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António Carretas, Sawadi Krap! - Crónicas de Viagens, 1ª ed., Aveiro, 1994, págs. 20 a 23.

Bangkok


Falar da Tailândia é falar de Bangkok. Estou convencido aliás que para muitos a Tailândia é só Bangkok, ou ainda até que, para muitos outros, só Bangkok é conhecido, não a ligam à Tailândia. Se ao falar na Tailândia há muita gente que a não localiza, o mesmo não acontecerá com o nome Bangkok, que de Munique a Melbourn não haverá quem não conheça esta cidade, que com HongKong e Singapura rivaliza no tocante a turismo na Ásia do Leste.

Quando se fala em Bangkok, logo se exclama "Ah! Bangkok...", ficando-se pelas reticências; e nas reticências vai todo um mundo de mistério, de fascinação, de vegetação luxuriante, pensa-se de imediato nas raparigas de olhos negros e amendoados, cabelos de azeviche, sorriso sempre nos lábios, dóceis, feitas para agradar, etc., etc.,. Mas lá chegaremos...

Falar da Tailândia é pois falar de Bangkok, isto porque, na verdade, tudo ali se converge, em matéria não só de indústria, comércio, turismo, como de aglomerado humano, pois que derivado daqueles.

Bangkok é só 45 vezes maior que a segunda cidade, Chiang Mai de seu nome, que aliás dizem ser muito interessante, mas que não visitei, com alguma pena. No último consenso, fala-se em mais de 5 milhões de habitantes, estes os que conseguiram "localizar", pois mais uns milhares haverá dispersos pelas muitas barracas que pululam por todo o emaranhado de canais de que Bangkok é fértil. O / pág. 21 / facto da cidade ter imensos destes canais (klong em língua local) leva a ser considerada como a Veneza do Leste.

A cidade, embora com alguns edifícios altos, é no entanto bastante dispersa, com muitos espaços verdes; e assim estes cinco milhões espalham-se por cerca de 6.000 quilómetros quadrados, o que é considerável se comparar­mos com os 1.700 que tem Paris, para nós já uma cidade enorme.

Para se ver que o "mundo" na Tailândia está "todo" em Bangkok, basta referir-se que dos veículos registados no país, 90% são-no em Bangkok. Cada ano cerca de um milhão e meio de turistas e homens de negócios passam pelas camas de 13.000 quartos de hotel que Bangkok possui.

Alguns escritores ilustres que visitaram Bangkok, entre eles os conhecidos Somerset Maugham e Joseph Conrad, hospedados no Oriental Hotel que ainda hoje existe, assom­brados e deliciados, descreveram em crónicas as suas reac­ções a esta capital, uma cidade localizada nas pujantes mar­gens do rio Chao Phya, uma cidade onde abundam fabulo­sos templos que justificam o ressonante nome "thaí" de: "Krunghhep Mahanakorn Amomratanakosin Mahin­ traayutthayamahadilok Pob noporat Rachatani Burirom Udom Ratchaniwet Mahastam Amornprimarn Awataarnsatit Sakka­thatiya Vishnukamprasit" (uf!...) o que, traduzido para língua digerível, corresponde a: "Cidade dos Anjos, a maior das cidades, jóia preciosa imortal toda poderosa, antiga cidade celeste com nove jóias, construída por Vishnu."

Esta "cidade dos anjos" é relativamente recente, tem apenas 200 anos pois neste ano de 1982 festejam os tailandeses o bicentenário da sua capital. Grandes festividades se anunciam para comemorar o facto.

/ pág. 22 / Antes de se tornar capital, Bangkok era uma calma vila de pescadores na margem esquerda do já citado rio Chao Phya, cercada por uma estratégica fortaleza, construída no século 17 para proteger a então capital Ayutthaya, situada a cerca de quarenta quilómetros a montante no rio, contra possíveis invasões marítimas. Isto pode ver-se num mapa do século 18, denominado "carte du cours du Menan, depuis Siam jusqu"a la Mer" (mapa do percurso do Menan, desde Siam até ao mar), em que se verifica estar a então vila de Bangkok a um terço do caminho subindo pelo rio, para a "cidade do Siam" ou Ayutthaya.

Como se vê a capital de então, Ayutthaya, era mais conhecida por "cidade do Siam", daí porque a Tailândia foi muito tempo conhecida por Siam ou Sião. Seria o rei Rama I (1782 a 1809), primeiro monarca da dinastia Chakri, que passaria a capital para Bangkok. Este rei do Sião, monarca decidido e decisivo para uma fase progressista na vida da Tailândia, é retratado no filme "O rei e eu", protagonizado pelo "careca" Yul Brynner, de que os cinéfilos devem estar lembrados.

Já que falámos em filmes, acresce também anotar que a célebre batalha do Rio Kwai, de que foi feito um filme tirado do romance de Pierre Boule "A ponte do rio Kwai", se travou a cerca de 120 quilómetros a nordeste de Bangkok. O filme conta os sofrimentos por que passaram os prisio­neiros de guerra que construíram a ponte hoje célebre. Não se trata de pura ficção, pois os cemitérios militares de Kanchanaburi, localidade onde a ponte se situa, não escondem a realidade; ali estão alinhadas mais de 8.000 tumbas de prisioneiros e soldados australianos, birmaneses, britânicos, canadianos, holandeses, indianos, malaios e / pág. 23 / neozelandeses, que encontraram a morte durante a construção do caminho de ferro entre a Birmânia e o Sião. A ponte, restaurada depois da guerra, é ainda utilizada pelo comboio duas vezes por dia, pode-se ainda percorre-la a pé como fazem os autóctones e em caso, pouco provável, de vir um comboio, haverá que refugiar-se numa das plataformas previstas para o efeito.

Voltando a Bangkok, quando nesta cidade se fala, logo qualquer um pensa em massagens, as tão conhecidas e célebres massagens tailandesas. E para isto vem à baila o nome Patpong (I e II), duas pequenas ruas, que pertencem ao industrial Patano Pongpanit, donde o abreviado Patpong e que se situam entre as principais artérias Silom Road e Suriwong Road. Em Patpong, os cabarés, bares, night clubes, os cocktailloundges, os salões de massagens, banhos turcos, são de enfiada. É um local que é necessário ver, se não experimentar, pelo menos como fenómeno sociológico. A estes salões de massagens nos referiremos em próxima crónica...


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