é uma linha
imaginária
chamaram-lhe fronteira
do
lado de lá
o
fascismo em armas musculado e cruel
do
outro
o de
cá
o
mesmo mas encapotado
brandos costumes
do lado de
cá da fronteira
alguns
resistentes sérios
generosos e sabedores
acobertam refugiados
acreditando que outro futuro é possível
metralha e barbárie
do lado de
lá da fronteira
violência
violações
razia
e medo
fome
e uma
revolta sem paralelo
fátima
a poente da
fronteira
hipócritas orações
para
uns barriga cheia
para
outros
quase
todos
frustração e fome de tudo
estremadura e andaluzia
para além
da fronteira
meus
irmãos
aqui
tão perto
raiva
e morte
traições
e um
horizonte tão negro
rio
escondido
atravessando a fronteira
guadiana
vindo
de espanha
trazendo sangue e mágoa
flagelado alfange alentejano
luta
em surdina
e um
abril tardando
dos dois lados da fronteira
Luís Jordão /
Ilustração: António Galvão |