Acesso à página inicial
A. Carretas, Para a História do Atletismo, In Revista "Mais", Jan.-Mar. 1995, n.º 2, pág. 8

Subsídios para a História do Atletismo em Aveiro - 1


Os Primórdios

O atletismo é um desporto natural por excelência e daí remontarem as suas origens possivelmente à pré-história.

Cronologicamente é o desporto número um e foi a razão de ser dos Jogos Olímpicos da Antiguidade. Depois outros desportos se lhe juntariam nos Jogos Olímpicos modernos.

Em Portugal, a primeira prova oficial efectuou-se em 1910. A Federação Portuguesa de Atletismo, que preside aos destinos da modalidade, seria apenas fundada em 05-11-1921, então ainda com a designação de Federação Portuguesa Sports Atléticos.

 

No distrito de Aveiro, o atletismo começaria a ser ensaiado igualmente nos princípios do século; e, embora haja referências a algumas provas realizadas em 1924 (ver notícia em separado), poder-se-á dizer que só nos anos 30 se efectuariam torneios "a sério", que incluíam todas as provas do programa de então.

Anadia era então o centro das actividades desta modalidade; e chegou mesmo a ser o terceiro centro do país. O Anadia Futebol Clube iniciou as suas actividades no atletismo em 1929, mas viria a abandonar depressa, mais exactamente em 1934, cinco anos depois.

Datam de 1932 os primeiros torneios realizados contra equipas de outros distritos, como foi o caso do Anadia-Gaia, efectivado no campo dos Olivais, em Anadia, e o II Anadia-Gaia, ou melhor, o I Gaia-Anadia, porque disputado no campo de João de Deus, em Gaia.

A selecção de Gaia era composta por atletas do Vilanovense, F. C. Gaia, Coimbrões e Candal, enquanto Anadia era representado apenas por atletas do Anadia Futebol Clube.

 

Clicar para ampliar.

 
 

Anadia Futebol Clube

Da esquerda: Manuel T. dos Santos, Manuel Matos, José J. Duarte, Silvino Fernandes, Francisco Castro, Nuno Ferreira; Victor Leal, António Ramalheira e Herculano Lapa.

 

Os bairradinos triunfaram as duas vezes, em casa por 74 pontos contra 41; e em Gaia, por 70 pontos contra 53. Como se vê, foi grande a superioridade dos atletas da Bairrada sobre os seus adversários.

Para que conste, o programa incluía as provas de 80 metros, 150 metros, 300 metros, 1000 metros, 3000 metros, 83 metros barreiras, 3x300 metros, 5x80 metros, comprimento, altura, vara, peso, disco e dardo. Já se faziam resultados bastante razoáveis para a época como 9,2 s., nos 80 metros, por Manuel Matos; 6,15 m., no comprimento, por Marceano Veiga; 1,61 m., na altura, pelo mesmo atleta; 3,00 m., na vara, por Tavares dos Santos; e 40,55 m., no dardo, por Marcelino Veiga, resultados estes que muitos anos depois ainda seriam pouco habituais nas nossas pistas.

Ainda no mesmo ano Anadia disputou idênticos torneios com Mortágua, primeiro no campo da Gândara, em Mortágua, com retribuição no campo dos Olivais, em Anadia. A superioridade dos bairradinos voltou a manifestar-se em ambos os torneios (29 contra 11 pontos e 47 contra 21 pontos, respectivamente).

Em Mortágua, no decurso do primeiro destes torneios, o atleta do Anadia, Manuel Matos, bateria o recorde nacional do salto em comprimento, que pertencia ao tempo ao benfiquista Américo Antunes (6,49 m.), transpondo 6.60 m. Porém a marca não foi homologada, porque os organizadores do torneio não haviam solicitado representantes à Associação de Atletismo de Coimbra (?!)...

Manuel Matos era então o nome mais prestigioso da equipa do Anadia F. C. e um bom atleta a nível nacional (ver caixa).

Um outro atleta desta colectividade, que igualmente se destacou na modalidade, foi José Júlio Duarte, que chegou a igualar dois recordes nacionais: em 1931, no decurso do III concurso de "Os Sports", em Lisboa, o dos 60 metros (7 s.), e em 1933, também em Lisboa, durante a final dos Campeonatos Nacionais, em que ganhou o dos 80 metros (9 s.).

Também Tavares dos Santos, com a marca alcançada no salto à vara (3,02 m.), figurava na 5ª posição na lista dos melhores saltadores do ano (1932), nessa tão difícil especialidade.

Na cidade de Aveiro, apareceria, no ano de 1932, o Internacional Atlético Clube, que teve a sua sede inicial na Rua de Domingos Carrancho e, posteriormente, na Avenida Central. Desempenhou igualmente um papel de relevo na propaganda do atletismo, embora efémero. O clube organizou a sua última manifestação desportiva em 1936; portanto só durou quatro anos a sua actividade, situação em tudo semelhante à do Anadia F. C. Desapareciam muito depressa estas colectividades, situação que acontece com frequência ainda nos nossos tempos. Porque será?

Em 21 de Agosto de 1932, "desafiaram" (ou foram "desafiados") Anadia para um torneio (o I Anadia-Aveiro) que viriam a perder por 68 pontos contra 33. O Anadia F. C., como atrás se disse, era uma grande força na modalidade...

 

Clicar para ampliar.

 
 

Equipa do Internacional Atlético Club

No primeiro plano, da esquerda: Luís Gonzaga, João Rocha, Vasco Rocha, Vinício Vilar e Rogério Morais. No segundo plano, pela mesma ordem: Hermenegildo, José Ferreira, Francisco Gonzalez, José Laranjeira, Américo Santos, J. Sarabando, António Lino, Marcelino Gonzalez, Álvaro Lima e António Ferreira.

 

Aveiro, ou melhor, o Internacional Atlético Clube, viria apenas a vencer as provas de lançamento do disco, por Lino Rocha, com 29,53 m., e os 300 metros planos, por intermédio de João Sarabando, com 40 s.

João Sarabando, o conhecido jornalista de Aveiro a quem se agradecem as notas de um seu "almanaque desportivo", que lançou na década de 1950 e que estão a ser utilíssimas neste trabalho.


Do arco-da-velha

Estava-se em 1924 e Mealhada assistia, salvo erro pela primeira vez, a um torneio de atletismo.

Quando tudo fazia crer que nada de estranho ocorreria, levantou-se enorme burburinho.

Prestes a disputarem-se os 100 m., Mário Duarte, concorrente de Aveiro, tivera o cuidado de fazer covas para a partida. Com tal "partida", porém, é que não concordaram os adversários de certa cidade não longínqua, e daí, protestarem calorosamente...

Ignoramos se ao fim e ao cabo as "covas" foram inutilizadas, mas sabemos que, com ou sem elas, Mário Duarte venceu facilmente a prova...


Manuel Matos

Manuel Matos - Clicar para ampliar.

Atleta e futebolista bairradino assaz conhecido, Manuel Matos distinguiu-se principalmente como corredor de velocidade. Conquistou inúmeras vitórias em provas de atletismo efectuadas em Lisboa, Coimbra, Aveiro, Figueira, competindo com praticantes de nomeada.

Campeão Regional (Coimbra) de saltos em comprimento, dardo, 5x80, 3x300, 80 e 300 metros, Manuel Matos culminou a sua brilhante carreira de atleta com um título nacional de juniores, na prova de 80 metros (Salésias, Lisboa, 1932). Salientou-se no decorrer do IV Concurso de "Os Sports", desbobinado no Estádio do Lumiar, ganhando a prova de 60 metros.

Dos mais altos valores da equipa de Anadia, que brilhou no firmamento do atletismo português, Manuel Matos foi um dos seleccionados para representar a Cidade Universitária em 100, 200, 4x 100 m. e estafeta sueca no I Coimbra-Lisboa.

Manuel Matos, do lote de nomes mais prestigiosos da desportiva região da Bairrada, nasceu em Anadia a 25 de Março de 1910.


  Página anterior Página inicial Página seguinte