No mesmo formato das publicações anteriores, ou seja, com as dimensões
de 125x190 mm e cerca de 200 páginas, este local de macieiras poéticas
está dividido em oito partes, cada uma delas bem recheada de apetitosas
maçãs, que seguramente farão crescer água na boca àqueles que apreciam
navegar no universo poético das palavras. Este é o número 6 da colecção Poiesis, da editora leiriense «Hora de Ler».
Não podemos afirmar que o livro está profusamente ilustrado, mas podemos
dizer que uma vez mais ficamos sem saber a quem se devem as ilustrações
que vamos encontrando, disseminadas no livro, geralmente nos começos de
cada uma das oito partes em que ele se divide. E preto sobre preto é
ilegível, a menos que consigamos que as letras pretas da preta capa
sejam reflectidas por um raio de luz. E com uma boa dose de paciência,
que nem sempre é atributo da mortal gente, o texto «demi-caché»
(bastante mais sonante que «camuflado») poderá ser lido.
Já agora, se gostam mesmo de poesia e estão familiarizados com a escrita
poética de portugueses de gerações que já lá vão, leiam o texto da
página 111. Talvez ele vos faça evocar um português que viveu neste minúsculo País de
marinheiros, e que o seu País evoca nos versos que escreveu. Não de
forma pessimista, mas de modo a espicaçar a vontade de viajarmos e
ficarmos a conhecê-lo.
Eu fui um dos
que teve a sorte de conhecer o poeta em miúdo. Não pessoalmente, mas
«SÓ» através da poesia que ele escreveu. E apesar de ser um miúdo, li-o
«SÓ», encantado com o universo que ele me permitia conhecer pela força
imaginativa das palavras, mas também ajudado pelas imagens de uma edição
de 1913, magnificamente ilustrada, que existia na biblioteca do meu avô
materno, livro que ainda hoje conservo como uma preciosidade, ao lado
de outras árvores escritas da mesma época, guardadas a um canto da
prateleira superior da estante do meu escritório. Mas esta é uma
preciosidade diferente de outras, muito mais preciosa na medida em que
conserva, por cima do nome de António Nobre, a assinatura com o nome
completo do meu avô Chico.
Infelizmente, para o miúdo que eu era, a árvore secou pelos meus 10
anos. E não mais pude apreciar as delícias do quintal do meu avô e as
carícias que ele me prodigalizava. Tudo isto em terra de algumas
macieiras, mas sobretudo de oliveiras. E ainda hoje guardo, no quintal
vizinho que na minha memória se mantém, não a macieira que lá não havia,
mas a magnífica figueira para a qual trepava feito macaco e que me
brindava com uns figos suculentos, verdadeiro melaço, que até a
passarada sabia apreciar. Mas isto são árvores que há muito secaram.
Como por enquanto nos vamos limitando a respigar uma ou outra maçã,
ainda não sabemos se alguma imagem irá acompanhar os textos que iremos
eleger. A ver vamos, como dizia o cego.
Contentem-se com a amostragem fornecida e cliquem nas
hiperligações que estejam a cores. Se ficarem com apetite para mais, na
Ficha Técnica encontram como encomendar um volume e dele colher os
frutos das macieiras que Carlos Lopes semeou.
Aveiro, 2 de Outubro de 2021
H. J. C. O. |