Falar da
Tailândia é falar de Bangkok. Estou convencido aliás que para muitos
a Tailândia é só Bangkok, ou ainda até que, para muitos outros, só
Bangkok é conhecido, não a ligam à Tailândia. Se ao falar na
Tailândia há muita gente que a não localiza, o mesmo não acontecerá
com o nome Bangkok, que de Munique a Melbourn não haverá quem não
conheça esta cidade, que com HongKong e Singapura rivaliza no
tocante a turismo na Ásia do Leste.
Quando se fala em
Bangkok, logo se exclama "Ah! Bangkok...", ficando-se pelas
reticências; e nas reticências vai todo um mundo de mistério, de
fascinação, de vegetação luxuriante, pensa-se de imediato nas
raparigas de olhos negros e amendoados, cabelos de azeviche, sorriso
sempre nos lábios, dóceis, feitas para agradar, etc., etc.,. Mas lá
chegaremos...
Falar da
Tailândia é pois falar de Bangkok, isto porque, na verdade, tudo ali
se converge, em matéria não só de indústria, comércio, turismo, como
de aglomerado humano, pois que derivado daqueles.
Bangkok é só 45
vezes maior que a segunda cidade, Chiang Mai de seu nome, que aliás
dizem ser muito interessante, mas que não visitei, com alguma pena.
No último consenso, fala-se em mais de 5 milhões de habitantes,
estes os que conseguiram "localizar", pois mais uns milhares haverá
dispersos pelas muitas barracas que pululam por todo o emaranhado de
canais de que Bangkok é fértil. O
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facto da cidade ter imensos destes canais (klong em língua local)
leva a ser considerada como a Veneza do Leste.
A cidade, embora
com alguns edifícios altos, é no entanto bastante dispersa, com
muitos espaços verdes; e assim estes cinco milhões espalham-se por
cerca de 6.000 quilómetros quadrados, o que é considerável se
compararmos com os 1.700 que tem Paris, para nós já uma cidade
enorme.
Para se ver que o
"mundo" na Tailândia está "todo" em Bangkok, basta referir-se que
dos veículos registados no país, 90% são-no em Bangkok. Cada ano
cerca de um milhão e meio de turistas e homens de negócios passam
pelas camas de 13.000 quartos de hotel que Bangkok possui.
Alguns escritores
ilustres que visitaram Bangkok, entre eles os conhecidos Somerset
Maugham e Joseph Conrad, hospedados no Oriental Hotel que ainda hoje
existe, assombrados e deliciados, descreveram em crónicas as suas
reacções a esta capital, uma cidade localizada nas pujantes
margens do rio Chao Phya, uma cidade onde abundam fabulosos
templos que justificam o ressonante nome "thaí" de: "Krunghhep
Mahanakorn Amomratanakosin Mahin traayutthayamahadilok Pob noporat
Rachatani Burirom Udom Ratchaniwet Mahastam Amornprimarn
Awataarnsatit Sakkathatiya Vishnukamprasit" (uf!...) o que,
traduzido para língua digerível, corresponde a: "Cidade dos Anjos, a
maior das cidades, jóia preciosa imortal toda poderosa, antiga
cidade celeste com nove jóias, construída por Vishnu."
Esta "cidade dos
anjos" é relativamente recente, tem apenas 200 anos pois neste ano
de 1982 festejam os tailandeses o bicentenário da sua capital.
Grandes festividades se anunciam para comemorar o facto.
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Antes de se tornar capital, Bangkok
era uma calma vila de pescadores na margem esquerda do já citado rio
Chao Phya, cercada por uma estratégica fortaleza, construída no
século 17 para proteger a então capital Ayutthaya, situada a cerca
de quarenta quilómetros a montante no rio, contra possíveis invasões
marítimas. Isto pode ver-se num mapa do século 18, denominado "carte
du cours du Menan, depuis Siam jusqu"a la Mer" (mapa do percurso
do Menan, desde Siam até ao mar), em que se verifica estar a então
vila de Bangkok a um terço do caminho subindo pelo rio, para a
"cidade do Siam" ou Ayutthaya.
Como se vê a
capital de então, Ayutthaya, era mais conhecida por "cidade do Siam",
daí porque a Tailândia foi muito tempo conhecida por Siam ou Sião.
Seria o rei Rama I (1782 a 1809), primeiro monarca da dinastia
Chakri, que passaria a capital para Bangkok. Este rei do Sião,
monarca decidido e decisivo para uma fase progressista na vida da
Tailândia, é retratado no filme "O rei e eu", protagonizado pelo
"careca" Yul Brynner, de que os cinéfilos devem estar lembrados.
Já que falámos em
filmes, acresce também anotar que a célebre batalha do Rio Kwai, de
que foi feito um filme tirado do romance de Pierre Boule "A ponte
do rio Kwai", se travou a cerca de 120 quilómetros a nordeste de
Bangkok. O filme conta os sofrimentos por que passaram os
prisioneiros de guerra que construíram a ponte hoje célebre. Não se
trata de pura ficção, pois os cemitérios militares de Kanchanaburi,
localidade onde a ponte se situa, não escondem a realidade; ali
estão alinhadas mais de 8.000 tumbas de prisioneiros e soldados
australianos, birmaneses, britânicos, canadianos, holandeses,
indianos, malaios e
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neozelandeses, que encontraram a morte durante a construção
do caminho de ferro entre a Birmânia e o Sião. A ponte, restaurada
depois da guerra, é ainda utilizada pelo comboio duas vezes por dia,
pode-se ainda percorre-la a pé como fazem os autóctones e em caso,
pouco provável, de vir um comboio, haverá que refugiar-se numa das
plataformas previstas para o efeito.
Voltando a
Bangkok, quando nesta cidade se fala, logo qualquer um pensa em
massagens, as tão conhecidas e célebres massagens tailandesas. E
para isto vem à baila o nome Patpong (I e II), duas pequenas ruas,
que pertencem ao industrial Patano Pongpanit, donde o abreviado
Patpong e que se situam entre as principais artérias Silom Road e
Suriwong Road. Em Patpong, os cabarés, bares, night clubes, os
cocktailloundges, os salões de massagens, banhos turcos, são de
enfiada. É um local que é necessário ver, se não experimentar, pelo
menos como fenómeno sociológico. A estes salões de massagens nos
referiremos em próxima crónica... |