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A. Carretas, Para a História do Atletismo, In Revista "Mais", Jul.-Ago. 1995, n.º 4, págs.10 e 11.

Subsídios para a História do Atletismo em Aveiro - 2


Começa a “mexer” em Aveiro cidade

Temos que complementar o que se dizia na primeira parte destes “subsídios...”, no que respeita ao início da modalidade na cidade de Aveiro, pois o mesmo terá acontecido pelo ano de 1922. (Ver texto em destaque)       

 Há notícias (embora não se tenha conseguido informação) que as tais “festas sportivas” que o semanário “Democrata” refere, só no ano seguinte se viriam a concretizar, com a presença de dois nomes grandes do atletismo nacional de então: o recordista nacional dos 100 metros,  Gentil dos Santos, do Clube Internacional de Futebol e Júlio Montalvão, que era o campeão de salto em altura, nos anos 20.

 

Nessa mesma competição de 100 metros, realizada no campo do Cojo (e socorrendo-nos ainda do apreciado jornalista João Sarabando), o Dr. Luís Regala, ilustre aveirense de renome, terá dado bastante luta a Gentil dos Santos. Mas terá sido o único, pois dos restantes não reza a história.

 

Julga-se que estas provas terão tido lugar em 11 de Novembro de 1923, conforme o jornal “Democrata”, que refere “todas as outras provas sportivas realizadas nesse dia foram muito apreciadas e aplaudidas”. A principal prova era “um jogo de football entre o Galitos e o Atlético C. A., que foi arbitrado por Gentil dos Santos, do CIF (Lisboa)”, que também seria categorizado árbitro de futebol. E terá sido nesse dia, aproveitando a sua presença para a arbitragem, que o recordista nacional de então fêz a sua prova de 100 metros contra “desconhecidos” aveirenses.
 Foi portanto o Atlético Clube Aveirense o impulsionador do atletismo em Aveiro, em 1922. A comprovar uma carta de Mário Duarte (filho) ao A. C. A., onde refere: “... meus caros amigos: o Atlético triunfou. Podemos afoitamente declarar: foi o nosso clube que iniciou em Aveiro a prática dos Sports Atléticos”. E mais à frente: “... Ensinámos a partir para uma corrida, a lançar o disco, o peso e a saltar...”.

 

Isto no que respeita a provas de pista (se ao campo do Cojo se poderia chamar pista!...), porque há algumas referências a “provas de pedestrianismo”, como eram simplesmente designadas as provas de estrada. Socorremo-nos ainda do semanário “Democrata”.

 

Em 3 de Junho de 1923, refere-se que “se realizou uma prova de pedestrianismo – a corrida da légua – promovida pelos srs. Francisco Duarte e Hermenegildo Meireles, desde a meia recta da Gafanha ao Campo do Cojo, na qual tomaram parte vários clubes desta cidade. Chegaram em primeiro lugar: Mário R. Boavista, do Sport Lisboa e Aveiro, Hermenegildo Meireles, do Recreio Artístico, João de Rosa Lima, do Sport Clube Beira-Mar, João dos Santos Silva, idem e Joaquim Gonçalves, idem”.

 

Noticia-se mais adiante (26 de Agosto de 1923) que “deve realizar-se pela primeira vez nesta cidade uma prova atlética, por estafetas, que se designará A Volta a Aveiro, sendo o percurso de cerca de 10.000 metros com o seguinte itinerário: Rocio, pela Beira-Mar à Estação, da Estação pelo Americano, Ponte Nova, Rua Eça de Queiroz, Pombas, seguindo pelo lado do Hospital até ao ponto de partida. Tomam parte as melhores equipas entre nós organizadas”.

 

Não existe registo de resultados desta prova.

 

Mas uma outra, que se terá realizado em 6 de Junho de 1924, conforme cita ainda o semanário: “Na corrida da légua realizada no mesmo dia, os três primeiros prémios foram ganhos pela ordem seguinte: 1º Mário Boavista, que correu pelos Galitos, 2º Hermenegildo Meireles, pelo Recreio Artístico, 3º Virgílio Cardoso, pelo Vitória Football, de Espinho. Os corredores foram muito vitoriados à sua entrada no campo da Corredoura, ponto términus da corrida.”
 
 Já referenciámos as brilhantes mas efémeras “passagens” pela modalidade, nos princípios dos anos 30, do Anadia F.C. e do Internacional Atlético Clube. Em termos de resultados, como vimos, mais brilhantes os dos atletas do Anadia.

 

Com referência às chamadas provas de pista, seguir-se-ia um interregno, sendo retomadas alguns anos depois. Daremos notícia do seu “reaparecimento” mais à frente.

 

Mas, ainda desta época, não podemos deixar de citar algumas notícias soltas “ao redor das pistas”, utilizando o título de uma página do almanaque desportivo que referimos no número anterior, como por exemplo:
 - Com a colaboração do Académico F. C. do Porto, a Oliveirense organizou em 1933 e em 1947 (repare-se no intervalo entre os dois torneios) interessantes torneios da modalidade;
 - Em 25 de Junho de 1933, efectuou-se em Oliveira de Azeméis (campo da UDO) o primeiro torneio de atletismo, em que Evaristo de Abreu ganhou os 80 metros, Jorge Silva os 50 m. barreiras e o triplo-salto, José Tuna o salto em altura, Fausto Tavares os 800 metros e António Abreu, Evaristo Abreu e Alberto Guimarães a estafeta 3x80 m.;
 - Com um “pulo” de 6,26 m., em Gaia, Luís Gonzaga, do Internacional AC, de Aveiro, conseguiu na temporada de 1932 o 4º melhor resultado português no salto em comprimento;
 - A A. D. Sanjoanense também praticou atletismo com assinalável aproveitamento. Uma referência para uma participação nos regionais de juniores no Porto, em 1936, com acção meritória de Manuel Leite, Paulo Pinho, Raul Pardal, Hernâni Bastos e Daniel Nicolau.
 
 Algum destaque tem de ser feito para atletas de Aveiro com óptimos resultados a nível nacional, embora representando clubes doutros distritos ou regiões.

 

Sem desprimor para os restantes, devemos destacar Francisco Duarte, desportista completo competindo em várias modalidades, a maior parte delas oficialmente, e que se notabilizou no atletismo ao serviço do Académico Futebol Clube, do Porto. “Além de haver ganho inúmeras provas de barreiras, saltos em comprimento e em altura, triplo, dardo e peso, foi campeão regional uma meia dúzia de vezes, no Porto e em Coimbra, ganhando em 1927 e 1930 o campeonato nacional do salto à vara. Duas vezes seleccionado para o Portugal-Espanha, classificou-se em 2º e 3º lugar respectivamente em 1925 (Madrid) e em 1926 (Porto) na modalidade em que era especialista e “recordman” (desde  9-6-1929 a 9-8-1931), com 3,30 m.” (citamos João Sarabando).

 

Este excelente atleta aveirense bateu o record nacional do salto à vara em 1929 (com 3,30 m.), que pertencia desde 1914 ao atleta do Benfica, Cabeça Ramos, (com 3,27 m), e o manteve em seu poder, como se disse, por dois anos.

Francisco Duarte, recordista nacional de salto à vara:

 

Ainda no salto à vara, um antigo atleta do Internacional A. C., mas agora concorrendo pelo F. C. de Gaia, Rogério Morais, conquistaria em 1933 o título de campeão nacional de juniores, com 3,10 m.

 

Acrescentando a estes dois atletas o nome de Tavares dos Santos, referenciado no número anterior como um outro excelente saltador à vara, verifica-se que esta tão difícil disciplina, que depois conheceria períodos de “esquecimento”, tinha nessa época (anos 30) excelentes executantes.

 

Também não poderemos deixar de referir um outro atleta do distrito, natural da Pampilhosa do Botão (Mealhada) que em representação de “Os Belenenses” brilhou em Lisboa nas corridas de meio-fundo. Trata-se de Joaquim Branco, que foi recordista nacional dos 1.000 metros (2 m. 35,4 s.), 1.500 metros (4 m. 8,5 s.), milha (4 m. 31,7 s.) e 2.000 metros (5m 39,4s), este último também record ibérico. Foi igualmente campeão regional de 800 metros (2m 1,3s).

 


“Início?!”

“O Democrata”, semanário de Aveiro da época, noticiava em 14 de Outubro de 1922 o início da modalidade (embora à mistura com outras, como veremos na notícia) na cidade de Aveiro. Transcrevemos a notícia na íntegra, para não lhe tirar o sabor.

“A exemplo de Lisboa e Porto, Aveiro vai ter amanhã dia 15 o seu primeiro campeonato de Sports Atléticos, promovido pelo A. C. A., que nesse sentido tem trabalhado com o melhor do seu esforço.

As provas a efectuar pelos concorrentes de todos os clubes de Aveiro que desejaram inscrever-se, constam de corridas, saltos, lançamentos, lutas de tracção, box, place-kick, etc..

Vai grande animação entre os “sportmen” da nossa terra e oxalá o público, compreendendo o significado de tão úteis provas, apareça no campo do Cojo a aplaudir aqueles que, pelas suas condições naturais ou de treino, conseguirem a vitória.

Antes de se dar início ao programa, que só a absoluta falta de espaço nos inibe de publicar, as equipas do Atlético Clube Aveirense, Clube dos Galitos, Beira-Mar e Empregados do Comércio, desfilarão em continência diante do júri de honra, que será constituído pelos srs. Mário Duarte (pai), Dr. Egas Pinto Bastos e Barão de Cadoro.”

 

Notas:

 - O A.C.A. era o Atlético Clube Aveirense que tinha a sua sede na rua do Arco

 - O campo de jogos do Cojo situava-se onde hoje está implantado o Mercado Municipal

Mas “as festas sportivas” não se chegariam a realizar por terem ficado prejudicadas pelo mau tempo, conforme noticiava o mesmo “Democrata” na semana seguinte.
 


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