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            Khon Kaen, fábrica da Phoenix, meados de 
            Fevereiro, preparativos de arranque. Situação bastante melhor que a 
            anterior experiência, nos Camarões, em que condições semelhantes 
            levaram a ter ficado naquelas paragens por mais de um ano, enquanto 
            que nesta, ao fim de dois meses, estava tudo mais ou menos 
            operacional para se iniciarem as operações de arranque das 
            instalações. 
            
            Condição essencial para que tal aconteça 
            é a existência dos “services”, água, vapor e energia, para além das 
            matérias primas, claro. Água já estava do antecedente assegurada, 
            com captação oriunda da barragem de Ubolratana Dam, que se situava a 
            poucos quilómetros no rio Chi. Vapor também já disponível, após o 
            arranque da caldeira. Energia para a obra viria da rede. Faltava a 
            energia própria, que seria proveniente de uma turbina incluída no 
            equipamento geral da fábrica. Turbina que produz energia com vapor 
            de alta pressão proveniente da caldeira. 
            
            Tinham-se ultimado as últimas 
            intervenções na montagem deste grupo turbo gerador, para que se 
            iniciasse a tão necessária produção de energia. Tudo a postos, 
            portanto!... 
            
            O “management” da fábrica era composto 
            por pessoal indiano, V. P. Leekha era o “project manager” e P. K. 
            Paul o “project engineer”. Pertenciam ambos à B. I. LT. (Ballarpur 
            Industries Limited, com sede em New Delhi), que era o grupo 
            operacional do consórcio, por eles formado com a Voest Alpine, da 
            Áustria (por quem a minha pessoa indirectamente estava) e com o 
            governo tailandês. O pessoal da operação era de igual modo indiano, 
            e também na minha área me apareceram alguns operadores indianos, a 
            quem tive que dar alguma formação complementar. Aliás esta gente, 
            quando teve conhecimento que estivera mais de quatro anos em Goa, 
            não me largaram mais durante o tempo que por ali estive, chegando a 
            oferecer-me um folheto turístico sobre aquele nosso ex-território, 
            que tinha, imagine-se, as plantas das duas principais cidades por 
            onde eu dividi o meu tempo de permanência, Margão e Pangim, há vinte 
            e cinco anos atrás. Foi um reavivar de memórias... 
            
            Dada a percentagem de gente da Índia 
            presente no complexo fabril, a começar pela direcção, nada mais 
            natural do que a cerimónia inaugural, que fizeram coincidir com o 
            arranque da turbina, tivesse um cunho tipicamente indiano. Face à 
            minha afinidade com as terras daquele subcontinente, não foi de 
            estranhar que tivesse sido convidado para a mesma cerimónia. Foi meu 
            “escort” o Pratap.  
            
            Quando entrei no “hall” da turbina 
            encontrei já um ambiente de templo hindu. Logo me dei conta que uma 
            cerimónia “puja” estava para acontecer. Umas esteiras colocadas de 
            um dos lados da turbina delimitavam o “templo”. Junto à turbina um 
            pequeno altar, onde havia o habitual nestas cerimónias: uma imagem 
            do deus Shiva, um cesto com arroz, flores, polvilhados de amarelo e 
            laranja, ao lado do cesto um coco. Um improvisado “botho”, um 
            brâmane de tronco nu a que não faltava o cordão cruzado a tiracolo, 
            típico da casta, espalhava incenso pelo átrio. Como mandam os 
            costumes, tive que me descalçar para entrar “na esteira-templo”, 
            onde fiquei sentado na última fila, à maneira tradicional indiana. A 
            um toque de gongo, escondido não sei onde, os presentes entoaram um 
            coro arrastado e lânguido, que não entendi, mas respeitei 
            religiosamente. 
            
            Minutos passados, terminado o coro e 
            mais um aspergir de incenso efectuado pelo “botho”, é solicitada a 
            intervenção do director, o qual se levanta e se dirige para junto do 
            “altar”, pega no coco e o parte, com uma brusca martelada do mesmo, 
            nos “costados” da turbina. A água do coco escorre então pela 
            turbina, enquanto mais loas são entoadas pelos presentes. 
             
            
            Estava inaugurada solenemente a fábrica, 
            de maneira mais emblemática, mas certamente mais barata, do que o 
            nosso “lançar à água”, onde garrafas de espumante (ou espumoso) se 
            atiram aos costados de navios e outros “quejandos”. 
            
            Foi realmente... “de partir o coco” 
            (aqui com propriedade), não propriamente “a rir”, porque as 
            religiões, sejam elas mais ou menos fantasiadas, devem ser 
            respeitadas.  |