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Nos finais
de Setembro de 1471, vitorioso da terceira campanha em
Marrocos, D. Afonso V, acompanhado pelo príncipe D. João, seu
filho, regressava em glória ao Reino; desembarcou em Lisboa,
onde foi recebido com grandes mostras de regozijo. A princesa
D. Joana, filha de el-rei, acompanhada pela tia materna, a
infanta D. Filipa, e por toda a sua Casa de donzelas, damas e
fidalgos, desceu até junto do rio Tejo, para a cerimónia da
recepção. Com ela, estavam altos dignitários da Igreja,
nomeadamente D. Jorge da Costa, então arcebispo de Lisboa,
depois de ter sido bispo de Évora. Nascido em 1406 na vila de
Alpedrinha — nome por que ficou conhecido — terminaria os seus
dias em Roma, com cento e dois anos de idade. |
Foi um dos
prelados mais notáveis da Igreja Católica, nos finais do
século XV e princípios do seguinte. Na Corte de D. Afonso V,
alcançou grande influência pelo prestígio que lhe resultava da
sua invulgar formação intelectual e humana, do seu seguro
critério, da sua extraordinária perspicácia e das suas
qualidades de diplomata.
Porque o
príncipe D. João não levasse a bem a sua interferência no
ânimo do pai, D. Jorge da Costa, embora já contasse setenta e
três anos de idade, decidiu retirar-se para Roma, aonde chegou
em 14 de Julho de 1479. Logo obteve grande preponderância na
Corte Pontifícia, a ponto de ser camerlengo do Colégio
Cardinalício e de conviver com os papas Sisto IV, Inocêncio
VIII, Alexandre VI, Pio III e Júlio II, tornando-se uma
figura-chave e um verdadeiro árbitro em muitos negócios,
particularmente dos que respeitavam ao nosso país. Há mesmo
quem lhe atribua a influência decisiva na demarcação da linha
dos descobrimentos e conquistas entre Portugal e Espanha,
estabelecida pela bula pontifícia "InterCaetera", de 4 de Maio
de 1493, e ratificada em 1494 pelos respectivos soberanos no
Tratado de Tordesilhas.
Participou
em quatro conclaves e neles se tornou notória a sua
intervenção, tendo estado na iminência de ser eleito quando,
em 1492, Alexandre VI foi escolhido como papa. Conta-se também
que, eleito Júlio II em 1503,e indo D. Jorge prestar-lhe
homenagem, o novo pontífice ter-lhe-á dito: — "Amigo, esta
cadeira a vós se devia e vós ma destes; eu serei papa no nome
e vós na realidade". Muitas das rendas que obteve gastou-as no
culto divino, na protecção e apoio de vários estudantes e
familiares para a sua formação universitária e na caridade em
favor dos necessitados, a quem proporcionava asilo no seu
palácio. Alguns anos antes de morrer, renunciou a quase todos
os benefícios.
Desde 1488,
o cardeal D. Jorge da Costa residiu num palácio construído na
primeira metade do século XV, sito no ângulo formado pela via
do Corso e a praça de S. Lourenço in Lucina e adossado à
igreja deste Titular — o palácio Fiano (hoje chamado Almagià).
Junto, e sobre a via do Corso, existiu o demolido arco de
triunfo do imperador Domiciano, que, em homenagem do mesmo
prelado, se passou a chamar "Arco di Portogallo" — Arco de
Portugal.
O seu
óbito, em 19 de Setembro de 1508, constituiu um acontecimento
que enlutou a Cúria Pontifícia e toda a cidade de Roma; os
restos mortais jazem na capela de Santa Catarina, a quarta à
direita de quem entra, da formosa e multissecular igreja de
Santa Maria del Pópolo. Ainda em vida, o cardeal português aí
mandou fazer artisticamente o próprio túmulo com estátua
jacente. Obedecendo ao seu testamento, lavrado em 1492, a
considerável fortuna, de que dispunha, em 1515, foi atribuída
pelo papa Leão X ao nosso rei D. Manuel I, a fim de prosseguir
na cruzada contra os infiéis, reservando um quinto para a
construção da basílica de S. Pedro, iniciada por Júlio II;
também foram beneficiados alguns conventos, igrejas e capelas.
Os bens restantes seriam distribuídos pelas noivas sem dote,
pelos cativos a remir, pelas obras pias e pelos pobres.
Se eu
recordo nestas colunas o cardeal D. Jorge da Costa — depois de
o ter evocado em Roma no passado mês de Junho — é porque ele
foi o arcebispo de Lisboa durante os anos da adolescência e da
juventude da princesa Santa Joana. Admirando o seu retrato no
Painel do Arcebispo, saído do génio artístico de Nuno
Gonçalves, passando junto do palácio Almagià onde viveu e
peregrinando até ao túmulo que guarda os seus restos mortais,
um português não pode deixar de se emocionar com um
extraordinário compatriota... e um aveirense rememorará
naturalmente a sua inesquecível diocesana, a nossa Padroeira.
João
Gonçalves Gaspar
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«Não se esqueça de
Fátima.»
Na
audiência geral do dia 20 de Julho, Bento XVI saudou
Monsenhor João Gaspar. O vigário geral da diocese disse ao
Papa que provinha de Aveiro, «entre o Porto e Coimbra», e
acrescentou: «Não se esqueça de Fátima!»
Bento XVI,
«meio português, meio em italiano», como disse Monsenhor
ao "Correio do Vouga", afirmou sorrindo: «Já falei de
Fátima no Brasil.» |
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