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Luís Jordão


pensamentos e imagens
no alfange alentejano

 

             1

 

Antes era a secura.

Agora água,

muita água,

parada,

espelhada,

reflectindo o voo dos pássaros,

as nuvens

e o sol que se põe.

 

             2

 

Nem a força escura

das pedras do castelo,

nem a brancura imaculada

do casario,

nem o colorido

das flores que despontam,

nem a cálida e doce

aragem primaveril

que me envolve,

conseguem despertar-me

desta desmedida indiferença.

Hoje.

 

             3

 

O silencio da noite

adiantada e da solidão

sabe-me bem.

Nesta casa

as recordações,

em catadupa,

chegando e partindo

sem cerimónia,

são companhia bastante.

 

             4

 

Está chegando a madrugada.

Hoje,

de certeza,

não ouvirei o galo

nem o burro

no quintal da travessa dos currais,

nas traseiras da minha casa.

Só aquela maldita motorizada.

 

             5

 

E o vinho,

os livros e o lume na lareira,

meus companheiros

e amigos

de alegrias e tristezas,

em tantas noites

de encontros interiores.

Cá estão eles,

como sempre irredutíveis,

fieis.

 

             6

 

Agricultor

em terra de mineiros

onde minério já não há.

Guerreiro

de rosto tisnado

lavrado pelo tempo.

Em cada ruga

a história de uma luta.

Na profundeza do olhar

um rol de sonhos por cumprir.

 

Luís Jordão

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