, de Espinho.
Os corredores foram muito vitoriados à sua entrada no campo da
Corredoura, ponto términus da corrida.”
Já referenciámos as brilhantes mas efémeras “passagens” pela
modalidade, nos princípios dos anos 30, do Anadia F.C. e do
Internacional Atlético Clube. Em termos de resultados, como vimos,
mais brilhantes os dos atletas do Anadia.
Com referência às chamadas provas de pista,
seguir-se-ia um interregno, sendo retomadas alguns anos depois.
Daremos notícia do seu “reaparecimento” mais à frente.
Mas, ainda desta época, não podemos deixar de
citar algumas notícias soltas “ao redor das pistas”, utilizando o
título de uma página do almanaque desportivo que referimos no número
anterior, como por exemplo:
- Com a colaboração do Académico F. C. do Porto, a Oliveirense
organizou em 1933 e em 1947 (repare-se no intervalo entre os dois
torneios) interessantes torneios da modalidade;
- Em 25 de Junho de 1933, efectuou-se em Oliveira de Azeméis (campo
da UDO) o primeiro torneio de atletismo, em que Evaristo de Abreu
ganhou os 80 metros, Jorge Silva os 50 m. barreiras e o triplo-salto,
José Tuna o salto em altura, Fausto Tavares os 800 metros e António
Abreu, Evaristo Abreu e Alberto Guimarães a estafeta 3x80 m.;
- Com um “pulo” de 6,26 m., em Gaia, Luís Gonzaga, do Internacional
AC, de Aveiro, conseguiu na temporada de 1932 o 4º melhor resultado
português no salto em comprimento;
- A A. D. Sanjoanense também praticou atletismo com assinalável
aproveitamento. Uma referência para uma participação nos regionais
de juniores no Porto, em 1936, com acção meritória de Manuel Leite,
Paulo Pinho, Raul Pardal, Hernâni Bastos e Daniel Nicolau.
Algum destaque tem de ser feito para atletas de Aveiro com óptimos
resultados a nível nacional, embora representando clubes doutros
distritos ou regiões.
Sem desprimor para os restantes, devemos
destacar Francisco Duarte, desportista completo competindo em várias
modalidades, a maior parte delas oficialmente, e que se notabilizou
no atletismo ao serviço do Académico Futebol Clube, do Porto. “Além
de haver ganho inúmeras provas de barreiras, saltos em comprimento e
em altura, triplo, dardo e peso, foi campeão regional uma meia dúzia
de vezes, no Porto e em Coimbra, ganhando em 1927 e 1930 o
campeonato nacional do salto à vara. Duas vezes seleccionado para o
Portugal-Espanha, classificou-se em 2º e 3º lugar respectivamente em
1925 (Madrid) e em 1926 (Porto) na modalidade em que era
especialista e “recordman”
(desde 9-6-1929 a 9-8-1931), com 3,30 m.” (citamos João Sarabando).
Este excelente atleta aveirense bateu o record
nacional do salto à vara em 1929 (com 3,30 m.), que pertencia desde
1914 ao atleta do Benfica, Cabeça Ramos, (com 3,27 m), e o manteve
em seu poder, como se disse, por dois anos.
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Francisco Duarte,
recordista nacional de salto à vara: |
Ainda no salto à vara, um antigo atleta do
Internacional A. C., mas agora concorrendo pelo F. C. de Gaia,
Rogério Morais, conquistaria em 1933 o título de campeão nacional de
juniores, com 3,10 m.
Acrescentando a estes dois atletas o nome de
Tavares dos Santos, referenciado no número anterior como um outro
excelente saltador à vara, verifica-se que esta tão difícil
disciplina, que depois conheceria períodos de “esquecimento”, tinha
nessa época (anos 30) excelentes executantes.
Também não poderemos deixar de referir um
outro atleta do distrito, natural da Pampilhosa do Botão (Mealhada)
que em representação de “Os Belenenses” brilhou em Lisboa nas
corridas de meio-fundo. Trata-se de Joaquim Branco, que foi
recordista nacional dos 1.000 metros (2 m. 35,4 s.), 1.500 metros (4
m. 8,5 s.), milha (4 m. 31,7 s.) e 2.000 metros (5m 39,4s), este
último também record ibérico. Foi igualmente campeão regional de 800
metros (2m 1,3s). |