Da esquerda para a direita: Alice Pinho, Cecília Sacramento e Gaspar Albino.


Meus, amigos, apesar de nunca ter sido aluno desta escola, estou numa sala onde efectuei duas provas. A minha foi a «Escola Industrial e Comercial de Aveiro», onde fui aluno de Cecília Sacramento. Estou  aqui em representação do Aveiro/Arte.

Deixai-me que vos repita alguma coisa do que disse no passado dia 15 de Abril, por altura de uma homenagem feita a Jaime Borges. A certa altura, deparei-me a dizer que, quer eu, quer Jaime Borges e outros que aqui estão, fomos fruto de Cecília Sacramento. E atrevo-me a dizer mais. Falou-se aqui muito de Cecília Sacramento enquanto escritora, mas não se falou da outra obra que ela foi escrevendo ao longo dos anos, que ela foi esculpindo nas nossas cabeças, moldando-nos uma forma correcta de estar na vida. Essa obra não está em livro, mas permanece sempre dentro de nós.

Aveiro/Arte, o CETA, tantas experiências que fizemos, tudo isto resultou da capacidade de interrogação que ela nos foi imprimindo na nossa fase colectiva de estudantes. Eu aprendi a declinar o «rosa, rosae»  tinha eu uns dez ou onze anos, nas aulas de Cecília Sacramento. E aprendi depois o «quantum satis» ['quanto basta'] que me havia de preparar em Direito (...) com um homem deste distrito de Aveiro, que foi reitor nesta escola, o meu grande amigo e saudoso Dr. José Pereira Tavares.

Eu não sei se o «quantum satis» não deveria ter salpicado o «rosa, rosae» de Cecília Sacramento. Mas o cheiro verdadeiro da rosa, essa ficou-me por conta do eco, que não era o do Umberto, era o de Cecília Sacramento.

Meus amigos, dou comigo a falar em nome do Aveiro/Arte em honra de Cecília Sacramento. E peço autorização ao Artur Fino, ao Jaime Borges, para falarmos mais de Cecília Sacramento, de tudo aquilo que ela nos deu, do que falar do Aveiro/Arte, porque deste me custa um bocado a falar. E sabeis porquê?

Placa com o rosto de José Pereira Tavares oferecida  a Cecília Sacramento por Gaspar Albino.

Porque consta dos estatutos do Aveiro/Arte que deveríamos ser sempre irreverentes, deveríamos ser sempre provocadores, que deveríamos ser sempre a antítese daquilo que é instituição. E, no ano passado, fomos objecto de homenagem pública. Isto cheira-me a bolor! Hoje, outra homenagem. Mais bolor ainda. Onde está a nossa irreverência? Onde está o nosso espírito de provocação que a D. Cecília Sacramento nos ensinou? Onde está isso? Teremos de ir cavando nestas memórias que nos vão deixando, cavando até encontrarmos nós as raízes que devemos formar para nos tornarmos mais provocadores, e, se possível, mais jovens, por conta da juventude eterna de Cecília Sacramento.

 Cecília Sacramento          AVEIRO/ARTE

Palavras de C. Sacramento          Palavras de G. Albino

Intervenção de A. Martins

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